Amigos
Este é provavelmente o último post que escrevo antes do natal.
Nos próximos dias é tempo para estar com a família, estar pessoalmente com vocês, tentar conhecer alguns de vocês que ainda não tive o prazer de ver pessoalmente.
Nos próximos dias é tempo de me deixar ronronar como os gatos, de saborear o cantinho da lareira, de deixar as teclas e quem sabe usar o moleskine e a caneta que me ofereceram nos anos e passar a fazer festinhas no papel.
Nos próximos dias é tempo de fazer sonhar alguém que nunca vi e quem sabe nunca verei com uma prendinha só porque numa loja ouvi alguém dizer que o miúdo x da rua xpto este ano, como a vida está má, não iria receber qualquer prenda no natal... e acreditem nem sequer vou querer estar lá para ver os seus olhos brilhar, pois essa luz é algo que só a ele pertence.
Nos próximos dias é tempo de fazer como sempre faço e oferecer um café quentinho ao meu amigo indiano vendedor de flores e sentir-me reconfortado por isso.
Nos próximos dias é acima de tudo tempo de vos dizer a todos, amigos ou família, pessoalmente, por telefone ou sms, que amo estar com vocês e que vocês são muito importantes na minha vida, nos meus dias.
Mas nos próximos dias é também tempo de fazer o backup ao ano de 2005, de avaliar o que está bom e mau em mim, por forma a assegurar que estarei melhor no ano que há-de vir.
Porque essa necessidade de Backup me fez pensar num texto de Eduardo Prado Coelho que li no Público chamado Construir um país achei que o devia partilhar convosco.
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Precisa-se de matéria prima para construir um País
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada.
Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo.
Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais o que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.
Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.
Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós,ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte... Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhandocom a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.
Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?
Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro...
Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso.
É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você, o que pensa?.... MEDITE!...»
Sei que se depender de vocês 2006 será grande .
BOAS FESTAS
2 comentários:
Pedro, acabei de estar contigo e mal cheguei a casa e reparei que tinha net, não resisti a vir ler o que tinhas escrito=)
antes de falar do texto em particular falo daquilo que nós falamos, quero agradecer-te pelas tuas palavras de apoio, de afecto, de força...sério souberam-me muito bem=)
Quanto ao texto, sim esta altura é para nos reencontrarmos tb um pouco com as nossas famílias, amigos, conhecidos...adorei mesmo o texto e mesmo aquele texto que colocaste é a verdade, para nós nenhum Primeiro-Ministro irá servir enquanto nós não mudarmos um pouco a nossa mentalidade e maneira de ser...e isso parte de nós mesmos, como povo em geral...e talvez seja isso que devessemos começar a fazer a partir do ano de 2006...uma nação melhor=)
Bom Natal e Feliz Ano Novo*
Pedro Homo Politicus: Boas Festas e Até Amanhã!
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