domingo, dezembro 01, 2019

Hoje entramos em Dezembro. Aproxima-se o natal época de conforto e de família, época de partilha e de aconchego... Também uma época em que o vazio se torna o maior dos vazios e a saudade se retrata à mesa, no lugar vago deixado por aqueles que  o fim da vida levou de nós , mas também pela ausência dos que estiveram connosco tantos anos e deixaram de querer ou de o conseguir fazer.
Também para muitos a hipótese de celebrar a vida e a presença de quem vier de novo.
Hoje faltam 24 dias para o natal....
Época de gratidão....
Gratidão pela magia dada por quem partilhou connosco a vida e o sonho ainda que já não o faça, por tudo de bom e todo o conforto que nos foi dado.
Gratidão por quem ainda nos acompanha, por quem nos conforta, por quem nos faz pensar no amanhã, mesmo que ainda a custo, mesmo que tantas vezes fora da raiz do sonho.
Gratidão por todos os que ontem ou hoje foram âncoras e raízes e nos deixaram  por anos ou por momentos breves ser ancora ou raiz, asas ou o próprio mar.
Gratidão a todos os que no bem ou no mal disseram presente, mas também aqueles que confiaram em nós para o fazer de igual modo retribuindo o afinco de quem se dá de alma e vida.
Finalmente gratidão pela família que temos por  nos fazer ser  parte de um continuum ainda que o sejamos por vezes, tantas vezes vãos e escassos
Que o dia de hoje seja de facto o melhor dos dias, que todos os dias que  aconteçam a partir de hoje o continuem a ser para o resto das vossas vidas, na esperanca de que possamos ir sendo  uns dos outros alma e luz, atores principais dos nossos papéis, senhores da vida e do sonho.
Que o comboio da vida mantenha em nós portas abertas para  nos encontros e desencontros da vida saibamos manter em todos os corações  esperança e aconchego e o sonho possa sempre dizer presente.

Namaste.

sexta-feira, novembro 29, 2019

Transparência
Ser invisível sem o ser
Gota de água caída na flor dos olhos
Por já não se sorver de sonhos
Ser ausência só na ausência
Restolho de mim mesmo
Nada de nada feito
Pleno de afetos por sentir

Transparência
Ser espelho de olhos espelhado
de um olhar findado por todos os olhares
Perfil ténue visível de um rosto que surge sem se ver.
Marca de quem está a sentir que não se está
Respício que não estando ainda fica em nós
como se sempre nos tivesse pertencido.

Transparência
Ser cavalheiro mesmo que ultrapassado
Retilíneo, verdadeiro ou apenas vácuo
Vazio fracassado num final de história
Perene e indelével como gota de água
A querer dar outros fins à história
Vago e submisso como o mais infindo dos mares
Para lá de todas as hipóteses de ser terra prometida.

Transparência
Ousar ser… sem querer ser
Ousar ficar vazio de luz até ao fim da alma
Para ser um dia restolho atirado aos ventos..
Mesmo morrendo a cada dia na partida
Mesmo depois de ser nada... nova esperança
Arrancar de nós todos os sonhos
Até estrebuchar a essência
Para que um dia seja possível refazermo-nos

Transparência
Para lá de todas as torrentes
Muito além de todo o caos
Mesmo que enfermo e dilacerado
Ser subtil na jura para podermos dar-nos com afinco...
Ousar sonhar, ousar ser
Ousar dar-me mesmo morrendo-me a cada dia vão e escasso.
vez após vez como na vez primeira

Transparência
Um olhar... O teu olhar só o teu olhar
doce e verdadeiro
Capaz de acender sem o saber
os astros, o próprio sol,
a luz do dia sublime de ternura.
Para devolver ternura a todas as coisas
Espelho de vida que devolve vida
de todas as formas.

