terça-feira, novembro 29, 2005

Fado ou a minha forma de ser ... Português

Há qualquer coisa em nós...
algo que se perdeu nos dias...
um sentimento qualquer
de quem sonha o mundo
e acorda num quarto vazio
um grito qualquer de grifo
que ficou por gritar,

Há qualquer coisa em nós,
algo inapalpável, algo nu,
como uma tela branca,
nua de cores, nua de formas,
godets vazios de um céu vazio
qualquer de tintas por explicar,
uma guitarra qualquer esquecida
perdida, parada no tempo

Há qualquer coisa em nós
que não sei explicar
uma vontade infindável
de pertencermos a algo,
de entrelaçarmos amarras
uma necessidade imensa de partir
vela ao vento asteada num veleiro
no cais esquecido pelos anos

Há qualquer coisa em nós
qualquer coisa estranha
um rubor qualquer de pele
que permanece quedo
longe do toque,
um gesto doce e afável
que contivemos
um beijo quente
que ansiamos dar
por um instante...sem o fazer

Há qualquer coisa em nós
Qualquer coisa que é palavra sem o ser
Uma dor intensa que não dói
Um vazio qualquer breve
que não queremos preencher
Uma saudade intensa
Sem ausência
Um poema, uma canção
Uma alvorada

Há qualquer coisa em nós
Que nos fez ser mareantes
Sem temermos o fim do mapa
Mas que nos faz ter medo do futuro
Que nos fez andar aqui,
ai e em toda a parte
Ante e além navios
Sem que pudéssemos pertencer
a parte alguma.

Há qualquer coisa em nós
Que é Severa,
Que é Amália
Que é Bocage
Que é Salgueiro Maia
Que é Eusébio
Que é Santana
O velho homem das castanhas
Ou mesmo o nada

Duas mãos quaisquer
amando apaixonadamente
uma guitarra
um voo que é dado
no céu de um papel
tudo isto é um grito hirto
vindo da alma...
tudo isto é ser português
tudo isto é o meu fado

sexta-feira, novembro 25, 2005

Bom fim de semana

Porque hoje apetece-me ser simples.
Porque o grito, o sopro e a voz se encontram encantados na amizade que têm por mim.
Porque estou enternecido com o vosso carinho e o vosso apoio.
Porque há sentimentos que não podem ser traduzidos em palavras, sonhos maiores do que este céu de letras onde deixo pedaços dos meus dias.
Hoje apetece-me deixar-vos uma frase que alguem me disse um dia, numa daquelas tardes em que a espera se prolongou sem tempo...

"tu não estás só... o teu corpo pode estar só.... a tua alma não"...

Espero que um dia as almas possam andar nuas, sem as máscaras e roupagens dos corpos, como se todos fossemos entes de luz e de sonho.
beijo para quem for de beijo, abraço para quem for de abraço,os dois para quem souber o bom da vida.
bom fim de semana

quarta-feira, novembro 23, 2005

Pois é estou mais velho...

Tenho o dobro de 15 anos e metade de 60... poderia dizer que tenho um quarto de 120 mas não me atrevo a entrar nesses filmes...
Está-me a saber bem ter 30 anos.
Sinto-me como se tivesse reinventado em mim algo que tinha esuqecido, como se tivesse conseguido recuperar um pedacinho da pureza que achava perdida, como se estivesse um bocadinho mais perto da luz...
E eu que andava a deprimir... serio ... os últimos dias dos 29 anos estavam a custar-me, parecia que me estava a condenar a ser um “cota”... já me imaginava acabado, conformado e outros ...ado(s) de quem nem me apetece falar.
Mas a entrada nos 30 anos não foi nada pesada... muito pelo contrário, foi bastante leve, e não estou a falar da ajudinha que os dois beirões e os dois shoots me deram ( Jessica e Diana - obrigado pelo convite para sair e pela motivação para que não bebesse o tradicional café au lait; pessoal do mood – grande bar- obrigado pelos shoots e pela vossa companhia a bebe-los), Tratou-se mais de uma libertação, tratou-se de ter recomeçado a sentir a vida a pulsar em mim, de ter conseguido relaxar.
Há uns tempos para cá andava nostálgico e tenso sem saber porque, (mesmo no te-ato e nos exercícios de relaxamento tinha uma tensão interior tão grande que era capaz de moer a paciência ao encenador).... parecia que o mundo estava a acabar-se aos meus olhos.
Depois e com a ajuda de amigos como a Diana, a Catarina, a Inés , a Mauy, o Bruno, A Ana João, a Ana Teresa, a Sabine, sem esquecer a Carla (que ainda não conheço mas que espero vir a conhecer) e claro alguns outros, também especiais. que ainda não conhecem porque ainda não vieram ao blog e não postaram nele, mas que sei que estão comigo, percebi que estava a fazer uma tempestade num copo de água e sem qualquer razão para tal. Afinal e como disse o gerente do mood , “ter 30 anos é ter 15 com porquês” isto é, é saborear a vida, saborear o sonho, saborear as formas com que nos vamos prendendo aos outros, sabendo que o fazemos e quais as dimensões mágicas desses enredos, duma forma responsável sim mas tão intensa como outrora.
Agradeço-vos a todos, aos que cá vem e comentam, aos que não comentam, aqueles que não vem cá mas que sãomeus amigos e estão comigo no dia a dia, os votos de parabéns, mas sobretudo o facto de partilharem comigo esta aventura do quotidiano.
Agradeço-vos as vossas opiniões, comentários, críticas, a vossa pertilha dos sonhos... deixam-me mais rico, mais vivo, mais solto.
Bem, hajam

