segunda-feira, abril 24, 2006

O amor

Para aqueles que amam...

Para os que sonham e vibram com a vibração que só esse sentimento dá.

Para os que trazem alguém na alma, memórias de alguém, da essencia de alguém, do cheiro de alguém, do viver de alguém, cicatrizes da presença do corpo de alguém deixadas na cama, no corpo, ante e além da pele , vestigios da partilha dos sonhos de alguém, mais ou menos presentes, chagas doces mais ou menos profundas e saradas.

Para aqueles que amam e são correspondidos. Porque ainda acreditam, porque apregoam o amor aos sete ventos, porque beijam, porque se dão, porque se embalam a dois no marasmo dos dias, porque se entregam.

Para aqueles que amam, mesmo sem terem coragem de dizer, porque sonham, porque se projectam, porque choram, porque suspiram, porque sentem, porque sabem o quanto vale um beijo o quanto ele é bom, e sabem o quanto custa sentir que o beijo fica por dar, o quanto custa ter a palavra amo-te a flor da pele sem que ela alcance os dias e mesmo assim se atrevem a estar lá, a serem fies a pessoa amada, e mesmo assim sonham com ela e davam a vida por ela.

Para aqueles que amaram e sofreram tanto que já não querem amar... porque uns e outros fomos todos pelo menos uma vez na vida parceiros nessa dor... na esperança de que num virar de esquina qualquer reencontrem de novo a luz.

Para os que nunca amaram, porque não foram, não são capazes de descrever este ganho que é vida, que é grito, que é essencia que é sorriso, que é também perda, suplica, desespero, lágrima... vida, quer essa vida nos escape ou não por entre os dedos... simplesmente porque nunca foram capazes de se deixar dar, deixar-se morrer aos poucos, para renascer em algo mais forte mais intenso... esperando que nunca venham a sentir a dor da ausência, a dor que é não saber o que é adormecer ao lado de alguém, tomar banho com alguém, chorar no ombro de alguém.

Para os que gozam com o amor que lhes é dado, para os que o usam, para os que traem, para os que pisam...temendo que a vida um dia se revolte contra eles e experimentem o mesmo remédio.


Para mim, que sei o que quero, que sei o que sinto, que sei quem amo, que o demonstro em tantas formas, que escrevo o amor, que sou dilacerado por ele, que sei o que perco por não beijar, mas que não consigo dizer a pessoa amada que o faço simplesmente porque as palavars já estão gastas.


... Deixo-vos um poema de Florbela Espanca... talvez o mais belo poema que conheço sobre o AMOR.




Amar!
Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca

4 comentários:

Anónimo disse...

sobretudo para os que já amaram e já sofreram e que esperam encontrar de novo a luz..

poema muito bem escolhido..

porque quando o sentimento é grande.. as palavras são tão poucas.. fico por aqui.

bjinhos**

Anónimo disse...

Porque amamos? Porque estamos ligados às sensações que nos foram oferecidas pelos Deuses? Amar não custa...Esquecer sim. A capacidade de sobreviver reside no poder de esquecer. Eu esqueco-me. Sim. Mas também lembro. Lembro-me das vezes em que a tua boca procurava sofregamente a minha. Lembro-me dos dias languidos passados junto do teu corpo adormecido. Lembro-me da tua pele, do toque suave dos teus dedos. Lembro-me de um dia em que disseste: "Ama-me para sempre no infinito dos nossos minutos"...

Anónimo disse...

Olá.
Eu acho que a capacidade de sobreviver não reside no poder de esquecer. Muito menos na capacidade de lembrar.

Parece que a capacidade de sobreviver reside no poder de retirar a palavra sobreviver do vocabulário e fazer com que exista apenas a palavra viver. Porque exactamente como disse Florbela Espanca, há uma primavera em cada vida e é preciso cantá-la. Por isso não se precisa de esquecer nem de lembrar nada, apenas viver. Não é esquecer que custa, o que custa é continuarmos a viver a saber que há outras memórias a fazer parte de nós.

Viver É amar. Só isso. :)

E claro, eu nao sou dona da verdade, apenas vejo a vida assim...

Beijinho Pedro e desculpa andar desaparecida mas isto tem andado complicado de tempo. ;) *

Anónimo disse...

amar... o medo muitas vezes reside no receio da ilusao, de so tu viveres, de so tudo te transecenderes...é como uma transcendencia da alma e do corpo,que te leva a conhecer os recantos até aí desconhecidos,que vasculha e revisita lugares nunca antes visitados...urgencia, ansiedade...mas tambem uma tranquilidade inexplicavel...as palavras sao demasiado mediocres para defenir tal sentimento, que tao exageradamente insistem em vulgarizar...tudo passa a passar dentro de ti..