Transparência.
Uma cor sem cor
Um som maior que todos os sons
Um olhar teu por todos os olhares
Uma palavra minha maior que todas as palavras
Um silêncio mais belo que tudo..
Sintonias. Sim sintonias..
Plenas sublimes vindas do nada...
Só para nós lembrar que estamos vivos.

sexta-feira, outubro 11, 2019


Eu como ando com a cabeça em turbilhão tenho querido abster-se de me meter nestas coisas, mas como tudo está a assumir uma gravidade tão mas tão grande tenho de mesmo a contragosto romper o silêncio.
Qual é realmente o problema que estão a ter com a eleição da JOACINE?porquê esta questão com a gaguez? Temos deputados que em quatro anos de mandato não tomaram a palavra uma vez sequer, que não se manifestaram sobre nada, que não produziram nenhuma proposta de Lei ou recomendação.... Ora não consta nos registos que tivéssemos alguém em estado vegetativo no parlamento.   Ou será que tínhamos?
Opa ser gaga vai fazer perturbar os tempos do parlamento? Tretas.  Já pensaram que na cabeça dela, para lidar com a sua situação ela vai ter as ideias duas ou três vezes mais ponderadas,??que vai estar mais focada??
Dai gaguejar menos quando discursa do que de improviso. Sim isso é perfeitamente normal ou será que não? Será que é preciso ser ator para saber isso???
O que??? É por causa de ter sido fotografada com a bandeira?! Eia pá que grave!!! Não interessa se a bandeira era dela..  Que não era... E se fosse? Vamos lá ver se o Pepe, depois de uma boa exibição na seleção fosse fotografado ao lado de conhecidos com a bandeira do Brasil não era grave pois não? Porque dá jeito é isso... Porque se nos servem já podem ter raízes??? Porra ainda bem que têm raízes, ainda bem que as manifestam.  Ainda bem que participam.   Democracia é isso.  Se estão mal votem na próxima... Sim porque muitos dos que se opõem agora nem sequer votaram porque não valia a pena.
Pessoalmente estou mais preocupado com outras coisas.
Não o ventura, esse não me assusta.... Sempre gostei mais de ver inimigos nos olhos que minorias camufladas armadas em salvadores da pátria.  Ele nem sequer é novo no parlamento.
Pelo menos agora já não podemos erradamente assumir que não há uma extrema direita em Portugal..  Agora temos de ser responsáveis.
Preocupa-me sim a erosão da direita, não porque seja de direita nada disso..  Apenas porque para chegar a sãos consensos faz sentido que os pratos da balança estejam equilibrados.
Ah e porque não sou perfeito confesso que o revirar dos olhos do outro gajo me deixou intimidado... Coisa do demo?? Porque será que não há uma petição para averiguar isso???

quinta-feira, setembro 05, 2019

"não te abandones como se fosses um mero grão de areia.

Nem permaneças como rochedo indiferente aos tempos...

nós não nos vamos nem ficamos...

apenas fluímos no rio da vida.

e nos novos rumos que rumarmos haverão sempre momentos verdadeiros...

tão nossos que ficarão sempre lá....

para que possamos... mesmo que em vão....

ousar partir....

sem nos findarmos....”

quarta-feira, agosto 28, 2019


Foi escrito há oito anos mas o Facebook trouxe-mo hoje à memória como pinta de quem sabe que me ando a questionar sobre se crescer não será desaprender.
Escrevi-o aqui e agora vou publica-lo no meu blog revindicando a necessidade imperiosa de todos nós sermos fieis ao sonhos.

Marta Pinto, não querendo esquivar-me do desafio decidi chamar-lhe magia.



Magia.

O segredo das crianças não é a inocência mas por contrário a sensibilidade que as faz ter uma visão do mundo muito mais simples e verdadeira do que a vemos agora.. Com menos medos do que os que temos, com mais capacidade de comunicar ... com mais entrega ao outro, como igual, na partilha dos sorrisos, para vencer as lágrimas.  Acreditar é possível. Sonhar é possível. Fazer viver a magia da criança que mora em nós é possível.
Sonha e dá.
Ri e recebe.
Pinta o mundo com todas as cores da vida

