quarta-feira, abril 22, 2020

O Pinhal é nosso 2018.. dois anos

Dois anos passados..
Lembro-me deste dia como se fosse hoje, do levantar cedo num fim de semana. Do acordar com garra..
Da certeza de que o desafio seria imenso.
Lembro-me da tristeza espelhada no meu rosto qd percebi ainda mais por dentro da dimensão da tragédia...
Lembro-me de ter perto dois olhos que já sabiam o que ia ver e de ter avançado à medida que eles iam avançando.. Porque se eles avançam não tinha que haver medo..
Lembro-me de ir com esperança de deixar lá algo, uma pequena marca. O meu não conformismo... Qualquer coisa que pudesse mostrar aos nossos filhos, aos nossos sobrinhos que não nos vergamos... Que fizemos algo. Que tentamos fazer algo que fosse nascimento.... Vida... Algo que desse um sinal que superasse a devastação.
Sim eu sabia dos fogos, sim eu já tinha, nos já tínhamos estado numa ação de limpeza anterior, mas está era a primeira vez que eu me aventurava naquela parte do deserto forçado onde antes havia matas frondosas. Onde antes polulava vida e agora havia apenas um chão cinzento.
Depois de reunirmos começamos a plantar... Eu ia abrindo buracos, a outra pessoa que sempre teve gestos mais doces que eu ia segurando com afinco a árvore, como se segurasse a vida. Depois de plantadas e regadas marcamos cada uma das várias árvores por forma a que não fossem pisadas.
Foram cerca de 100 árvores plantadas por todos, aliadas a muitas outras plantadas por outros elementos do grupo nos dias anteriores
.
Lembro-me do lanche partilhado na pausa.... De uns fabulosos pastéis de bacalhau que alguém levou, de ter bebido uma cerveja, o que aqueles tempos era coisa rara para mim... Do sucesso das bolachas de cereais e chocolate que nos levávamos e que ela teve o cuidado de comprar...
Lembro-me de depois de contemplado o feito termos decidido limpar e manter o que tinha sido já feito tendo eu ficado no grupo das coisas pesadas e ela ficado na batalha contra as acácias.
Lembro-me de quase quedas que geraram risos e que ficaram perpetuadas em fotos. Lembro-me do corpo sujo, dos cães vadios que por perto eram matilha e que actuando em matilha fizeram que tivéssemos medo, Lembro-me de termos medo e não termos arredado ...
Nunca esquecerei depois de recolhido o lixo o facto de ter tentado juntar-me ao grupo das acácias.. Depressa percebo a minúcia da tarefa, a importância de distinguir a plantinha. Boa de uma má, a serenidade que era exigida... Tive um orgulho imenso na pessoa, nas pessoas que com afinco estavam a fazer isso embora não o tenha dito, sabe-se lá porquê não o disse, tantas vezes o senti e não o disse.
Terminado o programa recolhemos os lixos e matérias e zarpamos. Lembro-me de olhar pelo retrovisor e achar que tinha feito algo, que a missão tinha começado a ser cumprida.
Pensava eu, pensávamos nos ter sido parte da subtil diferença.
Não sabíamos nos que máquinas iriam pisar árvores não olhando as marcações... Que apesar do esforço de muitos que voltaram lá vez após vez com garrafões... Que a entidade que devia ter cuidado da mata antes dela ter ardido, não cuidaria do que fizemos embora tenha sido tudo sinalizado, embora fosse na área por eles aprovada.
Mas nada ou quase nada foi feito.
Morreram quase todas as árvores que plantei, quase todas as árvores plantadas pelo nosso grupo, quase todas as árvores plantadas por tantos outros grupos.
Dois anos volvidos a mata continua um quase deserto do nosso fracasso coletivo, tal como a minha alma reflete o deserto do meu fracasso pessoal.
Raramente passo lá.
Não gosto de voltar a sítios onde fui feliz..Não sei porque..
Talvez por ver o deserto cinzento onde outrora sonhei verde.
Ou por me ter sonhado verde e perceber que afinal era cinzento...
As vezes qd chove, pergunto-me se lá no meio das acácias que acabaram por vencer.. Se no meio da areia cinzenta que ainda impera, marco da nossa tragédia colectiva, ainda sobreviverá uma das árvores que plantamos, uma sequer bastava para dar sentido e ser raiz dos sonhos.
Porque as vezes basta isso.. Um pequeno sopro de vento para acender esperança.
Namastê.


