Meu amor
Velho amor
Meu canto antigo
Esta noite sonho contigo
No vazio do meu quarto
Eu que no silencio
Me fiz vento
Derradeiro de mim mesmo
Ébrio louco
por cansaço
sabes tenho sede
desse abraço
quando envolta em mim
fazias de ti
meu firmamento
sabes tenho fome
do teu corpo
quando no meu leito
vaga de beijos e abraços
ousavas amarar
e fazias na minha pele mar e areais
só porque há noite
repousavas no meu peito
e moldavas gesto a gesto vendavais
erguendo tempestades nos lençóis
e sim ….
tenho saudades….
dos teus beijos
quando no meu corpo
tecias linhas ao destino
e fazias de mim hirto
no embaraço
dos teus braços
prendendo só em ti
meu pensamento
e eu
solto de mim
fazia dos teus contornos promontórios
onde meus dedos
teimavam naufragar
e era eu
mais que dor
mais que tormento
despido em mim,
maior que o firmamento
livre e hirto
noite a dentro
quando minha boca desaguava…
como beijos
nos teus seios…
e eu vencia a dor
a raiva
e o vento
e contigo achava vontade
de ser mar
e toda tu
depois da vaga
depois do arfar
depois de fazeres de mim
marinheiro por me achares
repousavas nua de ti
pela madrugada
e o sol ao erguer-se
desenhava pontos cardeais
na silhueta do teu corpo
e eu sem sono
sabia que a todos eles podia pertencer
e sussurrava poemas feitos mar
para te embalar serena
manhã dentro
e era muito mais que eu
corsário louco
pirata de navios
velho marinheiro
capitão de mim além das naus
e sim amor
agora que sou sombra do que fui
quem sabe porque não te tenho no meu leito
agora que não és onda
nem sou mar
sim amor
canto este fado de mim
este vazio este tormento
esta dor que em ti esgota o pensamento
e sim amor…
etéreo amor
meu vil amor
agora no meu fim
triste fado em mim
Estou-te a cantar.