quinta-feira, dezembro 29, 2005

e se de repente...

me apetecer organizar um jantar do blog.
simplesmente porque me apetece estar convosco, partilhar com todos vocês o sorriso que sei que têm,que sei que tenho, mas que alguns de vocês nunca viram pois ainda não se conhecem entre sí pessoalmente, apesar de já se irem conhecendo, por partilharem pedacinhos neste bosque feito de palavras.
Aceitam-se sugestões, tinha pensado faze-lo no pátio das cantigas ou no dolcevita num sábado à noite, visto que alguns de vocês estudam fora de leiria .
Acho que irá ser um momento giro.
que acham da ideia???

terça-feira, dezembro 27, 2005

DESABAFO

Olho-me ao espelho e as vezes não me vejo...
Os meus olhos as vezes perecem ter perdido o seu fulgor como se o glocoma de que sofro fosse um perder de brilho, um perder de luz, um perder de alma.
O meu cabelo que antes era encaracolado e farto agora é escasso e no que ficou da testa calva começa a aparecer donde a o branco neve dos anos.
As minhas mãos que antes temiam largar a areia do tempo e se apertavam no vazio, hoje já se conformaram com o facto de estarem sempre a perder, sempre a ver partir e eu já quase me entretenho com o passar da vida, com esse dedilhar do pó por entre os dedos.
Hoje olho aquilo que escrevi, pedaços do que fui, do que me dei, do que senti, restícios das vezes em que amei e não disse e, mais do que a angustia de não o ter dito sentia, vivo sobretudo a tortura de já não ter a pureza de quem ama alguém como o fiz da primeira vez, de não conseguir beijar da mesma forma inocente com que dei o primeiro beijo, de não conseguir escrever da mesma forma pura como escrevia outrora, de não conseguir sentir como senti da primeira vez.
Hoje habituei-me a estar aqui e não estar aqui ao mesmo tempo, habituei-me a este olhar distante, perdido, habituei-me a não sentir, a não gritar, a não chorar a não sofrer, não porque não sofra, mas porque os anos nos dão uma anestesia especial, quase viril.
Hoje olho as pessoas que amei e a quem não disse que o fazia não como a querer te-las de volta para mim, mas como mulheres que são, empenhadas nos cursos que tem, no trabalho que fazem, nos filhos que criaram e já não consigo sentir que as perdi, mas apenas que a paternidade, o amor e quem sabe o sonho são projectos talvez para um amanha que pode não acontecer.
Hoje vejo o meus irmãos, e os meus amigos a namorar e a serem felizes nessa batalha incerta que é a vida e pergunto-me qual a minha definição do conceito do próprio sentimento , sem me atrever a dizer que me arrependo de buscar o sonho onde as vezes ele não está.
Hoje como sempre vejo a minha casa sobretudo como uma jaula, uma gaiola, uma grilheta em forma de prestação mensal que me impede de mudar de rumo, mudar de vida, mudar de país.
Hoje vejo a natal pelas prendas e carinhos que dei aos outros mas confesso gostava de ser um bebé, uma criança para estar delirante com os brinquedos, os legos, os lápis de cor, os puzzles..aquele livro,. quem será que pensa que um biblot lá para a casinha, uma peça de roupa ou um perfume nos fazem sonhar .
Hoje só sei sentir este cansaço, aquele cansaço que está entranhado em mim e que se prolonga além das férias, além dos fins de semana, como se o coração aperta-se.
Hoje sei que há muito do que sinto que perdi a forma de dizer, muitas palavras que deixei de saber exprimir, sonhos que deixei de sentir, lutas que deixei de querer travar.
Hoje apesar de tudo isto... porque o silencio ainda doi digo-vos acima de tudo que vos adoro e que é bom ver-vos neste espaço, nesta dimensão qualquer transcendental em que ainda sou.
BEM AJAM AMIGOS

sábado, dezembro 24, 2005

Bom natal amigos


Com este post quero apenas desejar-vos uma noite de natal cheia de tudo de bom e um hiper ano de 2006 .
Adoro-vos amigos

quarta-feira, dezembro 21, 2005

BOAS FESTAS AMIGOS

Amigos
Este é provavelmente o último post que escrevo antes do natal.
Nos próximos dias é tempo para estar com a família, estar pessoalmente com vocês, tentar conhecer alguns de vocês que ainda não tive o prazer de ver pessoalmente.
Nos próximos dias é tempo de me deixar ronronar como os gatos, de saborear o cantinho da lareira, de deixar as teclas e quem sabe usar o moleskine e a caneta que me ofereceram nos anos e passar a fazer festinhas no papel.
Nos próximos dias é tempo de fazer sonhar alguém que nunca vi e quem sabe nunca verei com uma prendinha só porque numa loja ouvi alguém dizer que o miúdo x da rua xpto este ano, como a vida está má, não iria receber qualquer prenda no natal... e acreditem nem sequer vou querer estar lá para ver os seus olhos brilhar, pois essa luz é algo que só a ele pertence.
Nos próximos dias é tempo de fazer como sempre faço e oferecer um café quentinho ao meu amigo indiano vendedor de flores e sentir-me reconfortado por isso.
Nos próximos dias é acima de tudo tempo de vos dizer a todos, amigos ou família, pessoalmente, por telefone ou sms, que amo estar com vocês e que vocês são muito importantes na minha vida, nos meus dias.
Mas nos próximos dias é também tempo de fazer o backup ao ano de 2005, de avaliar o que está bom e mau em mim, por forma a assegurar que estarei melhor no ano que há-de vir.
Porque essa necessidade de Backup me fez pensar num texto de Eduardo Prado Coelho que li no Público chamado Construir um país achei que o devia partilhar convosco.