segunda-feira, novembro 21, 2005

gaivota..

porque o blog da carla me fez pensar num poema que escrevi há uns tempos.

Na esperança de que sejamos todos gaivotas, areia, céu e mar.
boa semana.
começo a sentir o turpor da idade...



Gaivota...

Se fosses gaivota branca...
voando no azul celeste,
bailarias no espaço...
inócuo da existência
serias livre , solta a musa
a verdadeira reencarnação da luz
dessa luz solar profunda
que se reflectiria sob as tuas asas
levando-te a bailar ...
como se de repente...
abraçasses o infinito
num gesto imenso e suave
... tão suave
como se seduzisses ,
como se iluminasses
se tu fosses realmente...
gaivota branca
meus sonhos seriam o céu ...
em que habitavas
meu corpo ...os minúsculos ...
graus de areia em que tocarias
ao de leve quando poisas
meu rosto seria o mar imenso ...
em que mergulharias teu corpo ...
puro rectilíneo...
dessa forma tão subtil ...
como quem beija...
como se te entregasses á imensidão ...
das minhas aguas ...
feitas de mãos entrelaçadas
em gestos feitos de alma e dor...
como se te envolvesses
pela salinidade amarga dos meus olhos
que embalam lagrimas
mas se tu fosses realmente a gaivota
branca
serias livre eterna ,
uma verdadeira deusa
circe e rainha dos céus...
na sua plenitude
dominarias um espaço sem limites
sentada num trono feito de raios de sol
coberta de um manto de penas .
Mas será que serias a minha luz ?
será que ??? não !.. não sou mar ,
não sou céu, nem vento
para se ser mar ,céu ,e vento
é preciso ser forte, é preciso arriscar
eu sou parado, quedo, dissimulado
gosto de estar encoberto ...
no seio da minha carapaça
talhada de recordações
feitas do passado ,desse passado
que me leva a recuar sempre ...
sabes as vezes quero ser gaivota...
quero partilhar os céus contigo
as vezes quero largar tudo
e bailar no infinito a teu lado
simplesmente a teu lado ...
mas não posso ,
não tenho asas, nem sonhos
sou um mísero terrestre
só e triste , alguém que ao entardecer
quando te vê na praia
com essas tuas penas brancas
cobertas pelo manto doirado
do pôr-do-sol
se limita a despir a sua carapaça
oculta , recondida, oclusa
em toda a sua pequenez
e se deixa sonhar,
sonhar ...
voar contigo

