segunda-feira, março 12, 2012

fado de mim

Meu amor


Velho amor


Meu canto antigo


Esta noite sonho contigo


No vazio do meu quarto



Eu que no silencio


Me fiz vento


Derradeiro de mim mesmo


Ébrio louco


por cansaço



sabes tenho sede


desse abraço


quando envolta em mim


fazias de ti


meu firmamento



sabes tenho fome


do teu corpo


quando no meu leito


vaga de beijos e abraços


ousavas amarar



e fazias na minha pele mar e areais


só porque há noite


repousavas no meu peito


e moldavas gesto a gesto vendavais


erguendo tempestades nos lençóis



e sim ….


tenho saudades….


dos teus beijos


quando no meu corpo


tecias linhas ao destino



e fazias de mim hirto


no embaraço


dos teus braços


prendendo só em ti


meu pensamento



e eu


solto de mim


fazia dos teus contornos promontórios


onde meus dedos


teimavam naufragar



e era eu


mais que dor


mais que tormento


despido em mim,


maior que o firmamento



livre e hirto


noite a dentro


quando minha boca desaguava…


como beijos


nos teus seios…



e eu vencia a dor


a raiva


e o vento


e contigo achava vontade


de ser mar



e toda tu


depois da vaga


depois do arfar


depois de fazeres de mim


marinheiro por me achares



repousavas nua de ti


pela madrugada


e o sol ao erguer-se


desenhava pontos cardeais


na silhueta do teu corpo



e eu sem sono


sabia que a todos eles podia pertencer


e sussurrava poemas feitos mar


para te embalar serena


manhã dentro



e era muito mais que eu


corsário louco


pirata de navios


velho marinheiro


capitão de mim além das naus



e sim amor


agora que sou sombra do que fui


quem sabe porque não te tenho no meu leito


agora que não és onda


nem sou mar



sim amor


canto este fado de mim


este vazio este tormento


esta dor que em ti esgota o pensamento



e sim amor…


etéreo amor


meu vil amor



agora no meu fim


triste fado em mim


Estou-te a cantar.