«...
Precisa-se de matéria prima para construir um País
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo.
Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais o que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.
Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.
Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós,ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte... Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhandocom a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro...
Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você, o que pensa?.... MEDITE!...»


Sei que se depender de vocês 2006 será grande .
BOAS FESTAS

domingo, dezembro 18, 2005

eu


Amigos...
este é o meu primeiro post desde que vim de férias.
Na Suiça cimentei a ideia de que a partilha de sentimentos e sonhos é o que nos move e experimentei aquilo a que posso chamar a solidariedade luzitana além fronteiras. é giro como o longe parece de repente tão perto .
Adorei a forma como eu e a minha grande amiga Sonia fomos recebidos pela família dela, adorei a simpatia que todos mostraram, adorei conhecer o Micael, o Marco o Hugo e o Filipe, adorei a hospitalidade e simpatia da Aida, do Luis, da Bela e dos pais do Filipe... e sobretudo adorei estar com a Sónia mais do que os trinta minutos da praxe (ela percebe) e a forma como ela e a familia dela se mantém unidos apesar dos quilómetros.
Amei saber que mesmo comigo fora alguns de vocés continuaram a vir aqui e a deixar o vosso testemunho, amei o facto de alguns de vocés terem mandado sms e mantido o contacto...
precisava que soubessem que vos estou grato por isso e pela honra que é conhecer-vos.
Quanto a viagem quero dizer-vos que descansei muito, que o branco da neve é algo imperdível, algo que nos limpa a alma e acende a vontade de sonhar, e que Genebra é algo mágico, uma cidade cheia de histórias encantos e recantos.
sinto-me limpo e rejuvenescido e agora que o estou vão ver que vão nascer novos poemas e novos sonhos para contar.
bem ajam amigos

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Porque

Porque esta noite não me apetece sequer ver televisão.
Porque a mãe terra jaz esquecida e moribunda
e se revolta em furacões, sismos, cheias convulsões
mas Quioto e o Rio são acordos que não passam do papel

Porque no Paquistão ou em Darfur faz frio ou neva,
e não chega ajuda que dê tecto aquelas gentes
mas os grandes EUA investiram milhões
só na propaganda das ultimas eleições

Porque este natal há um anuncio que passa na tv
que te diz que tens de ter um mazzerrati, aquele relógio,
o computador X.P.T.O, ou outros gadjets
mas não há nenhum que te ensine a ser

Porque te dizem como ter um toque sex-appeal
mas ninguém te ensina a perceber
que há crianças que no natal
não vão ter pão sequer para receber

Porque os sonhos das crianças do Iraque
são acordados por militares de uma tal coligação
em que os senhores do mundo subsistem
a dizer que são senhores do que existe

Porque o mister Bush insiste em desenhar eixos no nada
fomentando divisões, duras alucinações de um país
que sem armas não tem passado para viver
...histórias para contar ....

Porque a Europa é uma desilusão
e só a economia ilustra e deslustra a coesão
e o saber ser das nações vai sendo suplantado
por tratados gerais estéreis de significado

Porque te dizem que para triunfares
deves esquecer o teu passado
para seres um hippie in, boy in,
cidadão made in CE plastificado

Porque cá dentro do país...tudo na mesma
Até a lesma coitada já se cansou de ser comparada a situação
e o cavaco e o soares dizem ser salvadores pródigos da nação
mas não percebem nada das dores que temos dia a dia

Porque seja qual for o “dom sebastião”
o desemprego continua a aumentar
e a esperança, essa coitada, diminui
à medida que aumenta atrozmente a inflação

Porque só somos os campeões europeus
no contagio pela sida, no analfabetismo
na violência doméstica e noutras coisas tais
e estamos cada vez mais perto da cauda da Europa

Porque para os média e alguns políticos o que importa
é que o Benfica o Sporting, ou o Porto
vençam o manchester, ou o inter de milão
Assim o povinho continua sem pensar na revolução

Porque na minha cidade há lojas e lojas
Shooping centers, discotecas e fun centers
Macdonnals, continente... está tudo cá
mas cultura é cada vez mais uma miragem

Porque todos os dias há mais um
que busca no pó, na “branca” uma alegria
E se esquece das alegrias que já moraram
no seu sorriso, no seu olhar

Porque dentro de mim há tudo isto
uma dor que se alimenta
letalmente como que um quisto
eu vou todos os dias morrendo no papel

Porque com isto, por tudo isto sei que sou louco
mas enquanto escrevo, nasço, renasço e morro
corroo-me, sofro mas não desisto
e insisto, não me conformo

sábado, dezembro 03, 2005

Em busca de uma lua qualquer


Porque hoje apenas me apetecia ser livre e voar até a lua até um universo qualquer sem palavras... só com sentimentos, só com sonhos... porque hoje me apetecia que o meu corpo não pesa-se... mas sobretudo porque não encontro outra forma de dizer que vos adoro..
bem ajam AMIGOS

terça-feira, novembro 29, 2005

Fado ou a minha forma de ser ... Português

Há qualquer coisa em nós...
algo que se perdeu nos dias...
um sentimento qualquer
de quem sonha o mundo
e acorda num quarto vazio
um grito qualquer de grifo
que ficou por gritar,

Há qualquer coisa em nós,
algo inapalpável, algo nu,
como uma tela branca,
nua de cores, nua de formas,
godets vazios de um céu vazio
qualquer de tintas por explicar,
uma guitarra qualquer esquecida
perdida, parada no tempo

Há qualquer coisa em nós
que não sei explicar
uma vontade infindável
de pertencermos a algo,
de entrelaçarmos amarras
uma necessidade imensa de partir
vela ao vento asteada num veleiro
no cais esquecido pelos anos

Há qualquer coisa em nós
qualquer coisa estranha
um rubor qualquer de pele
que permanece quedo
longe do toque,
um gesto doce e afável
que contivemos
um beijo quente
que ansiamos dar
por um instante...sem o fazer

Há qualquer coisa em nós
Qualquer coisa que é palavra sem o ser
Uma dor intensa que não dói
Um vazio qualquer breve
que não queremos preencher
Uma saudade intensa
Sem ausência
Um poema, uma canção
Uma alvorada

Há qualquer coisa em nós
Que nos fez ser mareantes
Sem temermos o fim do mapa
Mas que nos faz ter medo do futuro
Que nos fez andar aqui,
ai e em toda a parte
Ante e além navios
Sem que pudéssemos pertencer
a parte alguma.