sexta-feira, novembro 18, 2005

amo-te... um texto que escrevi numa altura em que queria fugir a poesia

Amo-te...
Ele dissera esta palavra mil vezes antes de a encontrar naquela tarde soalheira de verão.
Disse-o alto e bom som, horas antes mal se levantará pelas 7 horas da manhã. Disse-o sem temer o grito de silencio que amordaçava o gesto e lhe ocultava a luz.
Disse-o desprezando a aparência cinzenta e rancorosa dos caminhos empedrados da cidade velha e pisou-os com tal brevidade e doçura que parecia estar a var.
Talvez estivesse mesmo a voar !!!!
No fundo estava, ele por certo não se lembrará como não se lembrou até hoje de ter atravessado a avenida Marques de Pombal sem aguardar o verde do semáforo, nem de percorrido a passos largos as rua do Centro Comercial Dom Dinis pejada de gente no suplicio caustico das horas de ponta, de modo a apanhar o autocarro que o levaria a ela .
Muito menos reteve na sua memória os 3 km que percorreu a pé até chegar a casa e que só foram interrompidos donde a onde para procurar no meio da vegetação rasteira as flores bravias que ela tanto gostara e que só não chegou a colher por ter chegado a conclusão que elas eram tão bonitas e raras que seria egoísta roubar-lhes a liberdade e privar os outros do prazer de contemplarem tanta beleza, mais do que isso sabia que ela mais do que apreciar o sacrifício da beleza das flores cometido em sua honra, admiraria muito mais o facto de as poder observar ali, naquele recanto debaixo da velha árvore refugiadas num manto de urze. Assim talvez ele pudesse leva-la lá um dia, talvez aquele espaço se convertesse no santuário do seu amor.
Tão pouco ele dará importância aquela noite que passou em claro, no silêncio do seu quarto iluminado pela vela que lhe havia dedicado e que esperava que a protegesse, à procura da forma de vomitar para o papel o testemunho daquilo que não conseguia dizer por palavras mas que estava tão enraizado na sua alma e no seu coração que talvez o olhar dela, aquele olhar visionário e misterioso, mas ao mesmo tempo terno e doce ao incidir sobre o dele bastasse para que ele entendesse a força que o seu sorriso lhe transmite e o facto de estar perto dela, mesmo que apenas na alma, o deixa presente e vivo. Talvez um olhar bastasse....
Ele sabia que as palavras já estavam todas gastas, que já tinham sido mutiladas, violadas, ditas e desditas. Ele conhecia essa dimensão quase essencial que se estende para lá do verbo e do corpo, e a memória do seu coração tinha ainda presentes as chagas que a dor do verbo aprisionado e sofrido provoca mediante a impossibilidade da concretização do seu sonhar.
Ele e ela sabiam que o amor era muito mais do que a palavra pode definir. E a palavra muito menos do que a realidade só sua do sentimento que os unia.
Nas suas dores. No medo que ganhará antes de a conhecer ele aprendera que as palavras são a mera materialização dos sentimentos, elas apenas acorrentam e estrangulam o sonho.
Há tempos ele procurou alguém que lhe cortasse a língua e as mãos, só assim, através da mutilação do seu corpo teria conquistado a liberdade, mas teria também caído numa resignação negativa e amarga .... a palavra “amarga” traduzia verdadeiramente o seu cansaço e a sua desesperança, um refúgio perante a possibilidade de se voltar a dar e se perder.
Ele tinha declarado a morte do amor, tinha feito suas as frases de W. Auden em funeral Blues quando este dissera...

« ... Pensava que o amor duraria para sempre, estava errado.
As estrelas já não são precisas, apaguem-nas todas.
Empacotem a lua, desmantelem o sol.
Esvaziem os mares, varram para longe as florestas.
Nada agora pode trazer-me qualquer bem....»

