segunda-feira, janeiro 24, 2011

Trago

Trago a alma apertada

Despida de sentido

Sou como um pássaro sem asas

Um conto perdido no meio ruído.

Sou nota musical fora do tom

Sátira de um poeta que foi bom

Navio sem âncora nem rumo

Caravela abandonada aos temporais

Despojos de papel na neblina

Aves perdidas nos céus

Golfinhos piloto sem norte

Parede construída sem ter fio-de-prumo

E sou de mim mesmo pura má sorte

Pelas vezes em que deixo soltar o coração

Pelas vezes em que a alma se converte na emoção

Pelas vezes em que devia ser só gelo

Mas pago os rumos todos que percorro

Por todos os beijos que não dei e pude dar.

Por todos os lábios que nos meus podiam ficar aprisionados

Por todas as outras vezes em que a palavra amor podia deles ter-se escapado.

E sei que sou do vazio de mim mesmo responsável

Por todas as tantas vezes em que bastava dizer quero e não disse

Por todas as pessoas que amei e não mereceram

Por todas as pessoas que mereciam e não amei

E sei a dor que se sente à noite

Quando um outro corpo nos faz lembrar que partiu do quarto

Quando nas quatro paredes se sente só o eco

Quando nas roupas não há outro perfume

Quando dou por mim no vazio das linhas

A matar os vazios que tenho cá dentro

Como se fosse eu que louco…

Não morresse a cada espaço

1 comentário:

Anónimo disse...

lindo mesmo