Há qualquer coisa em nós
Que é Severa,
Que é Amália
Que é Bocage
Que é Salgueiro Maia
Que é Eusébio
Que é Santana
O velho homem das castanhas
Ou mesmo o nada

Duas mãos quaisquer
amando apaixonadamente
uma guitarra
um voo que é dado
no céu de um papel
tudo isto é um grito hirto
vindo da alma...
tudo isto é ser português
tudo isto é o meu fado

sexta-feira, novembro 25, 2005

Bom fim de semana

Porque hoje apetece-me ser simples.
Porque o grito, o sopro e a voz se encontram encantados na amizade que têm por mim.
Porque estou enternecido com o vosso carinho e o vosso apoio.
Porque há sentimentos que não podem ser traduzidos em palavras, sonhos maiores do que este céu de letras onde deixo pedaços dos meus dias.
Hoje apetece-me deixar-vos uma frase que alguem me disse um dia, numa daquelas tardes em que a espera se prolongou sem tempo...

"tu não estás só... o teu corpo pode estar só.... a tua alma não"...

Espero que um dia as almas possam andar nuas, sem as máscaras e roupagens dos corpos, como se todos fossemos entes de luz e de sonho.
beijo para quem for de beijo, abraço para quem for de abraço,os dois para quem souber o bom da vida.
bom fim de semana

quarta-feira, novembro 23, 2005

Pois é estou mais velho...

Tenho o dobro de 15 anos e metade de 60... poderia dizer que tenho um quarto de 120 mas não me atrevo a entrar nesses filmes...
Está-me a saber bem ter 30 anos.
Sinto-me como se tivesse reinventado em mim algo que tinha esuqecido, como se tivesse conseguido recuperar um pedacinho da pureza que achava perdida, como se estivesse um bocadinho mais perto da luz...
E eu que andava a deprimir... serio ... os últimos dias dos 29 anos estavam a custar-me, parecia que me estava a condenar a ser um “cota”... já me imaginava acabado, conformado e outros ...ado(s) de quem nem me apetece falar.
Mas a entrada nos 30 anos não foi nada pesada... muito pelo contrário, foi bastante leve, e não estou a falar da ajudinha que os dois beirões e os dois shoots me deram ( Jessica e Diana - obrigado pelo convite para sair e pela motivação para que não bebesse o tradicional café au lait; pessoal do mood – grande bar- obrigado pelos shoots e pela vossa companhia a bebe-los), Tratou-se mais de uma libertação, tratou-se de ter recomeçado a sentir a vida a pulsar em mim, de ter conseguido relaxar.
Há uns tempos para cá andava nostálgico e tenso sem saber porque, (mesmo no te-ato e nos exercícios de relaxamento tinha uma tensão interior tão grande que era capaz de moer a paciência ao encenador).... parecia que o mundo estava a acabar-se aos meus olhos.
Depois e com a ajuda de amigos como a Diana, a Catarina, a Inés , a Mauy, o Bruno, A Ana João, a Ana Teresa, a Sabine, sem esquecer a Carla (que ainda não conheço mas que espero vir a conhecer) e claro alguns outros, também especiais. que ainda não conhecem porque ainda não vieram ao blog e não postaram nele, mas que sei que estão comigo, percebi que estava a fazer uma tempestade num copo de água e sem qualquer razão para tal. Afinal e como disse o gerente do mood , “ter 30 anos é ter 15 com porquês” isto é, é saborear a vida, saborear o sonho, saborear as formas com que nos vamos prendendo aos outros, sabendo que o fazemos e quais as dimensões mágicas desses enredos, duma forma responsável sim mas tão intensa como outrora.
Agradeço-vos a todos, aos que cá vem e comentam, aos que não comentam, aqueles que não vem cá mas que sãomeus amigos e estão comigo no dia a dia, os votos de parabéns, mas sobretudo o facto de partilharem comigo esta aventura do quotidiano.
Agradeço-vos as vossas opiniões, comentários, críticas, a vossa pertilha dos sonhos... deixam-me mais rico, mais vivo, mais solto.
Bem, hajam

segunda-feira, novembro 21, 2005

gaivota..

porque o blog da carla me fez pensar num poema que escrevi há uns tempos.

Na esperança de que sejamos todos gaivotas, areia, céu e mar.
boa semana.
começo a sentir o turpor da idade...



Gaivota...