Ele próprio num dos momentos em que contra a corrente do silencio a que se vetará tinha escrito num dos seus “abortos” ( os outros chamavam-lhes poemas por não conhecerem as chagas que os vomitam e se dilaceram no seu peito ) que “ a palavra amor já havia perdido há muito a voz, derramada que fora nas lágrimas de um anjo que irado partira para longe e os deixara tão sós” .
De resto ele já não poderia dizer como em criança que amava alguém até a lua, pois ela já não era aquele belo e inabalável astro que servia de guia aos marinheiros e alimentava as fábulas e os sonhos dos poetas e havia visto o seu ventre violado pelos “passos grandiosos do homem” numa supressão da fronteira do sonhar.
O seu consolo é que ninguém poderia medir ou avaliar a profundidade do seu amar, ninguém violentará as fronteiras que o unem ao seu amor e os refugiam num mundo longe da todas as mágoas e as dores.
Ele havia descoberto essa segurança, esse seu pequeno triunfo, quando andando perdido nas saudades que tinha dela, procurara encontrar-se, sem sucesso, no gole daquela bebida que havia dividido com ela na primeira e derradeira noite em que estiveram sentados a mesa juntos no mesmo bar, mas nem mesmo o estado inebriado provocado pela sucessão dos goles e das tentativas para se encontrar o afastaram da sua presença ausente. Nem sequer aquela bebida, que foi e será sempre, a bebida deles terá a mesma doçura e o mesmo sabor se não for sorvida a dois de um mesmo copo, na cumplicidade de quem partilha as almas e os sonhos.
Amo-te... foi esta a frase que ele disse novamente quando sozinho se dirigia ao restaurante da sua aldeia onde haviam combinado encontrar-se, e voltou a dize-lo quando quase sem resistir ao momento a viu aparecer de uma forma terna ao longe, bem no limiar dos seus olhos. Quando ela surgiu ele sentira-se renovado, ela preencheu-o por dentro, ela iluminou-lhe a alma e alimentou o seu sonhar enquanto conversavam os dois. Falaram dos seus medos e sonhos, teceram amarras que embalam os seus sonhares, cruzaram todos os limites para longe dos quais a solidão não se estende. Mostraram-se amigos, foram ombro e abraço, aconchego e grito. Para ele foi tanto, mas tanto que talvez sob o efeito anestésico da presença dela a palavra tenha ficado sossegada na sua garganta e ele só tenha conseguido exprimir por gestos o que sentia no momento em que se despediram...
É certo que ainda hoje não falaram sobre isso, talvez não cheguem a falar, ele transportará para sempre a palavra cravada no seu peito, talvez nunca voltará a estar tão perto de a dizer a alguém tão doce, tão sonho, tão luz .
Se a palavra amor for de facto “uma ave a tremer nas mãos de uma criança, que se serve de palavras por ignorar que as manhãs mais lindas não têm vós “. Talvez o olhar dela o aconchegue e sem medo ele venha a romper o silencio e dizer, sem medo das palavras..... AMO-TE.

segunda-feira, novembro 14, 2005

chamei-te.... para quem tem alguem na alma e chama por esse alguém no vazio

Chamei-te ...ao vento, doce vento
Chamei-te porque precisava de te ver...
de fugir ao silêncio da vida amorfa
e queria revitalizar em mim
a eloquência do sonho e do poema

Chamei-te...não porque tivesse algo para te dizer
não porque fosse imperativo que viesses
chamei-te só porque dizer teu nome
como que em preces
faz-me sentir-te aqui
mesmo sem vires

Chamei-te por tudo o que intuíres
E por outros mistérios e devires
ou outras tantas tropelias
de palavras ou folias

Chamei-te só para sorrires
chamar-te é estar mais próximo
do alento ser quase divino
mesmo que em sofrimento

Chamei-te ...só para ouvir-me dizer
a terna forma do teu nome
e sonhar que virás,
um dia virás
mesmo sem vires

sexta-feira, novembro 11, 2005

O infinito ... segundo inês

porque o que se pretente acima de tudo é que este blog seja um espaço de partilha.

" O infinito é o tudo e o nada, hoje digo que é tudo o que eu gostaria de ter mas nada do que eu tenho, queria amar e ser amada, queria poder sentir sem ser só ao sabor do vento, queria poder olhar e amar, sem medo do que encontrasse quando tudo terminasse.
Hoje decidi ir até ao infinito, depois percebi, que esse infinito seria ali a partida e noutro sitio a chegada, porque o infinito é tudo aquilo que quisermos, é até onde quisermos ir...com medo? Não sem medo do que possamos encontrar, a vida é isso mesmo...a vida é um infinito de coisas que não tem significado nenhum, o significado delas é aquilo que nós quisermos que seja, simplesmente o que quisermos que seja.
Por vezes, ao caminhar na praia, olhando para o mar e vendo a linha do horizonte, pergunto-me o que se passará para lá daquela linha e se um dia conseguirei alcança-la, para mim, se existe algum “infinito” será aquela linha, aquela linha que não tem fim, pois cada vez mais que eu avance a linha avança também e assim sucessivamente...por isso, o infinito só existe se nós quisermos tal como o impossível, nada é impossível...nada é infinito. "


este texto foi colocado com autorização da autora, se quiserem enviem textos para serem publicados.

quarta-feira, novembro 09, 2005

Porque ...o meu infinito

Porque há algo em nós
que se perde e se acha
um infinito
de sonhos com graça
uma vontade louca
de te envolver
um abraço ao vazio
que se agarra ao mundo

