terça-feira, dezembro 27, 2005

DESABAFO

Olho-me ao espelho e as vezes não me vejo...
Os meus olhos as vezes perecem ter perdido o seu fulgor como se o glocoma de que sofro fosse um perder de brilho, um perder de luz, um perder de alma.
O meu cabelo que antes era encaracolado e farto agora é escasso e no que ficou da testa calva começa a aparecer donde a o branco neve dos anos.
As minhas mãos que antes temiam largar a areia do tempo e se apertavam no vazio, hoje já se conformaram com o facto de estarem sempre a perder, sempre a ver partir e eu já quase me entretenho com o passar da vida, com esse dedilhar do pó por entre os dedos.
Hoje olho aquilo que escrevi, pedaços do que fui, do que me dei, do que senti, restícios das vezes em que amei e não disse e, mais do que a angustia de não o ter dito sentia, vivo sobretudo a tortura de já não ter a pureza de quem ama alguém como o fiz da primeira vez, de não conseguir beijar da mesma forma inocente com que dei o primeiro beijo, de não conseguir escrever da mesma forma pura como escrevia outrora, de não conseguir sentir como senti da primeira vez.
Hoje habituei-me a estar aqui e não estar aqui ao mesmo tempo, habituei-me a este olhar distante, perdido, habituei-me a não sentir, a não gritar, a não chorar a não sofrer, não porque não sofra, mas porque os anos nos dão uma anestesia especial, quase viril.
Hoje olho as pessoas que amei e a quem não disse que o fazia não como a querer te-las de volta para mim, mas como mulheres que são, empenhadas nos cursos que tem, no trabalho que fazem, nos filhos que criaram e já não consigo sentir que as perdi, mas apenas que a paternidade, o amor e quem sabe o sonho são projectos talvez para um amanha que pode não acontecer.
Hoje vejo o meus irmãos, e os meus amigos a namorar e a serem felizes nessa batalha incerta que é a vida e pergunto-me qual a minha definição do conceito do próprio sentimento , sem me atrever a dizer que me arrependo de buscar o sonho onde as vezes ele não está.
Hoje como sempre vejo a minha casa sobretudo como uma jaula, uma gaiola, uma grilheta em forma de prestação mensal que me impede de mudar de rumo, mudar de vida, mudar de país.
Hoje vejo a natal pelas prendas e carinhos que dei aos outros mas confesso gostava de ser um bebé, uma criança para estar delirante com os brinquedos, os legos, os lápis de cor, os puzzles..aquele livro,. quem será que pensa que um biblot lá para a casinha, uma peça de roupa ou um perfume nos fazem sonhar .
Hoje só sei sentir este cansaço, aquele cansaço que está entranhado em mim e que se prolonga além das férias, além dos fins de semana, como se o coração aperta-se.
Hoje sei que há muito do que sinto que perdi a forma de dizer, muitas palavras que deixei de saber exprimir, sonhos que deixei de sentir, lutas que deixei de querer travar.
Hoje apesar de tudo isto... porque o silencio ainda doi digo-vos acima de tudo que vos adoro e que é bom ver-vos neste espaço, nesta dimensão qualquer transcendental em que ainda sou.
BEM AJAM AMIGOS

6 comentários:

Anónimo disse...

A monotonia dos dias prega-nos partidas destas. Como quando passas por um caminho tantas vezes que esse caminho deixa de ser um mistéio e perdes a vontade de o explorar.

Mas eu sei que isto foi só um texto escrito num dia chato e igual a tantos outros, porque sei que tu não te cansas de procurar a magia que até aquela pequena formiguinha insignificante trás em si... Porque eu sei que tu espreitas por detrás do óbvio e encontras a parte especial das coisas. E eu também sei que todas estas coisas que escreveste é porque achas que o mundo está demasiado gasto e tu precisas de sentir outras coisas e precisas de dizer às pessoas para sentirem o mundo de forma diferente também...

;) estou muito errada? *

beijo*

Anónimo disse...

como eu não sou bom de palavras...
ouve esta música,concerteza que ira' alegrar teu espirito ;)
Ouvir

milhafre disse...

Mauy

obrigado pelo teu carinho e amizade, com amigos como tu ira continuar sempre a haver esperança e sonho.
obrigado por me conheceres bem e me fazeres recordar coisas minhas que as vezes esqueço.

Tricki

tens o dom da palavra dita, sonhada, pensada, sentida... tens muitos dons amigo e está a ser bom ir descobrindo-os.
gosto de te ver neste espaço.
adorei a música

sabine disse...

Todos temos estes dias.
Também eu me sinto presa e gostava de experimentar coisas novas. Mas há dois fantasmas à minha frente: falta de dinheiro e desemprego de tudo e de todos. Às vezes parece que nunca vou realizar os meus sonhos!

sabine disse...

FORÇA, um grande BEIJO e sabes que podes contar com o meu apoio se quiseres mudar de vida.

sabine disse...

Pedro: Obrigado por expores o teu lado mais triste. Sempre soube que ele existia e que tu o disfarçavas para não te encarares de frente (ora o mostravas, ora o escondias).
BEIJO