Se fosses gaivota branca...
voando no azul celeste,
bailarias no espaço...
inócuo da existência
serias livre , solta a musa
a verdadeira reencarnação da luz
dessa luz solar profunda
que se reflectiria sob as tuas asas
levando-te a bailar ...
como se de repente...
abraçasses o infinito
num gesto imenso e suave
... tão suave
como se seduzisses ,
como se iluminasses
se tu fosses realmente...
gaivota branca
meus sonhos seriam o céu ...
em que habitavas
meu corpo ...os minúsculos ...
graus de areia em que tocarias
ao de leve quando poisas
meu rosto seria o mar imenso ...
em que mergulharias teu corpo ...
puro rectilíneo...
dessa forma tão subtil ...
como quem beija...
como se te entregasses á imensidão ...
das minhas aguas ...
feitas de mãos entrelaçadas
em gestos feitos de alma e dor...
como se te envolvesses
pela salinidade amarga dos meus olhos
que embalam lagrimas
mas se tu fosses realmente a gaivota
branca
serias livre eterna ,
uma verdadeira deusa
circe e rainha dos céus...
na sua plenitude
dominarias um espaço sem limites
sentada num trono feito de raios de sol
coberta de um manto de penas .
Mas será que serias a minha luz ?
será que ??? não !.. não sou mar ,
não sou céu, nem vento
para se ser mar ,céu ,e vento
é preciso ser forte, é preciso arriscar
eu sou parado, quedo, dissimulado
gosto de estar encoberto ...
no seio da minha carapaça
talhada de recordações
feitas do passado ,desse passado
que me leva a recuar sempre ...
sabes as vezes quero ser gaivota...
quero partilhar os céus contigo
as vezes quero largar tudo
e bailar no infinito a teu lado
simplesmente a teu lado ...
mas não posso ,
não tenho asas, nem sonhos
sou um mísero terrestre
só e triste , alguém que ao entardecer
quando te vê na praia
com essas tuas penas brancas
cobertas pelo manto doirado
do pôr-do-sol
se limita a despir a sua carapaça
oculta , recondida, oclusa
em toda a sua pequenez
e se deixa sonhar,
sonhar ...
voar contigo

sexta-feira, novembro 18, 2005

amo-te... um texto que escrevi numa altura em que queria fugir a poesia

Amo-te...
Ele dissera esta palavra mil vezes antes de a encontrar naquela tarde soalheira de verão.
Disse-o alto e bom som, horas antes mal se levantará pelas 7 horas da manhã. Disse-o sem temer o grito de silencio que amordaçava o gesto e lhe ocultava a luz.
Disse-o desprezando a aparência cinzenta e rancorosa dos caminhos empedrados da cidade velha e pisou-os com tal brevidade e doçura que parecia estar a var.
Talvez estivesse mesmo a voar !!!!
No fundo estava, ele por certo não se lembrará como não se lembrou até hoje de ter atravessado a avenida Marques de Pombal sem aguardar o verde do semáforo, nem de percorrido a passos largos as rua do Centro Comercial Dom Dinis pejada de gente no suplicio caustico das horas de ponta, de modo a apanhar o autocarro que o levaria a ela .
Muito menos reteve na sua memória os 3 km que percorreu a pé até chegar a casa e que só foram interrompidos donde a onde para procurar no meio da vegetação rasteira as flores bravias que ela tanto gostara e que só não chegou a colher por ter chegado a conclusão que elas eram tão bonitas e raras que seria egoísta roubar-lhes a liberdade e privar os outros do prazer de contemplarem tanta beleza, mais do que isso sabia que ela mais do que apreciar o sacrifício da beleza das flores cometido em sua honra, admiraria muito mais o facto de as poder observar ali, naquele recanto debaixo da velha árvore refugiadas num manto de urze. Assim talvez ele pudesse leva-la lá um dia, talvez aquele espaço se convertesse no santuário do seu amor.
Tão pouco ele dará importância aquela noite que passou em claro, no silêncio do seu quarto iluminado pela vela que lhe havia dedicado e que esperava que a protegesse, à procura da forma de vomitar para o papel o testemunho daquilo que não conseguia dizer por palavras mas que estava tão enraizado na sua alma e no seu coração que talvez o olhar dela, aquele olhar visionário e misterioso, mas ao mesmo tempo terno e doce ao incidir sobre o dele bastasse para que ele entendesse a força que o seu sorriso lhe transmite e o facto de estar perto dela, mesmo que apenas na alma, o deixa presente e vivo. Talvez um olhar bastasse....
Ele sabia que as palavras já estavam todas gastas, que já tinham sido mutiladas, violadas, ditas e desditas. Ele conhecia essa dimensão quase essencial que se estende para lá do verbo e do corpo, e a memória do seu coração tinha ainda presentes as chagas que a dor do verbo aprisionado e sofrido provoca mediante a impossibilidade da concretização do seu sonhar.
Ele e ela sabiam que o amor era muito mais do que a palavra pode definir. E a palavra muito menos do que a realidade só sua do sentimento que os unia.
Nas suas dores. No medo que ganhará antes de a conhecer ele aprendera que as palavras são a mera materialização dos sentimentos, elas apenas acorrentam e estrangulam o sonho.
Há tempos ele procurou alguém que lhe cortasse a língua e as mãos, só assim, através da mutilação do seu corpo teria conquistado a liberdade, mas teria também caído numa resignação negativa e amarga .... a palavra “amarga” traduzia verdadeiramente o seu cansaço e a sua desesperança, um refúgio perante a possibilidade de se voltar a dar e se perder.
Ele tinha declarado a morte do amor, tinha feito suas as frases de W. Auden em funeral Blues quando este dissera...

« ... Pensava que o amor duraria para sempre, estava errado.
As estrelas já não são precisas, apaguem-nas todas.
Empacotem a lua, desmantelem o sol.
Esvaziem os mares, varram para longe as florestas.
Nada agora pode trazer-me qualquer bem....»