O Pinhal é Nosso atualizou a sua foto de capa.

domingo, dezembro 01, 2019

Hoje entramos em Dezembro. Aproxima-se o natal época de conforto e de família, época de partilha e de aconchego... Também uma época em que o vazio se torna o maior dos vazios e a saudade se retrata à mesa, no lugar vago deixado por aqueles que  o fim da vida levou de nós , mas também pela ausência dos que estiveram connosco tantos anos e deixaram de querer ou de o conseguir fazer.
Também para muitos a hipótese de celebrar a vida e a presença de quem vier de novo.
Hoje faltam 24 dias para o natal....
Época de gratidão....
Gratidão pela magia dada por quem partilhou connosco a vida e o sonho ainda que já não o faça, por tudo de bom e todo o conforto que nos foi dado.
Gratidão por quem ainda nos acompanha, por quem nos conforta, por quem nos faz pensar no amanhã, mesmo que ainda a custo, mesmo que tantas vezes fora da raiz do sonho.
Gratidão por todos os que ontem ou hoje foram âncoras e raízes e nos deixaram  por anos ou por momentos breves ser ancora ou raiz, asas ou o próprio mar.
Gratidão a todos os que no bem ou no mal disseram presente, mas também aqueles que confiaram em nós para o fazer de igual modo retribuindo o afinco de quem se dá de alma e vida.
Finalmente gratidão pela família que temos por  nos fazer ser  parte de um continuum ainda que o sejamos por vezes, tantas vezes vãos e escassos
Que o dia de hoje seja de facto o melhor dos dias, que todos os dias que  aconteçam a partir de hoje o continuem a ser para o resto das vossas vidas, na esperanca de que possamos ir sendo  uns dos outros alma e luz, atores principais dos nossos papéis, senhores da vida e do sonho.
Que o comboio da vida mantenha em nós portas abertas para  nos encontros e desencontros da vida saibamos manter em todos os corações  esperança e aconchego e o sonho possa sempre dizer presente.

Namaste.

sexta-feira, novembro 29, 2019

Transparência
Ser invisível sem o ser
Gota de água caída na flor dos olhos
Por já não se sorver de sonhos
Ser ausência só na ausência
Restolho de mim mesmo
Nada de nada feito
Pleno de afetos por sentir

Transparência
Ser espelho de olhos espelhado
de um olhar findado por todos os olhares
Perfil ténue visível de um rosto que surge sem se ver.
Marca de quem está a sentir que não se está
Respício que não estando ainda fica em nós
como se sempre nos tivesse pertencido.

Transparência
Ser cavalheiro mesmo que ultrapassado
Retilíneo, verdadeiro ou apenas vácuo
Vazio fracassado num final de história
Perene e indelével como gota de água
A querer dar outros fins à história
Vago e submisso como o mais infindo dos mares
Para lá de todas as hipóteses de ser terra prometida.

Transparência
Ousar ser… sem querer ser
Ousar ficar vazio de luz até ao fim da alma
Para ser um dia restolho atirado aos ventos..
Mesmo morrendo a cada dia na partida
Mesmo depois de ser nada... nova esperança
Arrancar de nós todos os sonhos
Até estrebuchar a essência
Para que um dia seja possível refazermo-nos

Transparência
Para lá de todas as torrentes
Muito além de todo o caos
Mesmo que enfermo e dilacerado
Ser subtil na jura para podermos dar-nos com afinco...
Ousar sonhar, ousar ser
Ousar dar-me mesmo morrendo-me a cada dia vão e escasso.
vez após vez como na vez primeira

Transparência
Um olhar... O teu olhar só o teu olhar
doce e verdadeiro
Capaz de acender sem o saber
os astros, o próprio sol,
a luz do dia sublime de ternura.
Para devolver ternura a todas as coisas
Espelho de vida que devolve vida
de todas as formas.

Transparência.
Uma cor sem cor
Um som maior que todos os sons
Um olhar teu por todos os olhares
Uma palavra minha maior que todas as palavras
Um silêncio mais belo que tudo..
Sintonias. Sim sintonias..
Plenas sublimes vindas do nada...
Só para nós lembrar que estamos vivos.