terça-feira, agosto 13, 2019

Amizade

Há cerca de um mês sugeriram-me que na minha escrita falasse da amizade ….
Não percebi no inicio porque hesitei em faze-lo, não entendi a minha recusa, quase à partida para faze-lo em poesia….
A pessoa que me sugeriu esse tema está no fulgor dos tempos, é uma fabulosa aprendiz da vida e sabe a intensidade dos abraços e sorrisos que dá, da mesma forma que conhece a energia dos seus cabelos revoltos mas magníficos…
O quanto ela, os cabelos e os abraços são aconchego…
É AMIGA por inteiro e não foi por não saber o que é amizade que ela me pediu para escrever sobre isso.
Essa pessoa é um espirito livre… solta, intensa na amizade e na entrega… sabe o valor do sonho, mas sabe que os sonhos só conseguem ser alcançados se em conjunto… sabe que importa não deixar ninguém para trás, e não o faz, nas várias áreas e dimensões da sua vida.
Acredito que irá ser assim sempre, pois creio que não irá deixar o passar dos anos vergarem-lhe o intento….
Será com certeza uma escritora magnifica, porque quer aprender e porque há nela tanto de pureza como de entrega e acredito que aos olhos dela o mundo dificilmente será cinzento ou amorfo…   por isso da escrita dela, quando aprender a verter as flores da alma para o papel nascerá sempre algo de esperança, algo de aconchego.
Talvez por isso tenha resistido a escrever sobre a amizade em poesia….
Porque a poesia obriga a uma coerência mesmo que na incoerência, e é para mim difícil falar sobre a algo livre dentro da prisão das estrofes.
Espero que essa pessoa não se sinta defraudada por lhe responder desta forma ao desafio lançado.
Ontem outro alguém que estimo muito, alguém que é também guerreira até ao tutano, alguém que é viajante e ávida de sonhos, alguém que é (mesmo para mim… eu que sou guerreiro habituado nas desmandas da vida, eu que tantas vezes não quebro), um magnífico exemplo de superação não só por tudo o que passou, mas também por toda a sabedoria e essência com que o fez, falou-me mais uma vez da vida, demonstrado mais uma vez a sua essência, mas desta vez fê-lo não guerreira como me habituei a vê-la, não plena e quase hercúlea como me habituei a senti-la… mas cansada…. Quase como se o cansaço fosse não físico mas interior, quase como resignação.
Dizia ela que às vezes a vida em geral é triste … que “a maioria das pessoas vive aprisionada a vida toda na rodinha do rato e não se questiona... vivem para ganhar dinheiro, por este ou aquele motivo … e no fim da linha vai –se a ver nunca viveram  … porque estiveram sempre ali e não saíram do lugar…”   
Dizia ainda essa pessoa que “ter essa consciência era triste” e que não sabia se as outras pessoas a tinham ou se era ela que “pensava demais….”
Essa pessoa não sabe que tenho lido e relido as mensagens que me mandou ontem…
Sabe o que lhe disse, que o que ela escreveu me remeteu logo para Albert Camus e para o seu Calígula, que citei no último texto que escrevi…
Soube, porque lho disse, imediatamente, ainda que que de forma não estruturada, que  quase como ela, o Calígula de Camus, disse a Hélicon “os homens morrem e não são felizes” .
Que o personagem de Camus como ela refletia sobre o facto dos outros saberem ou não isso. Questionava aliás sobre … como é que sabendo isso eles não deixavam de comer ou dormir??….
Que, como ela, Calígula manifesta a necessidade de espaços abertos, “da lua ou das estrelas” … 
Saberá ela antes de vocês, porque a citei e como tal é justo que ela saiba antes e autorize a contar-vos… que o pensar dela não é um “pensar demais”, nem é como a viu Camus um misto de loucura ou de absurdo, mas de forma clara,  algo que é indispensável à vida, quase como uma condição de sobriedade que vem da essência das coisas…
Que ela, como eu, como Camus, como Hemingway e aliás como muitos de vocês, que às vezes, tantas vezes nos sentimos a ir… como se “estarmos a ir” fosse condição essencial para se ser, como se ser feliz fosse qualquer coisa de inatingível e não concretizável.
Somos o que somos se nos questionarmos, se almejarmos ás coisas simples, se nos atrevermos a sonhar com o infinito….
Se respeitarmos o ínfimo das pequenas coisas….
Se não nos rendermos ao vazio…
Se não ousarmos viver ante e além da dor…
Perguntar-me-ão o que é que estar a ir, a loucura, em suma toda a parte final do meu desabafo tem a ver com a amizade e com a pessoa que me desafiou a escrever sobre esta tema….
Pois bem à primeira vista nada e no ínfimo tudo… a verdade é simples… na vida ou na morte só se perpetuam os laços que mantermos, os bons gestos que fizermos, os sorrisos que ajudarmos a florir nos rostos dos que passam por nós…
Só essas pequenas grandes coisas são, depois da nossa morte, as marcas que deixaremos, as memórias que restarão de nós… a nossa quase sublime eternidade… talvez o único fértil e desafio à nossa finitude.
São em vida esses pequenos gestos, nos nossos encontros e desencontros, na nossa entrega ao próximo e ao outrem, as nossas pequenas âncoras, o último baluarte que nos impede de andar definitivamente à deriva, a boia que nos permite irmos e voltarmos ao vazio.
Se há algo que aprendi na vida é que a boia que nos impede de ir e voltar no fio da vida é precisamente a amizade….
É ela que por ser imensa nos liberta para podermos voar,
Por ser solta nos dá lastro….
Por saber o valor dos abraços nos mantém no corpo…
Por nos recordar nos faz presente….
É ela que por estar lá, como farol .. nos permite reencontramo-nos mesmo quando nos perdemos…
Que sabe o valor de uma lagrima e o por isso sabe que elas só devem ser despejadas no aconchego dos ombros…
Que a vida só faz sentido no aconchego dos ombros para que possamos sem medo viver ao máximo, cultivar afetos, viver mil viagens interiores sem medo de nos esfumarmos….
Porque eu não era o mesmo hoje se não vos tivesse conhecido…
Porque nenhum de nós seria o mesmo sem as marcas de bem querer de quem passou por nós.