Porque há um braço
erguido contra o silencio
um gesto contido
a deriva no espaço
um beijo tranquilo
roubado no embaraço
um sopro de vida
especial e escasso

Porque há mistérios
por desvendar
barcos fantasmas
à deriva no mar
perfumes de flores
que não sei descrever
uma gota de orvalho
em que vivem mil seres

Porque a efémera
só dura um dia
mas voa livre
toda a sua vida
e eu vivo sempre
na correria
e não paro um segundo
nesta friesta de mundo
que é uma vida

Porque cada partida
pressupõem chegada
e cada fim
um recomeço
pegadas na areia
num novo rumo
cicatrizes escassas
que acendem os dias


Porque se te olho
...estremeço
mas se não te vejo
....esmoreço
porque te adoro
mas não te beijo
e beijo no vento
as marcas de ti

Porque há palavras
que não sei dizer
mas que sinto cá dentro
como que a enlouquecer
e há um vazio
preenchido do nada
e um nada que é tudo
e nasce em poema

Porque o infinito
é o tudo e o nada
ponto de partida
ponto de chegada
um cais de embarque
ou a última morada
os confins do espaço
o oceano sem fim
toda uma vida
ou num segundo
a palma da minha mão
que erguida te acena
temendo a despedida

HÁ DIAS ......

Deixo-vos um extracto do conto Assinar a pele de Pedro Paixão,para pensarem e sentirem.

"Há dia, sabes, em que gostava de ser como o gato e que me tocasses sem desejar encontrar quaisquer sentimentos a não ser o que se exprime num espreguiçar muito lento - um vago agradecimento? - e que depois me deixasses deitado no sofá sem que nada pudesses levar da minha alma, pois nem saberias o que dela roubar."

segunda-feira, novembro 07, 2005

verdade

Verdade
Que palavra é essa
Verdade verdadeira
Secreta e derradeira
Que palavra essa
Que palavra será

Verdade
Que palavra essa
Que palavra será
Palavra que é grito
Grito aflito
Que palavra é essa
Que sonhos dará

Verdade
Que palavra essa
Que palavra será
Sonho que é sonho
Sonho derradeiro
Sonhar-te
Sonhar-te... sonho verdadeiro

Verdade
Que palavra é essa
Palavra voz
Voz que é povo
Povo de nós
Sangue nosso
Alma nossa
Soro nosso

Verdade
Palavra vera, vero
Vera, primavera
Primavera nossa
Flores de abril
Sair do covil
Sai do covil

Verdade
Que palavra essa
Palavra gritada
Sussurro sem tempo
nem grito
voz do povo,
povo nosso
sorriso teu
alento nosso

Verdade....
que palavra essa
que palavra será...
murmúrio que ecoa
além das ondas
ante e além do sonho
grito que é grito
sonho que é sonho
canto nosso
canto do meu canto
canto que te canto

Verdade...
que palavra é essa
que palavra será???
Sopro aflito
Grito aflito
Andorinha que voa
sem grilhetas
vento norte
gaivota sem marés

verdade
que palavra é essa???
Que palavra será...
Sopro do momento
Longe do descontentamento
Voz do povo
Povo nosso
Grito teu
Sonho teu
Sonhar ...ser teu

Verdade
que palavra é essa
Que palavra será???
..... liberdade
verdade....
Saudade...
Amor...
Sinceridade...
Amor...
Eternidade...
Que palavra é essa???
Que palavra será???




ps: este poema surgiu num convite que alguém amigo me fez para escrever um poema em torno da palavra "verdade".
achei importante dizer isto, não só porque por isso o poema também lhe pertence, mas acima de tudo porque vos queria deixar um desafio......
enviem-me juntamente com os vossos possiveis comentários uma palavrasobre a qual gostariam que escrevesse um poema... prometo tentar satisfazer-vos...
abraço forte.
pedro

sexta-feira, novembro 04, 2005

à procura...dum amigo

hoje vou deixar-vos um pedacinho da obra o principezinho de Antoine de Saint-Exupéry.espero que ele tenha em vocés o mesmo peso que teve em mim.
bom fim de semana. espero que nos continuemos a "prender" todos uns aos outros.


