quarta-feira, dezembro 07, 2005

Porque

Porque esta noite não me apetece sequer ver televisão.
Porque a mãe terra jaz esquecida e moribunda
e se revolta em furacões, sismos, cheias convulsões
mas Quioto e o Rio são acordos que não passam do papel

Porque no Paquistão ou em Darfur faz frio ou neva,
e não chega ajuda que dê tecto aquelas gentes
mas os grandes EUA investiram milhões
só na propaganda das ultimas eleições

Porque este natal há um anuncio que passa na tv
que te diz que tens de ter um mazzerrati, aquele relógio,
o computador X.P.T.O, ou outros gadjets
mas não há nenhum que te ensine a ser

Porque te dizem como ter um toque sex-appeal
mas ninguém te ensina a perceber
que há crianças que no natal
não vão ter pão sequer para receber

Porque os sonhos das crianças do Iraque
são acordados por militares de uma tal coligação
em que os senhores do mundo subsistem
a dizer que são senhores do que existe

Porque o mister Bush insiste em desenhar eixos no nada
fomentando divisões, duras alucinações de um país
que sem armas não tem passado para viver
...histórias para contar ....

Porque a Europa é uma desilusão
e só a economia ilustra e deslustra a coesão
e o saber ser das nações vai sendo suplantado
por tratados gerais estéreis de significado

Porque te dizem que para triunfares
deves esquecer o teu passado
para seres um hippie in, boy in,
cidadão made in CE plastificado

Porque cá dentro do país...tudo na mesma
Até a lesma coitada já se cansou de ser comparada a situação
e o cavaco e o soares dizem ser salvadores pródigos da nação
mas não percebem nada das dores que temos dia a dia

Porque seja qual for o “dom sebastião”
o desemprego continua a aumentar
e a esperança, essa coitada, diminui
à medida que aumenta atrozmente a inflação

Porque só somos os campeões europeus
no contagio pela sida, no analfabetismo
na violência doméstica e noutras coisas tais
e estamos cada vez mais perto da cauda da Europa

Porque para os média e alguns políticos o que importa
é que o Benfica o Sporting, ou o Porto
vençam o manchester, ou o inter de milão
Assim o povinho continua sem pensar na revolução

Porque na minha cidade há lojas e lojas
Shooping centers, discotecas e fun centers
Macdonnals, continente... está tudo cá
mas cultura é cada vez mais uma miragem

Porque todos os dias há mais um
que busca no pó, na “branca” uma alegria
E se esquece das alegrias que já moraram
no seu sorriso, no seu olhar

Porque dentro de mim há tudo isto
uma dor que se alimenta
letalmente como que um quisto
eu vou todos os dias morrendo no papel

Porque com isto, por tudo isto sei que sou louco
mas enquanto escrevo, nasço, renasço e morro
corroo-me, sofro mas não desisto
e insisto, não me conformo

4 comentários:

Anónimo disse...

mais uma vez, fascinada com o que expressas através da escrita. sociedade consumista, sem cultura, com valores retorcidos, sem esperança.. e onde a alegria se busca num pó em vez de se procurar dentro de nós, onde se morre de fome e frio enquanto os que poderiam fazer alguma coisa gastam essas tais fortunas em propaganda eleitoral, onde há um menino como tu que se retorce a pensar nestas questões e que diz que não se vai conformar...

era bom que todos pensassem assim. ao menos lutavam pelos ideais mesmo que mais ninguém acreditasse neles.

****

milhafre disse...

carla
oi estou de volta.
obrigado pelos votos de boa viagem e pelo facto de seres uma companhia sempre presente.
amei o teu comentário, admiro a forma como entendeste e transcendeste o próprio poema.
é muito bom ser teu amigo.

milhafre disse...

doce mauysita.
i´am back....
olha amei, adorei, solucei e sorri com o teu comentário. sinto-me fascinado com a forma como me entendeste e entendeste o poema.
tu sim tens um dom especial, o dom de saber ler os sentimentos que se escondem nas palavras, o dom de ser capaz de beber essencias que se encontram nas coisas e que as vezes escapam mesmo a quem as diz ou escreve.
meu deus ... que magia nbo que dizes, que capacidade de sintese.
com pessoas como tu como companheiras, com a tua magia...tenho a certeza de que posso continuar a indignar-me pois sei que não estou só nesta batalha e que o sonho ainda existe

Inês Silva disse...

Pedro...não venho comentar o poema, mas sim pedir desculpa pela mnh ausência no teu blog...tenho andado super atarefada...enfim..pode ser que com as férias acalme...=)

espero que a viagem tenha corrido bem..

quanto ao poema..so uma palavra AMEI...tens um poder incrivel para te exprimires...continua=D

bjs*