Por tudo isso, e por tudo o mais que for preciso, obrigado pela vossa amizade.
 

quarta-feira, agosto 07, 2019

Sabes o que percebi?


 

A escrita morre em nós à medida que os sonhos se esmorecem.

Talvez porque a cada passo que damos menos vamos encontrando para escrever…

Como se o caminho trilhado, ou os pontos de referência que vamos marcando no mapa da vida, mitigassem a necessidade que os escritores têm de imaginar novos finitos, novos abismos, novos monstros e fantasmas, novos bens ou maus perderes, amores maiores, mesmo que impossíveis de ser ou acontecer….

Talvez seja necessária essa perceção do impossível para que surja a capacidade de criar.

Não acredito que seja o habito que tenha morto a criatividade… é verdade que a rotina mata a a inspiração, mas não nos mata… por isso o ónus tem de estar além disso, porque não escrever é morrer por dentro e a rotina só nos mói.

Que perante o novo seja mais fácil escrever acredito…. Dar novos horizontes à mente liberta a imaginação, mas eu escrevia bem melhor quando mal saia das quatro paredes em que vivia, do que agora que até já conheci o deserto….  

Não creio que talvez seja por uma falta qualquer de temas que se assole de nós….

Afinal o dia continua a nascer, continuam a haver pores-do-sol, nos jardins continuam a nascer flores, no céu, mesmo que em situação de intempérie haverão sempre aves a ousar ser anjos. À nossa volta ainda que em milhentas novas formas haverão sempre amantes e histórias para contar.

Haverão sempre lábios a querem ser beijados ainda que não tenhamos coragem de o fazer….

Haverá sempre uma necessidade, ainda que insondável de ter a mão erguida em defesa de outras mãos, ombros com ombros a precisar de ser muralha, braços e corpos a pedir para ser entrelaçados.     

Chegadas e partidas impossíveis de gestuar nos contornos da pele.

Talvez seja por, para escrever, ter de haver em nós, qualquer coisa que quer ficar mas que se sente a ir…

Uma ausência qualquer que de tão habitual nos tragasse por dentro e nos regurgitasse no papel….

