Houve um sonho
que se realizou
Pássaro que voou
Com asas de rodas
Num céu de patins
Ave que se libertou
Numa pirueta
Com gestos tão soltos
E mostrou que há céu
Num doce sorriso
Princesa do ring
a rodopiar
Rumo ao firmamento
Em cada momento
Como um bater de asas
Fénix que renasce
Num gesto encantando
Figuras recordadas
De um devir passado
Memórias da arca dos sentidos
Corpo que se solta
Ao ritmo da música
Sem sair do tom
Como se bailasse
Num mundo encantado
Tenta um avião
Num primeiro ensaio
e sorri de novo
Ternura que se redescobre
Mulher que volta a ser menina
Grifo que se solta
sem medo do espaço
Em pleno equilíbrio
E escreve poemas
Pelo campo todo
E mesmo quando cai
Traída pelas rodas
Vence o contra-tempo
num toque de orgulho
menina que cresceu e é mulher
e eu que não voo
nem tenho equilíbrio
e sou desconcertado
fico comovido
com o voo da ave
e sem nunca ter pensado
em augurio algum
nem no mais íntimo atrevimento
deste meu ser louco
ousar sequer imaginar calçar patins
dou por mim agora falar de patinagem
livre neste ring feito de papel
e vou fazendo spins e serpentinas com a caneta
com tanta comoção como se menino fosse
porque menino fico ao vê-la
e escrevo por escrever…
sem segunda intenções
só para recordar a alguém a luz que tem
só para lhe lembrar a liberdade
só para lhe agradecer por ser ave
Porque foi tão bom vê-la sorrir
E é tão bom recordar esse sorriso
Bem cá dentro na memória
No canto mais íntimo dos sonhos
Vela de amizade que se acende
Porque com ela vou percebendo
que os sonhos de menino vencem a idade
Sopros de essências antigas mas presentes
Esperanças que não devem desfazer-se a preço algum
Pois nada vale mais que os sonhos
E por tudo o que foi e o que irá ser
Por toda a magia dos sorrisos
Por toda a liberdade dos seus gestos
Por toda a ternura doce da sua presença
Lhe estou grato
E sonho , e acredito, e creio , e voo
Desafiarei o firmamento e o espaço
Calçarei patins se for preciso
Só para despertar nela o seu sorriso
Apenas porque há sorrisos que são tudo