quinta-feira, outubro 25, 2012

FARTO

Estou farto


Tenho de estar farto

Temos todos de estar fartos.

Fartos de governantes que não conhecem o país real, com tanto medo que tem de sair dos gabinetes.

Fartos de representantes que não nos representam senão de quatro em quatro anos para nos cravar votos e que depois são apenas fiéis aos seus interesses, ignorando as vozes, os desejos, as aspirações e receios daqueles que representam por preceito constitucional - As mesmas vozes, desejos, aspirações e receios que deviam ser também os seus… uma vez que deviam ser deles fiéis signatários.

Fartos desta surdez que quem nos rege parece ter, indiferente aos alertas da sociedade civil, da maioria dos economistas e fiscalistas, bem como das restantes forças sociais, patrões, operariado, instituições de solidariedade social etc. … que alertam para a impossibilidade de continuar com esta receita de austeridade sob a pena de sangrarem o pais chupando toda a seiva produtiva incapazes que ficamos de face à delapidação dos rendimentos potenciarmos o consumo e o investimento inviabilizando assim a criação de emprego .

Fartos de estarmos desempregados, de termos pais, filhos, familiares e amigos desempregados e de vermos que apesar dos esforços para inverter a situação, por mais currículos que se mandem, por mais entrevistas a que se proponham, por mais quilómetros e quilómetros que façamos, ao fim do dia, dia após dia, o resultado é sempre o mesmo perante a incapacidade do mercado em nos absorver, mesmo que necessitando de mão-de-obra, por não ser possível comportar os custos de novas contratações.

Fartos de pais reformados, que toda a vida trabalharam e que deviam ter agora a justa recompensa pelo seu trabalho, serem agora também eles sugados, e pior que isso, ver nos seus olhos a descrença no futuro perante a insegurança em que vivem mas sobretudo a insegurança em que vão deixar os filhos e os netos.

Farto de saber que há fome, que há pessoas que não tem tecto e de perceber a ruptura das estruturas que os apoiam face ao aumento dos pedidos e a dificuldade que têm apesar do empenho de responder às necessidades.

Farto de saber o pais a envelhecer e de ver que apesar disso o nosso governo apela ao êxodo dos jovens - este ano quase 100.0000 - numa Diáspora forçada de quem não vê alternativas além da fuga.

Fartos de ver a dor desses que tem de partir e a mágoa de quem cá fica… pais que perdem a vivência dos filhos… filhos que perdem o apoio dos pais.

Fartos de termos de dizer adeus.. de partirmos ou de ver partir…

Fartos de perceber que tudo o que foi investido na preparação desses jovens , todo empenho e dedicação que eles tiveram é desperdiçado ao desbarato,

Fartos da ausência de quem faz falta nos locais de trabalho e não pode ser contratado e da exigência estúpida imposta a quem trabalha e que nos levam a aceitar tudo por mais que doa, por mais desvalorizados que sejamos, com medo de perdermos o emprego.

Fartos de ver empresas, lojas e serviços a fechar e de ver cada vez mais as cidades repletas de espaços vazios, marcos de um tecido produtivo a estagnar.

Fartos das lojas de venda de ouro que a troco de uma remuneração rápida, mas ao menor valor delapidam o património ancestral das famílias além do brio artístico de bem trabalhar as peças…

Fartos de comprar um mero artigo numa loja às seis da tarde e ver a dona da loja chorar a dizer que foi a primeira venda que fez no dia.

Fartos de ver pessoas a olhar para as montras das lojas, como peixes a olhar para fora dos aquários, sabendo que nunca poderão aspirar a comprar o que vêem.

Fartos de percebermos que apesar de tudo continuam a haver .. emprego, ordenados chorudos e regalias … para os mesmos boys, meninos de coro dos aparelhos partidários que nunca fizeram nada além de lamber botas numa jotinha qualquer.

Fartos de saber que cada vez mais a politica não é servir o povo mas servir-se do povo, repleto de deputados que se podem reformar ao fim de oito anos sem nunca ter dado o litro e de governantes que em surdina, mas à custa da cedência aos interesses privados preparam amiúde as repastas cadeiras em que sentarão os seus doutos cús na administração de um qualquer grupo privado ou PPP.

Farto da fraca qualidade dos nossos eleitos, sem carisma, sem capacidade de discurso, sem doutrina, lideranças fracas de um Portugal que se rendeu só porque a maioria de nós prefere sentar o cú nas cadeiras de casa ou do café e se abstém da participação política e até do voto.

Pior que isso farto de perceber que perante a cegueira de quererem ser fieis alunos, surdos reprodutor de um modelo irreal, ninguém neste governo percebe como eu já percebi, como quase todos nós já percebemos, que nada desta sangria vai resultar e que apesar do roubo a derrapagem do deficit continua a aumentar.

Fartos do vazio que é viver dia após dia, noite a noite na desesperança e na descrença em que o amanhã não é uma vivência mas uma sobrevivência.. Sem lugar para os sonhos.

Farto de não poder mais calar este grito

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