Um bem querer que se quer mais do que o real…. Quase que como se fosse capaz de nos reinventar…

Como se para escrever tivesse de haver qualquer coisa de irrealizável ou por realizar….

Talvez haja qualquer coisa que tem de morrer em nós por dentro para renascer como fénix no papel….

Talvez uma necessidade imensa de olhar o vazio existente, ás vezes para supera-lo, ás vezes para desafia-lo a comer-nos as entranhas.

Talvez seja mesmo isso… talvez para escrever tenhamos de ousar morrer e reinventarmo-nos letra a letra, despojarmo-nos de nós mesmos como se fossemos restolho atirado aos ventos….

Talvez precisássemos de não ter raízes….

Sim talvez o problema seja ganharmos raízes, talvez à medida que as vamos ganhando nos preocupemos mais em consolida-las que a narra-las.

Alguém escreveu um dia que “quando não era feliz escrevia e sonhava com todas as felicidades por acontecer…. Agora que sou feliz preocupo-me em viver”.

Talvez seja isso… deixamos de escrever porque somos felizes….

Ou será que na realidade simplesmente para, pela escrita não fazermos nascer em nós o Calígula de Albert Camus, para que nunca tenhamos de afirmar “os homens morrem e não são felizes” … "O mundo assim como está não é suportável, por conseguinte, preciso da lua, da felicidade ou da imortalidade, de qualquer coisa que seja loucura, talvez, mas que não pertença a este mundo."

Talvez seja por isso… Porque não queremos parecer loucos …

Afinal é verdade que há um pouco de loucura nessa senda de derramarmo-nos no papel.

 

terça-feira, agosto 06, 2019

Quando não sabes voar....

quando não sabes voar ...
só te resta naufragar
na torrente de água e sal 
que te escapa do olhar

e dás por ti a fingir ser 
marinheiro sem ter caís
lobo do mar temerário 
que afinal nunca zarpou

quando não sabes voar ...
sabes que não vale a pena sonhar
porque o reino que te foi prometido 
afinal nunca será teu

e quando dizes que és capaz 
de vencer mil vendáveis
rezas por cansaço para que não haja 
sequer leve brisa no horizonte

quando não sabes voar ...
por mais que guardes na alma 
memórias de todos os locais
percebes que sempre foi falsa 
a estrela guia 

e sabes que não vais encontrar porto seguro nem poderás almejares por mundos novos
pois por mais que subas à gávea 
não podes confiar no astrolábio

quando não sabes voar ...
aconteça o que acontecer 
para lá de todas as dores 
que te pudessem tornar avisado

sabes que és resto indigesto 
e que todos os teus atos
não vão passar de nados mortos 
perdido que andas em lugares comuns

e assim sabes que não adianta 
ficares sequer com um nó na garganta
pois do ontem e do hoje 
não te restou qualquer história

e para ti não te resta sequer 
um fim em glória
porque tu simplesmente 
nunca soubeste voar

terça-feira, julho 30, 2019

Tinha de voltar aqui

Andava arredado deste espaço confesso…
havia qualquer coisa que me impelia a para-lo, como se aqui estivessem repousados momentos e afetos que por força do tempo e da ausência ficaram amordaçados… como se retoma-los fosse ficar refém das memórias que ao longo dos anos que escrevi aqui fui derramando letra a letra, verso  a verso.. desabafo a desabafo…
Acontece que percebi, mais por força da insistência de alguns, do que por revelação própria (sim porque nestas coisas de revelações não sou grandemente avisado, que ser inteiro era também dar continuidade a este recanto….
Dai ter voltado, não sabendo se me vão ler, não me preocupando em anunciar o regresso…
apenas a confiar no que vier….

deixo-vos um texto que escrevi no inicio de 2019 e que esteve no meu face…..
porque aqui… mais do que outro lado qualquer é o espaço dele…
para que não fique ele próprio perdido no pensamento que formulou…
chama-se perdi…
Espero que gostem.

  
Perdi sabes.

Sabes o que é sentir isso…??