Ele próprio num dos momentos em que contra a corrente do silencio a que se vetará tinha escrito num dos seus “abortos” ( os outros chamavam-lhes poemas por não conhecerem as chagas que os vomitam e se dilaceram no seu peito ) que “ a palavra amor já havia perdido há muito a voz, derramada que fora nas lágrimas de um anjo que irado partira para longe e os deixara tão sós” .
De resto ele já não poderia dizer como em criança que amava alguém até a lua, pois ela já não era aquele belo e inabalável astro que servia de guia aos marinheiros e alimentava as fábulas e os sonhos dos poetas e havia visto o seu ventre violado pelos “passos grandiosos do homem” numa supressão da fronteira do sonhar.
O seu consolo é que ninguém poderia medir ou avaliar a profundidade do seu amar, ninguém violentará as fronteiras que o unem ao seu amor e os refugiam num mundo longe da todas as mágoas e as dores.
Ele havia descoberto essa segurança, esse seu pequeno triunfo, quando andando perdido nas saudades que tinha dela, procurara encontrar-se, sem sucesso, no gole daquela bebida que havia dividido com ela na primeira e derradeira noite em que estiveram sentados a mesa juntos no mesmo bar, mas nem mesmo o estado inebriado provocado pela sucessão dos goles e das tentativas para se encontrar o afastaram da sua presença ausente. Nem sequer aquela bebida, que foi e será sempre, a bebida deles terá a mesma doçura e o mesmo sabor se não for sorvida a dois de um mesmo copo, na cumplicidade de quem partilha as almas e os sonhos.
Amo-te... foi esta a frase que ele disse novamente quando sozinho se dirigia ao restaurante da sua aldeia onde haviam combinado encontrar-se, e voltou a dize-lo quando quase sem resistir ao momento a viu aparecer de uma forma terna ao longe, bem no limiar dos seus olhos. Quando ela surgiu ele sentira-se renovado, ela preencheu-o por dentro, ela iluminou-lhe a alma e alimentou o seu sonhar enquanto conversavam os dois. Falaram dos seus medos e sonhos, teceram amarras que embalam os seus sonhares, cruzaram todos os limites para longe dos quais a solidão não se estende. Mostraram-se amigos, foram ombro e abraço, aconchego e grito. Para ele foi tanto, mas tanto que talvez sob o efeito anestésico da presença dela a palavra tenha ficado sossegada na sua garganta e ele só tenha conseguido exprimir por gestos o que sentia no momento em que se despediram...
É certo que ainda hoje não falaram sobre isso, talvez não cheguem a falar, ele transportará para sempre a palavra cravada no seu peito, talvez nunca voltará a estar tão perto de a dizer a alguém tão doce, tão sonho, tão luz .
Se a palavra amor for de facto “uma ave a tremer nas mãos de uma criança, que se serve de palavras por ignorar que as manhãs mais lindas não têm vós “. Talvez o olhar dela o aconchegue e sem medo ele venha a romper o silencio e dizer, sem medo das palavras..... AMO-TE.

segunda-feira, novembro 14, 2005

chamei-te.... para quem tem alguem na alma e chama por esse alguém no vazio

Chamei-te ...ao vento, doce vento
Chamei-te porque precisava de te ver...
de fugir ao silêncio da vida amorfa
e queria revitalizar em mim
a eloquência do sonho e do poema

Chamei-te...não porque tivesse algo para te dizer
não porque fosse imperativo que viesses
chamei-te só porque dizer teu nome
como que em preces
faz-me sentir-te aqui
mesmo sem vires

Chamei-te por tudo o que intuíres
E por outros mistérios e devires
ou outras tantas tropelias
de palavras ou folias

Chamei-te só para sorrires
chamar-te é estar mais próximo
do alento ser quase divino
mesmo que em sofrimento

Chamei-te ...só para ouvir-me dizer
a terna forma do teu nome
e sonhar que virás,
um dia virás
mesmo sem vires

sexta-feira, novembro 11, 2005

O infinito ... segundo inês

porque o que se pretente acima de tudo é que este blog seja um espaço de partilha.

" O infinito é o tudo e o nada, hoje digo que é tudo o que eu gostaria de ter mas nada do que eu tenho, queria amar e ser amada, queria poder sentir sem ser só ao sabor do vento, queria poder olhar e amar, sem medo do que encontrasse quando tudo terminasse.
Hoje decidi ir até ao infinito, depois percebi, que esse infinito seria ali a partida e noutro sitio a chegada, porque o infinito é tudo aquilo que quisermos, é até onde quisermos ir...com medo? Não sem medo do que possamos encontrar, a vida é isso mesmo...a vida é um infinito de coisas que não tem significado nenhum, o significado delas é aquilo que nós quisermos que seja, simplesmente o que quisermos que seja.
Por vezes, ao caminhar na praia, olhando para o mar e vendo a linha do horizonte, pergunto-me o que se passará para lá daquela linha e se um dia conseguirei alcança-la, para mim, se existe algum “infinito” será aquela linha, aquela linha que não tem fim, pois cada vez mais que eu avance a linha avança também e assim sucessivamente...por isso, o infinito só existe se nós quisermos tal como o impossível, nada é impossível...nada é infinito. "


este texto foi colocado com autorização da autora, se quiserem enviem textos para serem publicados.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Porque ...o meu infinito

Porque há algo em nós
que se perde e se acha
um infinito
de sonhos com graça
uma vontade louca
de te envolver
um abraço ao vazio
que se agarra ao mundo

Porque há um braço
erguido contra o silencio
um gesto contido
a deriva no espaço
um beijo tranquilo
roubado no embaraço
um sopro de vida
especial e escasso

Porque há mistérios
por desvendar
barcos fantasmas
à deriva no mar
perfumes de flores
que não sei descrever
uma gota de orvalho
em que vivem mil seres

Porque a efémera
só dura um dia
mas voa livre
toda a sua vida
e eu vivo sempre
na correria
e não paro um segundo
nesta friesta de mundo
que é uma vida

Porque cada partida
pressupõem chegada
e cada fim
um recomeço
pegadas na areia
num novo rumo
cicatrizes escassas
que acendem os dias


Porque se te olho
...estremeço
mas se não te vejo
....esmoreço
porque te adoro
mas não te beijo
e beijo no vento
as marcas de ti

Porque há palavras
que não sei dizer
mas que sinto cá dentro
como que a enlouquecer
e há um vazio
preenchido do nada
e um nada que é tudo
e nasce em poema

Porque o infinito
é o tudo e o nada
ponto de partida
ponto de chegada
um cais de embarque
ou a última morada
os confins do espaço
o oceano sem fim
toda uma vida
ou num segundo
a palma da minha mão
que erguida te acena
temendo a despedida

HÁ DIAS ......

