domingo, junho 18, 2006

AS CARAVANAS DO ESQUECIMENTO

Um poema do meu grande amigo lorenzo monsanto sandoval, porque apesar de tudo ele sim sabe ser poeta..

abraço lorenzo


Por favor
Apaguem as luzes.
Desçam as cortinas.
Arrumemos os adereços.
Cenários.
Deixemos o soalho de madeira,
Respirar e acumular o pó,
Sob o efeito de luz dançámos.
Arrumemos pois.
Bagagens.
Rumemos para outra aldeia.
Aqui, aqui já nada existe.
Sobejamente conhecidos.
Sobejamente rejeitados.
Partiremos pois, porque se faz tarde.
Partiremos pois, livres.
Partiremos pois, deixando para trás
O palco, onde tantas vezes se declamou
E actuou.
Partiremos pois
Nas nossas velhas caravanas do esquecimento.
Partiremos pois, e cantemos
Sobre as notas flutuantes
Das gaitas-de-beiços.
As brumas recolhem agora,
Odores e fragmentos de amor,
Que durante muito tempo
Arrepiaram a nossa pele.
Os nossos diálogos
Ecoaram docilmente nas longas madrugadas de Inverno.
Contigo vimos chegar
O senhor do frio
E foi também contigo, que vi o sol morno adormecer
Nas ondas de diamante de um mar,
Que nunca foi nosso.
Arrumemos pois
E rumemos para outra aldeia.
Aqui, aqui a Terra já nada quer receber.
Santa afirmação.
Aqui, aqui a Terra ilude-nos,
Mas nós, nós não estamos secos.
Nós não somos o chão que acolhe a lama suja.
Nós somos a arte.
A arte incompreendida.
A arte de perder o que se ama receber.
Nós somos a arte, onde a paixão se divide
Em milhares de lagos
E onde
Nos banhamos meigamente
Nos açudes refrescantes da harmonia.
Nós não temos medo.
Nós não temos medo de invocar
Sentimentos inglórios e distantes.
Nós caminhamos sobre as pedras abruptas
Do caminho desconhecido e abrupto.
É neste, que vamos semeando farpas de desprezo.
Nós estamos aninhados.
Nós estamos interiorizados.
Em pequenas bolas de sabão.
Bolas de sabão que apenas seguem
As eloquentes brisas de Verão.
E lá, lá trepamos
Nas vivas cores de um arco-íris perdido.
Nós não estamos secos.
Nós não somos o chão que acolhe a lama suja.
Nós não somos a Terra impura.

5 comentários:

milhafre disse...

Monsanto... não tenho palavras...adorei o poema... obrigado por me deixares abrilhantar o meu espaço com o teu texto. es grande

Anónimo disse...

Meu amigo. Meu amigo bestial e supremo...Esse poema foi escrito com 22 anos...Já lá vai algum tempo...Sabes, na altura em que julguei vir a poder ser grande. Mas foi aí que começou o meu declinio...Foi aí que me comecei a isolar e a estar cada vez mais fora de mim, ou mais dentro, ainda hoje não sei bem. Este poema é muito pequeno para ti. Aliás eu sou pequeno para ti...Mas no fundo, som os dois foras da lei...Não porque vamos contras as leis, mas porque não jogamos o jogo...Tu sabes o que isto quer dizer...Um abraço. Conta comigo sempre.

Anónimo disse...

arrumemos o corpo também, mas libertemos a alma, simples palavras, ainda que nao pareçam sao suficientes (tal como é este poema para nos enaltecer nem que num sonho, nem que numa projecçao futura, ainda que nao se cumpra o que idealizamos), mais que gesto que engrandecem a aparencia, as palavras são denuncia, sao essencia do silêncio, então hoje suspiro aqui os meus parabens plo poema, tanto ao menino que o escreveu, num sonho seu, como a quem o partilhou hoje aqui connosco!


=) !


Menina do Olhar


Ps- nao tenho comentado muito pk tenho andado a estudar, mas eu vou passando ;) !

Beijuuuuuu **

Anónimo disse...

Enaaa... Lindo poema, sim senhor!!!
Espero que recuperes a força dos teus 22 anos com a experiencia dos teus devidos 30 (entretanto...)
Tudo está em nós, até a direcção que decidimos tomar...
Beijo Monsanto,
Beijo Pedro !

milhafre disse...

monsanto..

grande amigo.. comeu te digo sempre o poeta és tu.. mais uma vez obrigado pela força que é saber-te comigo.
como bem disse a cat espero que recuperes a força dos teus 22 anos e que a ela lhe adiciones a experiencia dos 30...
tens a idade perfeita para fazer tudo,...bem quase tudo... não é recomendada a praticade skate em dias de chuva... sabes porque... (a menos que nos queiras encantar com uma nova história do hospital)
abraço forte, o velho aprendiz de poeta curva-se perante um mestre.


menina do olhar

sem palavras é bom beber a esencia do que escreves, força para este periodo que agora se inicia..
que a luz brilhe em ti sempre.


cat

bem vinda de volta a este espaço, sentia a tua falta, sentia a falta dessa luz profunda e meiga que é tua.
obrigado por este profundo gesto de amizade, não só em relação a mim, como ao fernando, até porque quem meus amigos ama, meu coração adoça...
adoro-te.

a todos

este é salvo erro o post 65, já são quase 9 meses de escrita..
quero agradecer-vos por fazerem esta caminhada comigo pelo mundo das palavras...
bem ajam