sexta-feira, outubro 11, 2019


Eu como ando com a cabeça em turbilhão tenho querido abster-se de me meter nestas coisas, mas como tudo está a assumir uma gravidade tão mas tão grande tenho de mesmo a contragosto romper o silêncio.
Qual é realmente o problema que estão a ter com a eleição da JOACINE?porquê esta questão com a gaguez? Temos deputados que em quatro anos de mandato não tomaram a palavra uma vez sequer, que não se manifestaram sobre nada, que não produziram nenhuma proposta de Lei ou recomendação.... Ora não consta nos registos que tivéssemos alguém em estado vegetativo no parlamento.   Ou será que tínhamos?
Opa ser gaga vai fazer perturbar os tempos do parlamento? Tretas.  Já pensaram que na cabeça dela, para lidar com a sua situação ela vai ter as ideias duas ou três vezes mais ponderadas,??que vai estar mais focada??
Dai gaguejar menos quando discursa do que de improviso. Sim isso é perfeitamente normal ou será que não? Será que é preciso ser ator para saber isso???
O que??? É por causa de ter sido fotografada com a bandeira?! Eia pá que grave!!! Não interessa se a bandeira era dela..  Que não era... E se fosse? Vamos lá ver se o Pepe, depois de uma boa exibição na seleção fosse fotografado ao lado de conhecidos com a bandeira do Brasil não era grave pois não? Porque dá jeito é isso... Porque se nos servem já podem ter raízes??? Porra ainda bem que têm raízes, ainda bem que as manifestam.  Ainda bem que participam.   Democracia é isso.  Se estão mal votem na próxima... Sim porque muitos dos que se opõem agora nem sequer votaram porque não valia a pena.
Pessoalmente estou mais preocupado com outras coisas.
Não o ventura, esse não me assusta.... Sempre gostei mais de ver inimigos nos olhos que minorias camufladas armadas em salvadores da pátria.  Ele nem sequer é novo no parlamento.
Pelo menos agora já não podemos erradamente assumir que não há uma extrema direita em Portugal..  Agora temos de ser responsáveis.
Preocupa-me sim a erosão da direita, não porque seja de direita nada disso..  Apenas porque para chegar a sãos consensos faz sentido que os pratos da balança estejam equilibrados.
Ah e porque não sou perfeito confesso que o revirar dos olhos do outro gajo me deixou intimidado... Coisa do demo?? Porque será que não há uma petição para averiguar isso???

quinta-feira, setembro 05, 2019

"não te abandones como se fosses um mero grão de areia.

Nem permaneças como rochedo indiferente aos tempos...

nós não nos vamos nem ficamos...

apenas fluímos no rio da vida.

e nos novos rumos que rumarmos haverão sempre momentos verdadeiros...

tão nossos que ficarão sempre lá....

para que possamos... mesmo que em vão....

ousar partir....

sem nos findarmos....”

quarta-feira, agosto 28, 2019


Foi escrito há oito anos mas o Facebook trouxe-mo hoje à memória como pinta de quem sabe que me ando a questionar sobre se crescer não será desaprender.
Escrevi-o aqui e agora vou publica-lo no meu blog revindicando a necessidade imperiosa de todos nós sermos fieis ao sonhos.

Marta Pinto, não querendo esquivar-me do desafio decidi chamar-lhe magia.



Magia.

O segredo das crianças não é a inocência mas por contrário a sensibilidade que as faz ter uma visão do mundo muito mais simples e verdadeira do que a vemos agora.. Com menos medos do que os que temos, com mais capacidade de comunicar ... com mais entrega ao outro, como igual, na partilha dos sorrisos, para vencer as lágrimas.  Acreditar é possível. Sonhar é possível. Fazer viver a magia da criança que mora em nós é possível.
Sonha e dá.
Ri e recebe.
Pinta o mundo com todas as cores da vida