Sentir que se perdeu …???

Sabes o que é perder realmente …??? perder mesmo… ???

Perder mais do que um jogo de futebol a 20 a 0..

Sentir que se perdeu a própria vida?

perder mesmo depois de sangrar os dedos a segurar a ponta da corda ao máximo… até com os próprios dentes … e mesmo assim cairmos por não nos conseguirmos suster?

Perder mesmo depois de se dar tudo por tudo, depois de se abdicar de tudo, mesmo do que se gosta, mesmo do que se é… depois de dar a pele, a carne, os ossos, o tutano, as entranhas e mesmo a própria alma ??

Perder mesmo depois do fim do palco.... depois do cerrar do pano…

 Até ficarmos vazios por dentro e por fora …

Perder mesmo depois de nos convertermos em nada para concretizar o certo e mesmo assim depois do certo falhado ficarmos com menos do que um sabor azedo amargo na boca e uma raiva a entorpecer-nos por dentro…???

- Porra para a raiva que nem mesmo ela se manifesta além de me entorpecer…

Nem para dar murros na parede serve, nem para sangrar os nós dos dedos...

Nem para, pela dor física, nos aliviar da dor…

Sabes o que atrevermo-nos a zarpar num navio??

Ousar arriscar??

Reunir as provisões da alma necessárias, reduzir todas as perdas, e depois da caminhada planeada e programada veres que, independentemente dos rumos que decidires, estás preso a uma ancora que nunca sai do cais por mais que faça esforços de manobra, como uma maquina que se ergue e dá o litro rotação a rotação sem conseguir mover a engrenagem??

Sabes o que é rever todos os passos…  passo após passo…  em busca do porquê do não avanço e sentir que mesmo depois do tudo certo e tudo feito, depois de tudo, dado, vendido, corrompido, se está exatamente onde se começou, mas desgastado….

Sentir que o peso desse desgaste nos desgasta mais que o passar dos anos… porque mesmo os anos tendem a não passar nesta engrenagem.

Como se a vida se tivesse convertido apenas nisto um chek-list obscuro de pequenos nadas concretizáveis ou não, que nunca se consegue cumprir …. Pois tudo volta a ter de ser feito depois de tudo estar feito…. E ainda por cima sem memória dos caminhos percorridos para simplificar as tarefas.

Como se não tivéssemos outro destino e outra meta do que ser náufragos à partida numa viagem sem fim a vista, onde não há rumo abrigo, ou promontório…. Apenas desgaste e esmorecimento, apenas a pele a secar por força da maresia… até o mar nos secar dos olhos…

Como se o nada e haperon fossem apenas o vácuo que fica depois de darmos o último suspiro e o nosso estomago não fosse mais do que um sorvedor dos murros psicológicos que damos em nós mesmos…

Como se não fossemos mais que autómatos á beira do caos…. Ovelhas condenadas ao abismo…

Lembras-te do desenho das ovelhas à beira do abismo, com todas as ovelhas a irem numa direção … a direção da morte e uma única ovelha no sentido contrário, com um balão de diálogo a dizer excusez moi! excusez moi! ??

Como te sentirias se te dissesse que dei tudo por tudo, que fui essa ovelha negra a ir contra a corrente, que sempre percebi que tinha que fugir do abismo….

Até ter percebido que esse rumo pseudo certo apenas me conduzia a novo abismo??

Sim do outro lado da montanha há um novo abismo… pena é que só de vê depois de dobrar a esquina e acredita demora que se farta a faze-lo….

Como se cada passo fosse um só por hoje… só por hoje… só por hoje, hoje dá mais… hoje vais entregar-te… hoje vai ser só um bocadinho de pele e sangue … só hoje vá-la…… só por hoje ….  

E o hoje não fosse mais do que um nada de futuros passados que se vão esmorecendo sem deixar raízes.

 Sabes o que é perceber que se me tivesse deixado ir na engrenagem o fim talvez fosse o mesmo, mas talvez menos doloroso, porque sempre é melhor cair no maranhal por meio de corpos e lã do que cair no vácuo.