(...)
Foi então que apareceu a raposa.
- Olá, bom dia! - disse a raposa.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente o principezinho que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui - disse a voz - debaixo da macieira.
- Quem és tu? - perguntou o principezinho. - És bem bonita...
- Sou uma raposa - disse a raposa.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe o principezinho. - Estou triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Não estou presa...
- AH! Então, desculpa! - disse o principezinho.
Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:
- O que é que "estar preso" quer dizer?
- Vê-se logo que não és de cá - disse a raposa. - De que é que tu andas à procura?
- Ando à procura dos homens - disse o principezinho. - O que é que "estar preso" quer dizer?
- Os homens têm espingardas e passam o tempo a caçar - disse a raposa. - É uma grande maçada! E também fazem criação de galinhas! Aliás, na minha opinião, é a única coisa interessante que eles têm. Andas à procura de galinhas?
- Não - disse o principezinho. Ando à procura de amigos. O que é que "estar preso" quer dizer?
- É a única coisa que toda a gente se esqueceu - disse a raposa. - Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
- Laços?
- Sim, laços - disse a raposa. - Ora vê: por enquanto, para mim, tu não és senão um rapazinho perfeitamente igual a outros cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Por enquanto, para ti, eu não sou senão uma raposa igual a outras cem mil raposas. Mas, se tu me prenderes a ti, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E, para ti, eu também passo a ser única no mundo...
- Parece-me que estou a começar a perceber - disse o principezinho. - Sabes, há uma certa flor...tenho a impressão que estou presa a ela...
- É bem possivel - disse a raposa. - Vê-se cada coisa cá na Terra...
- OH! Mas não é da Terra! - disse o principezinho.
A raposa pareceu ficar muito intrigada.
- Então, é noutro planeta?
- É.
- E nesse tal planeta há caçadores?
- Não.
- Começo a achar-lhe alguma graça...E galinhas?
- Não.
- Não há bela sem senão...- disse a raposa.
Mas a raposa voltou a insistir na sua ideia:
- Tenho uma vida terrivelmente monótona. Eu, caço galinhas e os homens, caçam-me a mim. As galinhas são todas iguais umas às outras e os homens são todos iguais uns aos outros. Por isso, às vezes, aborreço-me um bocado. Mas, se tu me prenderes a ti, a minha vida fica cheia de sol. Fico a conhecer uns passos diferentes de todos os outros passos. Os outros passos fazem-me fugir para debaixo da terra. Os teus hão-de chamar-me para fora da toca, como uma música. E depois, olha! Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? Eu não como pão e, por isso, o trigo não me serve de nada. Os campos de trigo não me fazem lembrar de nada. E é uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então, quando eu estiver presa a ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti. E hei-de gostar do barulho do vento a bater no trigo...
A raposa calou-se e ficou a olhar durante muito tempo para o principezinho.
- Por favor...Prende-me a ti! - acabou finalmente por dizer.
- Eu bem gostava - respondeu o principezinho - mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e uma data de coisas para conhecer...
- Só conhecemos as coisas que prendemos a nós - disse a raposa. - Os homens, agora, já não têm tempo para conhecer nada. Compram as coisas já feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, prende-me a ti!
- E o que é que é preciso fazer? - perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim, em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não me dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas todos os dias te podes sentar um bocadinho mais perto...
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito...São precisos rituais.
- O que é um ritual? - perguntou o principezinho.
- Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - respondeu a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, têm um ritual, à quinta-feira, vão ao baile com as raparigas da aldeia. Assim, a quinta-feira é um dia maravilhoso. Eu posso ir passear para as vinhas. Se os caçadores fossem ao baile num dia qualquer, os dias eram todos iguais uns aos outros e eu nunca tinha férias.
Foi assim que o principezinho prendeu a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - ai que me vou pôr a chorar...
- A culpa é tua - disse o principezinho.- Eu bem não queria que te acontecesse mal nenhum, mas tu quiseste que eu te prendesse a mim...
- Pois quis - disse a raposa.
- Mas agora vais-te pôr a chorar! - disse o principezinho.
- Pois vou - disse a raposa.
- Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...
Depois acrescentou:
- Anda, vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo. Quando vieres ter comigo, dou-te um presente de despedida: conto-te um segredo.
O principezinho lá foi ver as rosas outra vez.
- Vocês não são nada parecidas com a minha rosa! Vocês ainda não são nada - disse-lhes ele. - Não há ninguém preso a vocês e vocês não estão presas a ninguém. Vocês são como a minha raposa era. Era uma raposa perfeitamente igual a outras cem mil raposas. Mas eu tornei-a minha amiga e, agora, ela é única no mundo.
E as rosas ficaram bastante incomodadas.
- Vocês são bonitas, mas vazias - ainda lhes disse o principezinho. - Não se pode morrer por vocês. Claro que, para um transeunte qualquer, a minha rosa é perfeitamente igual a vocês. Mas, sózinha, vale mais do que vocês todas juntas, porque foi a que eu reguei. Porque foi a ela que eu pus debaixo de uma redoma. Porque foi ela que eu abriguei com o biombo.. Porque foi a ela que eu matei as lagartas (menos duas ou três, por causa das borboletas). Porque foi a ela que eu vi queixar-se, gabar-se e até, às vezes, calar-se. Porque ela é a minha rosa.
E então voltou para o pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Foi o tempo que eu perdi com aminha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. - Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...
- Sou responsável pela minha rosa... - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer .

quinta-feira, novembro 03, 2005

hoje II

Hoje não me apetece
sequer pensar em correr
Começo a pensar
que não faz sentido
andar de lés a lés

Não é mais feliz
quem anda sempre
a dar corda aos pés
e mesmo as flores
mais belas tem as raízes
fincadas no fundo do chão

Hoje apetece-me
parar o relógio,
todos os relógios
Atirar o telemóvel
contra a parede,
demolir a parede
e simplesmente gritar
e gritar,

Cantar e cantar
uma melodia sem tempo,
que fale de histórias
de amores felizes
que o tempo não esqueceu

Eu hoje só quero
sair à rua despido de mim
sentar-me numa esplanada
em todas as esplanadas

e falar com alguém
que ainda não conheço
só para conhecer...
sem pressões,
nem referências,
nem grilhetas

Porque hoje só quero
beber desse sorriso
partilhar desse olhar
e dar-me, e dar-me...
e dar-me...
...só por dar

Hoje apetece-me
por um chapéu de palha
vestir o fato de banho
e mergulhar num regato,
todos os regatos
mar de sonhos
recriados em brincadeiras
dos meninos que já fomos

Eu hoje só quero
largar o fato e a gravata
Vestir-me de alma
E luz
Jogar futebol descalço
e fintar como o Feher fintava
e voar para as bolas
como o Damas defendeu

Ai quem dera
voltar a ser criança,
brincar como criança
imaginar castelos,
piratas e dragões

Ai quem dera,
poder sonhar com a luz
com o Tarzan,
o Quasímodo ou o Quimera

E dizer num grito
pintado nas paredes
que se ama alguém...
até ao céu

Eu hoje só quero
parar de pensar...
de pensar e pensar
e passar a sentir...
tocar não intuir...

E abraçar, abraçar
....e parar...
atracar-me sossegado
ao corpo doce de alguém

Eu hoje só quero
gritar este grito,
sopro aflito
que invade de sonho a vida


Eu hoje preciso
partilhar esta dor
e deixar de sentir...
intuir, intuir

Saber os rumos
que hão-de vir
recriados nas estrelas
que há no céu

Eu hoje só queria
Dar vida, ser vida....
Sentir que não me vou
Na indiferença

Saber quem sou
...na poesia
neste calor que trago
no peito e não sei guardar

eu hoje só quero...
sonhar....
sonhar....
e amar

amar alguém
até ao fim dos dias
até ao fim da alma
neste ou noutro tempo
em cada restício
alado de calma
que me tolda
o pensamento

E eu hoje só queria
Sonhar-te sem fim
Tornar-te folia de mim
Tornar-me folia de ti
Saltimbancos
De um trapézio louco
Suspenso no céu

E eu hoje só queria
Ser voz e canção
Dar vida a canção
Dos dias que trago
sem pensar
dos medos que sinto
sem viver
desta raiva
que não vai parar
se não escrever

quarta-feira, novembro 02, 2005

hoje

hoje não me apetece postar nada meu,talvez porque esta sina de amar o outro lado da lua as vezes me deixe sem palavras, sem voz,sem sonhos.
peço-vos apenas que esta noite reparem na lua, bebam da sua força, da sua capacidade de devolver toda a luz que recebe do astro rei. Essa lua que nos vela e influencia a terra e as marés. A mesma lua que em criança julgava inatingivel e por isso assumia ser o fiel da minha capacidade de amar.
Espero que ela ilumine os vossos sonhos.