terça-feira, agosto 13, 2019

Amizade

Há cerca de um mês sugeriram-me que na minha escrita falasse da amizade ….
Não percebi no inicio porque hesitei em faze-lo, não entendi a minha recusa, quase à partida para faze-lo em poesia….
A pessoa que me sugeriu esse tema está no fulgor dos tempos, é uma fabulosa aprendiz da vida e sabe a intensidade dos abraços e sorrisos que dá, da mesma forma que conhece a energia dos seus cabelos revoltos mas magníficos…
O quanto ela, os cabelos e os abraços são aconchego…
É AMIGA por inteiro e não foi por não saber o que é amizade que ela me pediu para escrever sobre isso.
Essa pessoa é um espirito livre… solta, intensa na amizade e na entrega… sabe o valor do sonho, mas sabe que os sonhos só conseguem ser alcançados se em conjunto… sabe que importa não deixar ninguém para trás, e não o faz, nas várias áreas e dimensões da sua vida.
Acredito que irá ser assim sempre, pois creio que não irá deixar o passar dos anos vergarem-lhe o intento….
Será com certeza uma escritora magnifica, porque quer aprender e porque há nela tanto de pureza como de entrega e acredito que aos olhos dela o mundo dificilmente será cinzento ou amorfo…   por isso da escrita dela, quando aprender a verter as flores da alma para o papel nascerá sempre algo de esperança, algo de aconchego.
Talvez por isso tenha resistido a escrever sobre a amizade em poesia….
Porque a poesia obriga a uma coerência mesmo que na incoerência, e é para mim difícil falar sobre a algo livre dentro da prisão das estrofes.
Espero que essa pessoa não se sinta defraudada por lhe responder desta forma ao desafio lançado.
Ontem outro alguém que estimo muito, alguém que é também guerreira até ao tutano, alguém que é viajante e ávida de sonhos, alguém que é (mesmo para mim… eu que sou guerreiro habituado nas desmandas da vida, eu que tantas vezes não quebro), um magnífico exemplo de superação não só por tudo o que passou, mas também por toda a sabedoria e essência com que o fez, falou-me mais uma vez da vida, demonstrado mais uma vez a sua essência, mas desta vez fê-lo não guerreira como me habituei a vê-la, não plena e quase hercúlea como me habituei a senti-la… mas cansada…. Quase como se o cansaço fosse não físico mas interior, quase como resignação.
Dizia ela que às vezes a vida em geral é triste … que “a maioria das pessoas vive aprisionada a vida toda na rodinha do rato e não se questiona... vivem para ganhar dinheiro, por este ou aquele motivo … e no fim da linha vai –se a ver nunca viveram  … porque estiveram sempre ali e não saíram do lugar…”   
Dizia ainda essa pessoa que “ter essa consciência era triste” e que não sabia se as outras pessoas a tinham ou se era ela que “pensava demais….”
Essa pessoa não sabe que tenho lido e relido as mensagens que me mandou ontem…
Sabe o que lhe disse, que o que ela escreveu me remeteu logo para Albert Camus e para o seu Calígula, que citei no último texto que escrevi…
Soube, porque lho disse, imediatamente, ainda que que de forma não estruturada, que  quase como ela, o Calígula de Camus, disse a Hélicon “os homens morrem e não são felizes” .
Que o personagem de Camus como ela refletia sobre o facto dos outros saberem ou não isso. Questionava aliás sobre … como é que sabendo isso eles não deixavam de comer ou dormir??….
Que, como ela, Calígula manifesta a necessidade de espaços abertos, “da lua ou das estrelas” … 
Saberá ela antes de vocês, porque a citei e como tal é justo que ela saiba antes e autorize a contar-vos… que o pensar dela não é um “pensar demais”, nem é como a viu Camus um misto de loucura ou de absurdo, mas de forma clara,  algo que é indispensável à vida, quase como uma condição de sobriedade que vem da essência das coisas…
Que ela, como eu, como Camus, como Hemingway e aliás como muitos de vocês, que às vezes, tantas vezes nos sentimos a ir… como se “estarmos a ir” fosse condição essencial para se ser, como se ser feliz fosse qualquer coisa de inatingível e não concretizável.
Somos o que somos se nos questionarmos, se almejarmos ás coisas simples, se nos atrevermos a sonhar com o infinito….
Se respeitarmos o ínfimo das pequenas coisas….
Se não nos rendermos ao vazio…
Se não ousarmos viver ante e além da dor…
Perguntar-me-ão o que é que estar a ir, a loucura, em suma toda a parte final do meu desabafo tem a ver com a amizade e com a pessoa que me desafiou a escrever sobre esta tema….
Pois bem à primeira vista nada e no ínfimo tudo… a verdade é simples… na vida ou na morte só se perpetuam os laços que mantermos, os bons gestos que fizermos, os sorrisos que ajudarmos a florir nos rostos dos que passam por nós…
Só essas pequenas grandes coisas são, depois da nossa morte, as marcas que deixaremos, as memórias que restarão de nós… a nossa quase sublime eternidade… talvez o único fértil e desafio à nossa finitude.
São em vida esses pequenos gestos, nos nossos encontros e desencontros, na nossa entrega ao próximo e ao outrem, as nossas pequenas âncoras, o último baluarte que nos impede de andar definitivamente à deriva, a boia que nos permite irmos e voltarmos ao vazio.
Se há algo que aprendi na vida é que a boia que nos impede de ir e voltar no fio da vida é precisamente a amizade….
É ela que por ser imensa nos liberta para podermos voar,
Por ser solta nos dá lastro….
Por saber o valor dos abraços nos mantém no corpo…
Por nos recordar nos faz presente….
É ela que por estar lá, como farol .. nos permite reencontramo-nos mesmo quando nos perdemos…
Que sabe o valor de uma lagrima e o por isso sabe que elas só devem ser despejadas no aconchego dos ombros…
Que a vida só faz sentido no aconchego dos ombros para que possamos sem medo viver ao máximo, cultivar afetos, viver mil viagens interiores sem medo de nos esfumarmos….
Porque eu não era o mesmo hoje se não vos tivesse conhecido…
Porque nenhum de nós seria o mesmo sem as marcas de bem querer de quem passou por nós.

Por tudo isso, e por tudo o mais que for preciso, obrigado pela vossa amizade.