Deixo-vos um extracto do conto Assinar a pele de Pedro Paixão,para pensarem e sentirem.

"Há dia, sabes, em que gostava de ser como o gato e que me tocasses sem desejar encontrar quaisquer sentimentos a não ser o que se exprime num espreguiçar muito lento - um vago agradecimento? - e que depois me deixasses deitado no sofá sem que nada pudesses levar da minha alma, pois nem saberias o que dela roubar."

segunda-feira, novembro 07, 2005

verdade

Verdade
Que palavra é essa
Verdade verdadeira
Secreta e derradeira
Que palavra essa
Que palavra será

Verdade
Que palavra essa
Que palavra será
Palavra que é grito
Grito aflito
Que palavra é essa
Que sonhos dará

Verdade
Que palavra essa
Que palavra será
Sonho que é sonho
Sonho derradeiro
Sonhar-te
Sonhar-te... sonho verdadeiro

Verdade
Que palavra é essa
Palavra voz
Voz que é povo
Povo de nós
Sangue nosso
Alma nossa
Soro nosso

Verdade
Palavra vera, vero
Vera, primavera
Primavera nossa
Flores de abril
Sair do covil
Sai do covil

Verdade
Que palavra essa
Palavra gritada
Sussurro sem tempo
nem grito
voz do povo,
povo nosso
sorriso teu
alento nosso

Verdade....
que palavra essa
que palavra será...
murmúrio que ecoa
além das ondas
ante e além do sonho
grito que é grito
sonho que é sonho
canto nosso
canto do meu canto
canto que te canto

Verdade...
que palavra é essa
que palavra será???
Sopro aflito
Grito aflito
Andorinha que voa
sem grilhetas
vento norte
gaivota sem marés

verdade
que palavra é essa???
Que palavra será...
Sopro do momento
Longe do descontentamento
Voz do povo
Povo nosso
Grito teu
Sonho teu
Sonhar ...ser teu

Verdade
que palavra é essa
Que palavra será???
..... liberdade
verdade....
Saudade...
Amor...
Sinceridade...
Amor...
Eternidade...
Que palavra é essa???
Que palavra será???




ps: este poema surgiu num convite que alguém amigo me fez para escrever um poema em torno da palavra "verdade".
achei importante dizer isto, não só porque por isso o poema também lhe pertence, mas acima de tudo porque vos queria deixar um desafio......
enviem-me juntamente com os vossos possiveis comentários uma palavrasobre a qual gostariam que escrevesse um poema... prometo tentar satisfazer-vos...
abraço forte.
pedro

sexta-feira, novembro 04, 2005

à procura...dum amigo

hoje vou deixar-vos um pedacinho da obra o principezinho de Antoine de Saint-Exupéry.espero que ele tenha em vocés o mesmo peso que teve em mim.
bom fim de semana. espero que nos continuemos a "prender" todos uns aos outros.


(...)
Foi então que apareceu a raposa.
- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não estou presa...
- AH! Então, desculpa! - disse o principezinho.
Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:
- O que é que "estar preso" quer dizer?
- Vê-se logo que não és de cá - disse a raposa. - De que é que tu andas à procura?
- Ando à procura dos homens - disse o principezinho. - O que é que "estar preso" quer dizer?
- Os homens têm espingardas e passam o tempo a caçar - disse a raposa. - É uma grande maçada! E também fazem criação de galinhas! Aliás, na minha opinião, é a única coisa interessante que eles têm. Andas à procura de galinhas?
- Não - disse o principezinho. Ando à procura de amigos. O que é que "estar preso" quer dizer?
- É a única coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
- Parece-me que estou a começar a perceber - disse o principezinho. - Sabes, há uma certa flor...tenho a impressão que estou presa a ela...
- É bem possivel - disse a raposa. - Vê-se cada coisa cá na Terra...
- OH! Mas não é da Terra! - disse o principezinho.
A raposa pareceu ficar muito intrigada.
- Então, é noutro planeta?
- É.
- E nesse tal planeta há caçadores?
- Não.
- Começo a achar-lhe alguma graça...E galinhas?
- Não.
- Não há bela sem senão...- disse a raposa.
Mas a raposa voltou a insistir na sua ideia:
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve de nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo...
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor...Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
- Eu bem gostava - respondeu o principezinho - mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer...
- Só conhecemos as coisas que prendemos a nós - disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, prende-me a ti!
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não me dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito...São precisos rituais.
- O que é um ritual? - perguntou o principezinho.
- Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - respondeu a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, têm um ritual, à quinta-feira, vão ao baile com as raparigas da aldeia. Assim, a quinta-feira é um dia maravilhoso. Eu posso ir passear para as vinhas. Se os caçadores fossem ao baile num dia qualquer, os dias eram todos iguais uns aos outros e eu nunca tinha férias.
Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...
Depois acrescentou:
- Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo.
O principezinho lá foi ver as rosas outra vez.
- Vocês não são nada parecidas com a minha rosa! Vocês ainda não são nada - disse-lhes ele. - Não há ninguém preso a vocês e vocês não estão presas a ninguém. Vocês são como a minha raposa era. Era uma raposa perfeitamente igual a outras cem mil raposas. Mas eu tornei-a minha amiga e, agora, ela é única no mundo.
E as rosas ficaram bastante incomodadas.
- Vocês são bonitas, mas vazias - ainda lhes disse o principezinho. - Não se pode morrer por vocês. Claro que, para um transeunte qualquer, a minha rosa é perfeitamente igual a vocês. Mas, sózinha, vale mais do que vocês todas juntas, porque foi a que eu reguei. Porque foi a ela que eu pus debaixo de uma redoma. Porque foi ela que eu abriguei com o biombo.. Porque foi a ela que eu matei as lagartas (menos duas ou três, por causa das borboletas). Porque foi a ela que eu vi queixar-se, gabar-se e até, às vezes, calar-se. Porque ela é a minha rosa.
E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com aminha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...
- Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer .

quinta-feira, novembro 03, 2005

hoje II

Hoje não me apetece
sequer pensar em correr
Começo a pensar
que não faz sentido
andar de lés a lés

Não é mais feliz
quem anda sempre
a dar corda aos pés
e mesmo as flores
mais belas tem as raízes
fincadas no fundo do chão

Hoje apetece-me
parar o relógio,
todos os relógios
Atirar o telemóvel
contra a parede,
demolir a parede
e simplesmente gritar
e gritar,

Cantar e cantar
uma melodia sem tempo,
que fale de histórias
de amores felizes
que o tempo não esqueceu

Eu hoje só quero
sair à rua despido de mim
sentar-me numa esplanada
em todas as esplanadas

e falar com alguém
que ainda não conheço
só para conhecer...
sem pressões,
nem referências,
nem grilhetas

Porque hoje só quero
beber desse sorriso
partilhar desse olhar
e dar-me, e dar-me...
e dar-me...
...só por dar

Hoje apetece-me
por um chapéu de palha
vestir o fato de banho
e mergulhar num regato,
todos os regatos
mar de sonhos
recriados em brincadeiras
dos meninos que já fomos

Eu hoje só quero
largar o fato e a gravata
Vestir-me de alma
E luz
Jogar futebol descalço
e fintar como o Feher fintava
e voar para as bolas
como o Damas defendeu

Ai quem dera
voltar a ser criança,
brincar como criança
imaginar castelos,
piratas e dragões

Ai quem dera,
poder sonhar com a luz
com o Tarzan,
o Quasímodo ou o Quimera

E dizer num grito
pintado nas paredes
que se ama alguém...
até ao céu

Eu hoje só quero
parar de pensar...
de pensar e pensar
e passar a sentir...
tocar não intuir...

E abraçar, abraçar
....e parar...
atracar-me sossegado
ao corpo doce de alguém

Eu hoje só quero
gritar este grito,
sopro aflito
que invade de sonho a vida


Eu hoje preciso
partilhar esta dor
e deixar de sentir...
intuir, intuir

Saber os rumos
que hão-de vir
recriados nas estrelas
que há no céu

Eu hoje só queria
Dar vida, ser vida....
Sentir que não me vou
Na indiferença

Saber quem sou
...na poesia
neste calor que trago
no peito e não sei guardar

eu hoje só quero...
sonhar....
sonhar....
e amar

amar alguém
até ao fim dos dias
até ao fim da alma
neste ou noutro tempo
em cada restício
alado de calma
que me tolda
o pensamento

E eu hoje só queria
Sonhar-te sem fim
Tornar-te folia de mim
Tornar-me folia de ti
Saltimbancos
De um trapézio louco
Suspenso no céu

E eu hoje só queria
Ser voz e canção
Dar vida a canção
Dos dias que trago
sem pensar
dos medos que sinto
sem viver
desta raiva
que não vai parar
se não escrever

quarta-feira, novembro 02, 2005

hoje

hoje não me apetece postar nada meu,talvez porque esta sina de amar o outro lado da lua as vezes me deixe sem palavras, sem voz,sem sonhos.
peço-vos apenas que esta noite reparem na lua, bebam da sua força, da sua capacidade de devolver toda a luz que recebe do astro rei. Essa lua que nos vela e influencia a terra e as marés. A mesma lua que em criança julgava inatingivel e por isso assumia ser o fiel da minha capacidade de amar.
Espero que ela ilumine os vossos sonhos.

segunda-feira, outubro 31, 2005

procuro-te

Procuro-te só para te conhecer
Sem querer coisas transcendentais
Só tenho tempo e braços para oferecer
E ouvidos que nunca escutarão demais

Procuro-te nas ruas da cidade
como quem procura sonhos debandados
em momentos preciosos de verdade
com a garra de quem busca mil mundos

Procuro-te nas vielas e calçadas
sinais de ti deixados nas janelas
como se fossem caravelas
buscando um cais para aportar

Procuro-te nos sorrisos que acendes-te
que coloriste com sonhos e emoções
desabafos e segredos cor do mar
revelados por poemas e canções

Procuro-te com todo o tempo para dar
Segundos da luz que deste
Corações com que coloris-te o meu mundo
Frases soltas dos poemas que escreves-te

Procuro-te no sopro do vento
luz que me acende o pensamento
pergunto-me se a chuva que cai
trará sinais de ti

Procuro-te num sopro, num gesto,
num fado,, num olhar
numa flor que se tenha aberto
só por te ver passar

