quarta-feira, agosto 28, 2019


Foi escrito há oito anos mas o Facebook trouxe-mo hoje à memória como pinta de quem sabe que me ando a questionar sobre se crescer não será desaprender.
Escrevi-o aqui e agora vou publica-lo no meu blog revindicando a necessidade imperiosa de todos nós sermos fieis ao sonhos.

Marta Pinto, não querendo esquivar-me do desafio decidi chamar-lhe magia.



Magia.

O segredo das crianças não é a inocência mas por contrário a sensibilidade que as faz ter uma visão do mundo muito mais simples e verdadeira do que a vemos agora.. Com menos medos do que os que temos, com mais capacidade de comunicar ... com mais entrega ao outro, como igual, na partilha dos sorrisos, para vencer as lágrimas.  Acreditar é possível. Sonhar é possível. Fazer viver a magia da criança que mora em nós é possível.
Sonha e dá.
Ri e recebe.
Pinta o mundo com todas as cores da vida

terça-feira, agosto 13, 2019

Amizade

Há cerca de um mês sugeriram-me que na minha escrita falasse da amizade ….
Não percebi no inicio porque hesitei em faze-lo, não entendi a minha recusa, quase à partida para faze-lo em poesia….
A pessoa que me sugeriu esse tema está no fulgor dos tempos, é uma fabulosa aprendiz da vida e sabe a intensidade dos abraços e sorrisos que dá, da mesma forma que conhece a energia dos seus cabelos revoltos mas magníficos…
O quanto ela, os cabelos e os abraços são aconchego…
É AMIGA por inteiro e não foi por não saber o que é amizade que ela me pediu para escrever sobre isso.
Essa pessoa é um espirito livre… solta, intensa na amizade e na entrega… sabe o valor do sonho, mas sabe que os sonhos só conseguem ser alcançados se em conjunto… sabe que importa não deixar ninguém para trás, e não o faz, nas várias áreas e dimensões da sua vida.
Acredito que irá ser assim sempre, pois creio que não irá deixar o passar dos anos vergarem-lhe o intento….
Será com certeza uma escritora magnifica, porque quer aprender e porque há nela tanto de pureza como de entrega e acredito que aos olhos dela o mundo dificilmente será cinzento ou amorfo…   por isso da escrita dela, quando aprender a verter as flores da alma para o papel nascerá sempre algo de esperança, algo de aconchego.
Talvez por isso tenha resistido a escrever sobre a amizade em poesia….
Porque a poesia obriga a uma coerência mesmo que na incoerência, e é para mim difícil falar sobre a algo livre dentro da prisão das estrofes.
Espero que essa pessoa não se sinta defraudada por lhe responder desta forma ao desafio lançado.
Ontem outro alguém que estimo muito, alguém que é também guerreira até ao tutano, alguém que é viajante e ávida de sonhos, alguém que é (mesmo para mim… eu que sou guerreiro habituado nas desmandas da vida, eu que tantas vezes não quebro), um magnífico exemplo de superação não só por tudo o que passou, mas também por toda a sabedoria e essência com que o fez, falou-me mais uma vez da vida, demonstrado mais uma vez a sua essência, mas desta vez fê-lo não guerreira como me habituei a vê-la, não plena e quase hercúlea como me habituei a senti-la… mas cansada…. Quase como se o cansaço fosse não físico mas interior, quase como resignação.
Dizia ela que às vezes a vida em geral é triste … que “a maioria das pessoas vive aprisionada a vida toda na rodinha do rato e não se questiona... vivem para ganhar dinheiro, por este ou aquele motivo … e no fim da linha vai –se a ver nunca viveram  … porque estiveram sempre ali e não saíram do lugar…”   
Dizia ainda essa pessoa que “ter essa consciência era triste” e que não sabia se as outras pessoas a tinham ou se era ela que “pensava demais….”
Essa pessoa não sabe que tenho lido e relido as mensagens que me mandou ontem…
Sabe o que lhe disse, que o que ela escreveu me remeteu logo para Albert Camus e para o seu Calígula, que citei no último texto que escrevi…
