domingo, outubro 30, 2005

coisas que não sei dizer

A noite solitária
e fria
Que me envolve
hoje aqui
É a sincera e vã
testemunha
Do meu desejo eterno
de te cantar.
De deixar que tu
sejas musa
A musa...
A minha musa...
Único e derradeiro
testemunho
Desta minha alma
transcendental e nua
Nesse alento derradeiro
Que me devolve a fé
E me torna devoto
Do ser final
que não sou
Perpétuo adorador
do teu sorriso
Dessa chama de que necessito
Para continuar a ser
sem ter de existir
fingindo
sem ter de me entregar ao caos .
Sabes...
As vezes apetece-me partir
Ser um ligeiro e escasso
Farrapo de papel
Deixado à deriva
Feito um papagaio
A quem se rebentaram as amarras
empinado pelas mãos curiosas
da criança que fui.
As vezes...
Gostava de não ter corpo
De poder dizer-te quem sou
Sem palavras,
Como se fosse verdade
que me olhasses por dentro
talvez olhes mesmo
talvez eu tenha tanto medo
que não saiba ver-me
como dizes que sou
gostava de poder abrir-me contigo
sem mágoa e sem culpa.
Adorava poder levar-te a amar
o mar e os céus,
O vento raivoso
Que me embala a noite
Numa profecia de morte
E no entanto me devolve
ao glorioso sopro da vida.
Como se me trouxesse à memória
o teu olhar e a tua ternura
Sim ...
Eu conheço a beleza das estrelas
Sim...
Já bebi da sabedoria do deserto
Sim...
Encaro a vida como uma dádiva
Sim ...
Entrego-me e dou-me a toda a gente
Sim...
Estou sempre a ir-me
Mas os outros não entendem
E eu ainda não te consegui dizer
Que isto tudo não é...
Mas tu és .
Tu és vida...
Raios...
És vida...
A minha vida
Só não sei dizer-to
Gostava de dizer-te...
Só assim a sabedoria do olhar
Será proclamada
Só assim os olhos serão verdadeiramente
o espelho da alma
e todos nós deixaremos
de ser anjos mutilados
com medo dos gestos
e dos abraços.
Gostava de dizer-te....
E não consigo

6 comentários:

Anónimo disse...

Meu querido, ainda bem que voltaste a escrever - é assim que te vejo melhor! que bom que é ver-te!

milhafre disse...

Carla

obrigado pelo teu comentário e por seres companheira de viagem neste blog.
partilho da tua opinião em relação a importãncia de um abraço,simplesmente acho que as vezes fico com demasiadas palavras presas na garganta.
é bom saber que pensas como eu.
gosto da sebedoria e essencia com que escreves e sentes.
beijo meigo e amigo

milhafre disse...

Ana João
bem vinda a este espaço que também é teu sempre que quiseres.
é bom estar de volta ao mundo da escrita, embora muitas das palavras continuem amordaçadas.
agradeço o carinhocomque me acolhes sempre e o modo como sempre pareces-te entender-me.
beijo

Anónimo disse...

ADOREI...poderia dizer aqui imensas palavras, mas não encontro palavras tão belas como o teu poema...costuma-se dizer que um gesto vale mais que mil palavras, é verdade, um sorriso, um abraço, um beijo, um toque...vale muito mais que mil palavras e disso, hoje, não tenho duvidas! Acabei de chegar a casa, tempo triste este, mas sabes Pedro, enquanto divagava pelas ruas, uma criança passou por mim, uma criança sorriu ao ver-me, se naquela altura tinha maus pensamentos, acredita que me lembrei de todas as coisas boas da vida...e a criança nunca me tinha visto, a criança não me conhece, mas fez-me sorrir, não com um "adoro-te", nao com um "preciso de ti", mas com algo mais importante que isso..um sorriso=)
Pedro, não deixes nunca de escrever, por três poemas que li e que me identifiquei, nunca te esqueças que muitas vezes é ao escrever que nos encontramos com nós próprios..
Força=)
Beijos*

milhafre disse...

inês
adorei o comentário
obrigado pela partilha do momento que vives-te com a criança...gostei muito
es sempre bem vinda

Anónimo disse...

olá Pedro, é a Iolanda...lembras-te?
Em primeiro lugar queria dar-te os parabéns pelo bom gosto, o blog está lindo, suave, delicioso. Em segundo lugar quero-te dizer que escreves maravilhosamente... Tenho a certeza que tocas a todos com as tuas palavras como me tocaste. Porque sempre, algures nas tuas palavras encontramos algo que fala de nós. Porque tu falas da vida, e a vida de todos embora diferente, passa por pontos coincidentes. continua. adorei.