quinta-feira, junho 07, 2007

QUASE

Luis Fernando Veríssimo, um cronista brasileiro, escreveu este texto magnífico:

“Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no Outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.”

5 comentários:

Sophie disse...

As verdades são como o Sol, ofuscam-nos os olhos, queimam-nos as írias.
Não podemos ter mais do que um vislumbre da sua luz ou então um calor dos seus raios, como braços de mãe que nos afagam.

Um beijo meu.

Anónimo disse...

Decidi voltar hoje... passa lá ;)

bj

lisa disse...

...A lua, a noite cismam a meu lado. A estremecida lágrima cintila.
O meu desejo está presente ei-la, alheia aos meus olhos. E longínquo, no espaço é uma estrela mais uma, entre muitas outras que subiu ao céu...
(Agarra a tua estrela e sê feliz, porque somos gente e temos todo o direito de o ser.)

Beijo amigo.

AR disse...

Que texto lindíssimo...e bem verdadeiro!
Obgda pela partilha.

Claudia disse...

E como eu gosto destas palavras! Tanto, que já estão no meu canto há muitos meses!
Porque gosto e me dizem assim tanto!!!

Beijo Pedro