Soube, porque lho disse, imediatamente, ainda que que de forma não estruturada, que  quase como ela, o Calígula de Camus, disse a Hélicon “os homens morrem e não são felizes” .
Que o personagem de Camus como ela refletia sobre o facto dos outros saberem ou não isso. Questionava aliás sobre … como é que sabendo isso eles não deixavam de comer ou dormir??….
Que, como ela, Calígula manifesta a necessidade de espaços abertos, “da lua ou das estrelas” … 
Saberá ela antes de vocês, porque a citei e como tal é justo que ela saiba antes e autorize a contar-vos… que o pensar dela não é um “pensar demais”, nem é como a viu Camus um misto de loucura ou de absurdo, mas de forma clara,  algo que é indispensável à vida, quase como uma condição de sobriedade que vem da essência das coisas…
Que ela, como eu, como Camus, como Hemingway e aliás como muitos de vocês, que às vezes, tantas vezes nos sentimos a ir… como se “estarmos a ir” fosse condição essencial para se ser, como se ser feliz fosse qualquer coisa de inatingível e não concretizável.
Somos o que somos se nos questionarmos, se almejarmos ás coisas simples, se nos atrevermos a sonhar com o infinito….
Se respeitarmos o ínfimo das pequenas coisas….
Se não nos rendermos ao vazio…
Se não ousarmos viver ante e além da dor…
Perguntar-me-ão o que é que estar a ir, a loucura, em suma toda a parte final do meu desabafo tem a ver com a amizade e com a pessoa que me desafiou a escrever sobre esta tema….
Pois bem à primeira vista nada e no ínfimo tudo… a verdade é simples… na vida ou na morte só se perpetuam os laços que mantermos, os bons gestos que fizermos, os sorrisos que ajudarmos a florir nos rostos dos que passam por nós…
Só essas pequenas grandes coisas são, depois da nossa morte, as marcas que deixaremos, as memórias que restarão de nós… a nossa quase sublime eternidade… talvez o único fértil e desafio à nossa finitude.
São em vida esses pequenos gestos, nos nossos encontros e desencontros, na nossa entrega ao próximo e ao outrem, as nossas pequenas âncoras, o último baluarte que nos impede de andar definitivamente à deriva, a boia que nos permite irmos e voltarmos ao vazio.
Se há algo que aprendi na vida é que a boia que nos impede de ir e voltar no fio da vida é precisamente a amizade….
É ela que por ser imensa nos liberta para podermos voar,
Por ser solta nos dá lastro….
Por saber o valor dos abraços nos mantém no corpo…
Por nos recordar nos faz presente….
É ela que por estar lá, como farol .. nos permite reencontramo-nos mesmo quando nos perdemos…
Que sabe o valor de uma lagrima e o por isso sabe que elas só devem ser despejadas no aconchego dos ombros…
Que a vida só faz sentido no aconchego dos ombros para que possamos sem medo viver ao máximo, cultivar afetos, viver mil viagens interiores sem medo de nos esfumarmos….
Porque eu não era o mesmo hoje se não vos tivesse conhecido…
Porque nenhum de nós seria o mesmo sem as marcas de bem querer de quem passou por nós.

Por tudo isso, e por tudo o mais que for preciso, obrigado pela vossa amizade.
 

quarta-feira, agosto 07, 2019

Sabes o que percebi?


 

A escrita morre em nós à medida que os sonhos se esmorecem.

Talvez porque a cada passo que damos menos vamos encontrando para escrever…

Como se o caminho trilhado, ou os pontos de referência que vamos marcando no mapa da vida, mitigassem a necessidade que os escritores têm de imaginar novos finitos, novos abismos, novos monstros e fantasmas, novos bens ou maus perderes, amores maiores, mesmo que impossíveis de ser ou acontecer….

Talvez seja necessária essa perceção do impossível para que surja a capacidade de criar.

Não acredito que seja o habito que tenha morto a criatividade… é verdade que a rotina mata a a inspiração, mas não nos mata… por isso o ónus tem de estar além disso, porque não escrever é morrer por dentro e a rotina só nos mói.

