segunda-feira, outubro 31, 2005

procuro-te

Procuro-te só para te conhecer
Sem querer coisas transcendentais
Só tenho tempo e braços para oferecer
E ouvidos que nunca escutarão demais

Procuro-te nas ruas da cidade
como quem procura sonhos debandados
em momentos preciosos de verdade
com a garra de quem busca mil mundos

Procuro-te nas vielas e calçadas
sinais de ti deixados nas janelas
como se fossem caravelas
buscando um cais para aportar

Procuro-te nos sorrisos que acendes-te
que coloriste com sonhos e emoções
desabafos e segredos cor do mar
revelados por poemas e canções

Procuro-te com todo o tempo para dar
Segundos da luz que deste
Corações com que coloris-te o meu mundo
Frases soltas dos poemas que escreves-te

Procuro-te no sopro do vento
luz que me acende o pensamento
pergunto-me se a chuva que cai
trará sinais de ti

Procuro-te num sopro, num gesto,
num fado,, num olhar
numa flor que se tenha aberto
só por te ver passar

Procuro-te neste poema
abafando este silencio
porque há instantes
que valem mais que mil vidas

e eu só queria poder te encontrar
e eu só queria poder te escutar
e eu só queria poder te ajudar
e eu só queria poder te abraçar

domingo, outubro 30, 2005

coisas que não sei dizer

A noite solitária
e fria
Que me envolve
hoje aqui
É a sincera e vã
testemunha
Do meu desejo eterno
de te cantar.
De deixar que tu
sejas musa
A musa...
A minha musa...
Único e derradeiro
testemunho
Desta minha alma
transcendental e nua
Nesse alento derradeiro
Que me devolve a fé
E me torna devoto
Do ser final
que não sou
Perpétuo adorador
do teu sorriso
Dessa chama de que necessito
Para continuar a ser
sem ter de existir
fingindo
sem ter de me entregar ao caos .
Sabes...
As vezes apetece-me partir
Ser um ligeiro e escasso
Farrapo de papel
Deixado à deriva
Feito um papagaio
A quem se rebentaram as amarras
empinado pelas mãos curiosas
da criança que fui.
As vezes...
Gostava de não ter corpo
De poder dizer-te quem sou
Sem palavras,
Como se fosse verdade
que me olhasses por dentro
talvez olhes mesmo
talvez eu tenha tanto medo
que não saiba ver-me
como dizes que sou
gostava de poder abrir-me contigo
sem mágoa e sem culpa.
Adorava poder levar-te a amar
o mar e os céus,
O vento raivoso
Que me embala a noite
Numa profecia de morte
E no entanto me devolve
ao glorioso sopro da vida.
Como se me trouxesse à memória
o teu olhar e a tua ternura
Sim ...
Eu conheço a beleza das estrelas
Sim...
Já bebi da sabedoria do deserto
Sim...
Encaro a vida como uma dádiva
Sim ...
Entrego-me e dou-me a toda a gente
Sim...
Estou sempre a ir-me
Mas os outros não entendem
E eu ainda não te consegui dizer
Que isto tudo não é...
Mas tu és .
Tu és vida...
Raios...
És vida...
A minha vida
Só não sei dizer-to
Gostava de dizer-te...
Só assim a sabedoria do olhar
Será proclamada
Só assim os olhos serão verdadeiramente
o espelho da alma
e todos nós deixaremos
de ser anjos mutilados
com medo dos gestos
e dos abraços.
Gostava de dizer-te....
E não consigo

quinta-feira, outubro 27, 2005

ONTEM... porque há sempre alguem a quem se amou e se perdeu...

Ontem apercebi-me
que jamais partilharas comigo
o teu sonhar
e depositarás em mim
as amarras do teu sentir

Ontem apercebi-me
que nos tornámos estranhos
de tanto nos conhecer
que esperámos mais do que podíamos
que eu sonhei enredos além da vida
e que colori a vida com sentidos
que não disse

Ontem apercebi-me
que a tua ausência
se tornou tão real
que nada mais faremos juntos
que jamais viveremos os dias
como vivemos no passado
que jamais voltaremos
a viver como vivemos
a fazer o que fizemos
a existir como existimos

Ontem apercebi-me
que a tua ausência
me leva a meditar
que a solidão que deixaste
me leva a reflectir
que só comigo posso contar

Então...
o frio da noite
penetrou-me na alma
e as chagas que em mim
te fiz deixar
tornaram-se vagas
e as vagas, marcas tuas
e tu estarás presente em mim
mesmo sem querer

Então...
renunciei ao estado letárgico
que me assolava
larguei a mágoa, a súplica
e a saudade
e esqueci esta dor
de te não ver
e assim
despido de todos os sentidos
náufrago de um novo mundo
posso aventurar-me...
e ser
.... eu

quarta-feira, outubro 26, 2005

Quando ...

Quando eu morrer
leva-me no teu regaço
e embala a minha alma
no teu peito
quando eu morrer
deixa-me ir assim
vão e escasso
que na ânsia de viver...
eu fui fracasso
e na gloria de sonhar-te
perdi-me por recordar-te
e nunca pernoitei
junto ao teu leito
deixa-me partir
não te peço que por mim chores
nem que grites à lua
tudo o que não foste
tudo o que não me deste
acredita que és tudo,
foste tudo
e não lamentes se ser tudo
não soubeste
deixa-me ir
não quero que vás comigo
deixo-te a rosa encarnada
que guardei em mim
e não te soube entregar
deixo-te o brilho da vida
reencarnado nos sonhos
que plantei na flor
das minhas mágoas
nas pétalas que colori
com a lembrança
dos sorrisos
que provocavas
deixo-me ...em ti
em todas as lembranças
dos momentos
que vivemos
e na memória
dos mundos
só teus
em que habitavas
deixo-me mesmo
nos despojos
só meus ...
da vida que inspiravas
mas nunca te despeças de mim
nem nunca chores
és demasiado doce
para chorares
e eu nunca quis ver padecer
alguém tão belo tão sonho
tão profundamente...
luminoso e vivo
vais ver que vou estar sempre aqui
enquanto houverem alvoradas
enquanto a primeira estrela do céu
persistir em assomar à tua janela
como se te quisesse saudar.
Mas nunca me lamentes
apenas deixa que no verão
as gotas de orvalho
salpiquem a tua cara
e sente-as como se fosse eu
como se fossem os meus lábios
permite que a brisa do mar
invada suavemente os teus cabelos
e os lance no reboliço
como se pairassem
por força das minhas mãos
vá ... deixa-te bailar suavemente
na ode da vida e vive-a
de uma forma imensa e pura
como quem sente, como quem ama
como quem sofre
Mas não te impeças de sonhar
e vive cada nova gloria numa entrega
cada dança, como a dança
da menina ave que sei seres
e deixa-te pairar
sobre os céus...
como se anjo fosses
sem temeres o frio ou o anoitecer
pois irei abraçar-te
nos teus sonhos
e velarei por ti
para sempre...
enquanto dormes