Procuro-te neste poema
abafando este silencio
porque há instantes
que valem mais que mil vidas

e eu só queria poder te encontrar
e eu só queria poder te escutar
e eu só queria poder te ajudar
e eu só queria poder te abraçar

domingo, outubro 30, 2005

coisas que não sei dizer

A noite solitária
e fria
Que me envolve
hoje aqui
É a sincera e vã
testemunha
Do meu desejo eterno
de te cantar.
De deixar que tu
sejas musa
A musa...
A minha musa...
Único e derradeiro
testemunho
Desta minha alma
transcendental e nua
Nesse alento derradeiro
Que me devolve a fé
E me torna devoto
Do ser final
que não sou
Perpétuo adorador
do teu sorriso
Dessa chama de que necessito
Para continuar a ser
sem ter de existir
fingindo
sem ter de me entregar ao caos .
Sabes...
As vezes apetece-me partir
Ser um ligeiro e escasso
Farrapo de papel
Deixado à deriva
Feito um papagaio
A quem se rebentaram as amarras
empinado pelas mãos curiosas
da criança que fui.
As vezes...
Gostava de não ter corpo
De poder dizer-te quem sou
Sem palavras,
Como se fosse verdade
que me olhasses por dentro
talvez olhes mesmo
talvez eu tenha tanto medo
que não saiba ver-me
como dizes que sou
gostava de poder abrir-me contigo
sem mágoa e sem culpa.
Adorava poder levar-te a amar
o mar e os céus,
O vento raivoso
Que me embala a noite
Numa profecia de morte
E no entanto me devolve
ao glorioso sopro da vida.
Como se me trouxesse à memória
o teu olhar e a tua ternura
Sim ...
Eu conheço a beleza das estrelas
Sim...
Já bebi da sabedoria do deserto
Sim...
Encaro a vida como uma dádiva
Sim ...
Entrego-me e dou-me a toda a gente
Sim...
Estou sempre a ir-me
Mas os outros não entendem
E eu ainda não te consegui dizer
Que isto tudo não é...
Mas tu és .
Tu és vida...
Raios...
És vida...
A minha vida
Só não sei dizer-to
Gostava de dizer-te...
Só assim a sabedoria do olhar
Será proclamada
Só assim os olhos serão verdadeiramente
o espelho da alma
e todos nós deixaremos
de ser anjos mutilados
com medo dos gestos
e dos abraços.
Gostava de dizer-te....
E não consigo

quinta-feira, outubro 27, 2005

ONTEM... porque há sempre alguem a quem se amou e se perdeu...

Ontem apercebi-me
que jamais partilharas comigo
o teu sonhar
e depositarás em mim
as amarras do teu sentir

Ontem apercebi-me
que nos tornámos estranhos
de tanto nos conhecer
que esperámos mais do que podíamos
que eu sonhei enredos além da vida
e que colori a vida com sentidos
que não disse

Ontem apercebi-me
que a tua ausência
se tornou tão real
que nada mais faremos juntos
que jamais viveremos os dias
como vivemos no passado
que jamais voltaremos
a viver como vivemos
a fazer o que fizemos
a existir como existimos

Ontem apercebi-me
que a tua ausência
me leva a meditar
que a solidão que deixaste
me leva a reflectir
que só comigo posso contar

Então...
o frio da noite
penetrou-me na alma
e as chagas que em mim
te fiz deixar
tornaram-se vagas
e as vagas, marcas tuas
e tu estarás presente em mim
mesmo sem querer

Então...
renunciei ao estado letárgico
que me assolava
larguei a mágoa, a súplica
e a saudade
e esqueci esta dor
de te não ver
e assim
despido de todos os sentidos
náufrago de um novo mundo
posso aventurar-me...
e ser
.... eu

quarta-feira, outubro 26, 2005

Quando ...

Quando eu morrer
leva-me no teu regaço
e embala a minha alma
no teu peito
quando eu morrer
deixa-me ir assim
vão e escasso
que na ânsia de viver...
eu fui fracasso
e na gloria de sonhar-te
perdi-me por recordar-te
e nunca pernoitei
junto ao teu leito
deixa-me partir
não te peço que por mim chores
nem que grites à lua
tudo o que não foste
tudo o que não me deste
acredita que és tudo,
foste tudo
e não lamentes se ser tudo
não soubeste
deixa-me ir
não quero que vás comigo
deixo-te a rosa encarnada
que guardei em mim
e não te soube entregar
deixo-te o brilho da vida
reencarnado nos sonhos
que plantei na flor
das minhas mágoas
nas pétalas que colori
com a lembrança
dos sorrisos
que provocavas
deixo-me ...em ti
em todas as lembranças
dos momentos
que vivemos
e na memória
dos mundos
só teus
em que habitavas
deixo-me mesmo
nos despojos
só meus ...
da vida que inspiravas
mas nunca te despeças de mim
nem nunca chores
és demasiado doce
para chorares
e eu nunca quis ver padecer
alguém tão belo tão sonho
tão profundamente...
luminoso e vivo
vais ver que vou estar sempre aqui
enquanto houverem alvoradas
enquanto a primeira estrela do céu
persistir em assomar à tua janela
como se te quisesse saudar.
Mas nunca me lamentes
apenas deixa que no verão
as gotas de orvalho
salpiquem a tua cara
e sente-as como se fosse eu
como se fossem os meus lábios
permite que a brisa do mar
invada suavemente os teus cabelos
e os lance no reboliço
como se pairassem
por força das minhas mãos
vá ... deixa-te bailar suavemente
na ode da vida e vive-a
de uma forma imensa e pura
como quem sente, como quem ama
como quem sofre
Mas não te impeças de sonhar
e vive cada nova gloria numa entrega
cada dança, como a dança
da menina ave que sei seres
e deixa-te pairar
sobre os céus...
como se anjo fosses
sem temeres o frio ou o anoitecer
pois irei abraçar-te
nos teus sonhos
e velarei por ti
para sempre...
enquanto dormes