Que perante o novo seja mais fácil escrever acredito…. Dar novos horizontes à mente liberta a imaginação, mas eu escrevia bem melhor quando mal saia das quatro paredes em que vivia, do que agora que até já conheci o deserto….  

Não creio que talvez seja por uma falta qualquer de temas que se assole de nós….

Afinal o dia continua a nascer, continuam a haver pores-do-sol, nos jardins continuam a nascer flores, no céu, mesmo que em situação de intempérie haverão sempre aves a ousar ser anjos. À nossa volta ainda que em milhentas novas formas haverão sempre amantes e histórias para contar.

Haverão sempre lábios a querem ser beijados ainda que não tenhamos coragem de o fazer….

Haverá sempre uma necessidade, ainda que insondável de ter a mão erguida em defesa de outras mãos, ombros com ombros a precisar de ser muralha, braços e corpos a pedir para ser entrelaçados.     

Chegadas e partidas impossíveis de gestuar nos contornos da pele.

Talvez seja por, para escrever, ter de haver em nós, qualquer coisa que quer ficar mas que se sente a ir…

Uma ausência qualquer que de tão habitual nos tragasse por dentro e nos regurgitasse no papel….

Um bem querer que se quer mais do que o real…. Quase que como se fosse capaz de nos reinventar…

Como se para escrever tivesse de haver qualquer coisa de irrealizável ou por realizar….

Talvez haja qualquer coisa que tem de morrer em nós por dentro para renascer como fénix no papel….

Talvez uma necessidade imensa de olhar o vazio existente, ás vezes para supera-lo, ás vezes para desafia-lo a comer-nos as entranhas.

Talvez seja mesmo isso… talvez para escrever tenhamos de ousar morrer e reinventarmo-nos letra a letra, despojarmo-nos de nós mesmos como se fossemos restolho atirado aos ventos….

Talvez precisássemos de não ter raízes….

Sim talvez o problema seja ganharmos raízes, talvez à medida que as vamos ganhando nos preocupemos mais em consolida-las que a narra-las.

Alguém escreveu um dia que “quando não era feliz escrevia e sonhava com todas as felicidades por acontecer…. Agora que sou feliz preocupo-me em viver”.

Talvez seja isso… deixamos de escrever porque somos felizes….

Ou será que na realidade simplesmente para, pela escrita não fazermos nascer em nós o Calígula de Albert Camus, para que nunca tenhamos de afirmar “os homens morrem e não são felizes” … "O mundo assim como está não é suportável, por conseguinte, preciso da lua, da felicidade ou da imortalidade, de qualquer coisa que seja loucura, talvez, mas que não pertença a este mundo."

Talvez seja por isso… Porque não queremos parecer loucos …

Afinal é verdade que há um pouco de loucura nessa senda de derramarmo-nos no papel.

 

terça-feira, agosto 06, 2019

Quando não sabes voar....

quando não sabes voar ...
só te resta naufragar
na torrente de água e sal 
que te escapa do olhar

e dás por ti a fingir ser 
marinheiro sem ter caís
lobo do mar temerário 
que afinal nunca zarpou

quando não sabes voar ...
sabes que não vale a pena sonhar
porque o reino que te foi prometido 
afinal nunca será teu

e quando dizes que és capaz 
de vencer mil vendáveis
rezas por cansaço para que não haja 
sequer leve brisa no horizonte

quando não sabes voar ...
por mais que guardes na alma 
memórias de todos os locais
percebes que sempre foi falsa 
a estrela guia 

e sabes que não vais encontrar porto seguro nem poderás almejares por mundos novos
pois por mais que subas à gávea 
não podes confiar no astrolábio

quando não sabes voar ...
aconteça o que acontecer 
para lá de todas as dores 
que te pudessem tornar avisado

sabes que és resto indigesto 
e que todos os teus atos
não vão passar de nados mortos 
perdido que andas em lugares comuns

e assim sabes que não adianta 
ficares sequer com um nó na garganta
pois do ontem e do hoje 
não te restou qualquer história

e para ti não te resta sequer 
um fim em glória
porque tu simplesmente 
nunca soubeste voar