Sabes o que é sentir que sou apenas vácuo??

Sabes o que é sentir saudades do tempo em que tinha tempo??

Tempo para ter conversas sem fim a vista?

Tempo para percorrer Lisboa de Lés a Lés, do ver filmes no ávila ao experimentar todos os sabores do Martim Moniz??

Tempo para beber um safari com sumo de laranja partilhado a dois do mesmo copo?

Tempo para acordar de madrugada e ver os caranguejos nas rochas do facho…??

Tempo para enviar flores e conseguir ir dentro da carrinha com a florista só para saber a reação de quem recebe… daquela forma genuína que não consegue ser expressada por palavras…. ???

Tempo para escrever cartas em papel e receber respostas , como se linha e folhas fossem o que eram mesmo, veiculo de almas e de afetos seladas pela saudade…

Tempo para ficar no carro a conversar horas a fio, sobre tudo e alguma coisa, como se toda a vida fosse aquele momento… porque na realidade tudo era aquele momento…

Tempo para dançar com alguém como se fosse a primeira vez que dançamos, como jamais voltaremos a dançar…

Sabes o que é ter de ter tempo para as palavras e mesmo assim elas permanecerem amordaçadas….

Sabes o que é saber que se perdem pessoas…. Como se por mais que quisesses suste-las antes da partida não tivesses outro remedio…

Sabes o que é perder pelo fim da vida dos que queremos, mas também, porque a vida de alguns ganhou engrenagens dispares sem que tivéssemos ao menos hipótese de dizer - fica!! …

Como se alguns ainda partissem por algo, qualquer coisa que fizemos, que nunca chegáremos a saber, mas que nos torna responsáveis pelo adeus.??

Sabes o quanto gostava de ter tempo para falar com quem se foi, de sentir, como sentia antigamente que tinha tempo, alma e coração para todos… como se fosse eu próprio um ninho da alma…

Fogo…. gostava mesmo de ser novamente um ninho da alma…. Daqueles ninhos que de tão puros nos lembram o colo de uma mãe???

Ehehehe “lembras-te daquela peça cómica que fizemos em eu quase perdia o tino e que os outros atores diziam “mãe… eu quero a minha mãe” ?

Até disso tenho saudades, da peça, do cómico, do colo… de ser colo que põe fim ao abismo, como se o meu abismo interior não existisse…

Perdi sabes ?

Sim …. Perdi…

Assumo …

E sabes …

A culpa é tua…

Tua..

Tu que te chamas Pedro, que tens 43 anos, que és maior, que trabalhas, que foste e és ator, que escreves, que és aprendiz das letras que dás tudo… que tens de dar tudo…

Tu que agora fazes lâminas não para ser cutileiro mas porque ao quereres sê-lo ainda te desafias , talvez porque vejas nos verdadeiros cutileiros que contigo privam verdadeiros mestres na vida e na partilha de saber e de afetos… como se o bater do aço lhes transferisse a sabedoria de quem precisa de dar tempo ao tempo para as peças saírem perfeitas.

Tua.. porque ainda não percebeste, ou talvez só agora tenhas percebido, e por isso talvez agora, só agora estejas escreve-lo que tens de parar o tempo e dedica-lo a quem realmente importa e ao que realmente importa…

 Talvez porque só assumindo as perdas e as dores... só depois de arder em cinzas.. seja enfim possível renascer, como aço que foi bruto forjado de forma sublime na tempera dos afetos …

 Talvez porque haja o que houver assumo o compromisso publico de estar agora mais presente e recuperar contacto com quem quiser recuperar contacto….

Por isso o escrevo aqui…

Para me ler e ser lido… como se assumisse o compromisso de ser farol dos outros e de mim próprio…

Não por estar mal … pois não estou mal…

Talvez porque outros como eu fiquem a saber que podem sempre recentrar-se no que importa realmente…

Talvez apenas por me ter dado para isto… por ontem me ter dado para isto….

Sem saber que para as estatísticas o dia 21 de janeiro (ontem) é por norma o dia mais triste do ano, ano após ano.,, vá-se lá perceber porque.