quinta-feira, janeiro 19, 2006

o amor... por Miguel Esteves Cardoso- ninguem o diria melhor

Hoje não me apetece colocar nada meu, mas também já não suporto o facto de não deixar aqui nada, estou farto de passar aqui e não colocar nada novo, de ver que ninguem comenta, as palavras são como um rio e porque todos os rios devem seguir o seu curso achei que era tempo de dar-vos novas correntes onde possam navegar.
as palavras que se seguem não são minhas mas de miguel esteves cardoso.. para pensarem e sentirem.
adoro-vos, desculpem andar meio perdido. estou com voces mesmo sem vir cá.


o elogio do amor


"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.
Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".
O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.
Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também"..

9 comentários:

Anónimo disse...

Não podias ter arranjado melhor aproximação do que é hoje definido como amor...adorei esse texto, até pensei em colocá-lo também no meu blog um dia destes, claro com a tua autorização...
Tenho que salientar no entanto que o amor manifesta-se de várias formas...o importante é ele continuar a surgir...e é claro que deve ter havido um "back-up" devastador na sociedade de hoje...mas será provavelmente um reflexo das enormes paixões cegas, que levando a divorcios e a outro tipo de attitudes , como as partilhas a necessidade de identidade propria, a afirmação femenina...enfim...a geração oriunda dessa onda é naturalmente mais medrosa e calculista no que diz respeito à paixão...
Olha, gosto muito dos teus comments, fazem-me bem á alma pela sinceridade que transmitem...
Espero que esteja tudo a correr bem...
beijinhos

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

Achei o texto um bocadinho... nem sei dizer. Talvez porque eu nao me reveja minimamente nele, mas sei que ponto de vista ele está a tentar mostrar. E é logico que hoje as pessoas cada vez menos se dêem ao luxo de correr riscos desnecessários e que a sociedade esteja a transformar as pessoas numas máquinas, mas não a este ponto. Amor é sempre amor, mesmo que seja esse amor contemporaneo, como que numa onda de negocio em que o casal discute e nogoceia assuntos...

Se formos a analisar bem este bocadinho, epá, o que ele quer dizer é que a paixão está enterrada. Mas paixão é completamente diferente de amor. Pode até ser que as pessoas andem "quase apaixonadas" e já não exista aquela paixão que faz com que as pessoas cometam loucuras...

Mas o mundo está tão mauzinho que as pessoas procuram nos outros o equilibrio e para tudo dar certo, a melhor maneira é, sem duvida, racionalizar um bocadinho essa tal paixão. Porque é por causa dela que muitas pessoas se casam, mas também que muitas pessoas se separam.

Sinceramente, acho que isto nem sequer é uma aproximaçao do que o amor, acho mesmo que está completamente descabido. Camões é que foi o único que conseguir aproximar-se da definição de amor.

E que outra coisa moveria o mundo se nao fosse o amor ? o amar ? amam-se pessoas, mas tambem se amam ideais, ideias, que nos movem para efectuar escolhas e tomar decisões.

Amar é muito mais do que a paixão que existe carne-carne ou alma-alma. Amar é tudo o que nos faz andar aqui, porque de outra forma, a vida nao valeria a pena...

Acho eu.


Beijinho Pedro. O amor nunca morre. :) *

milhafre disse...

Catarina

eu tambékm adoro os teus commments.
é muito bom conhecer-te e acompanhar o teu dia a dia.
beiho meigo

mauysita

quem ama como tu amas, com a mesma ou mais intensidade com que o miguel esteves cardoso descreve o verdadeiro amor não pode, nem poderia rever-se nele.
o teu mundo é feito de luz, a mesma luz que partilhas com o filipe, com o mesmo brilho, a mesma magia que o miguel reconhece faltar nos amorzinhos de agora.
sinto-me honrado por ter amigos que ainda se amam como voces o fazem e se queres saber apesar de ter colocado o texto ao contrário do miguel, continuo a acreditar que o verdadeiro amor ainda existe, se tivermos força para acreditar nele, se não desistirmos e nos contentarmos com um amorzinho para preencher o medo do vazio.
e sim foi fernando pessoa quem nos deu realmente a melhor definição de amor
és uma pessoa muito especial.
beijo amigo

Inês Silva disse...

Pedro, sabes o que se passou comigo e foste tu próprio que disseste o que disseste...hoje digo-te que não sinto aquilo se calhar como amor, mas como uma paixão que tive durante mais de um ano e uns bons meses...hoje penso se não foi melhor assim..mesmo que o meu coração ainda bata mais forte quando o vejo, mesmo que sinta vontade de estar com ele...sinto que devo recomeçar a minha vida...ou melhor o meu amor com outra pessoa...e quem sabe se essa pessoa não está ao virar da esquina, quem sabe se essa pessoa não está neste momento a olhar para mim, a pensar em mim...a sorrir para mim...quem sabe se essa pessoa não se cruzou comigo hoje na rua e nao me disse olá!
O amor não podia estar melhor definido nesse texto...e olha obrigada por teres colocado este texto aqui hoje...obrigada!

beijos*

milhafre disse...

nexitah
não agradeças.
eu é que agradeço a tua visita e o facto de partilhares os teus sentimentos. conta comigo

Inês Silva disse...

Voltei a postar=) fico a espera da tua visita;)

Anónimo disse...

Um amigo deixou-me o site deste Blog e disse-me para ler este texto. Não consegui resistir a comentá-lo... Adorei. É verdade que cada vez mais, hoje em dia, o ser humano é mais individualista, mais egoísta, mais prático e racional. Quer ser melhor sucedido no emprego, ganhar mais, fazer viagens, comprar um carro topo de gama... E também viver com alguém,claro. Porque a solidão pesa e dividir despezas e as tarefas domésticas sabe bem... Mas amar verdadeiramente não! Não é preciso, é mesmo dispensável. Porque amar assim exige sacrificio e partilha... para com outra pessoa! Exige entrega e dedicação... a outra pessoa! E ninguém está para isso. À mínima contrariedade, à mínima divergência, acaba-se o "romance". Não há tempo para perder com "o outro", porque há muito para fazer por "mim". Não há tempo para pensar nas necessidades do "outro", porque as "minhas" já são inúmeras. Não há tempo pra compreender "o outro", porque às vezes nem a "mim mesmo" entendo. Não há tempo para o outro, so há tempo para mim. Isto tudo é verdade. Este belíssimo texto é nada mais nada menos que o espelho do que está a acontecer com o amor, com o homem e com as relações. É triste, mas é verdade. E não são as poucas excepções a esta grande regra que alteram a realidade...

milhafre disse...

anonimo.

obrigado pela visita e pelo teu contributo a este espaço...
antes de mais fica um pedido de desculpas aos meus leitores ... o texto é do miguel esteves cardoso e não do miguel sousa tavares... tinha-me sido transmitido enquanto tal.
quanto ao que dizes, por mais que a logica do dia a dia se renda aos "amorzinhos", nunca poderemos desistir de encontrar aquele grande amor que ira inundar os nossos corações.... por mais distante que isso esteja do quotidiano.

sonha e sé sempre