quinta-feira, setembro 20, 2007

VITOR JARA. para que o mundo nunca esqueça que houve um outro 11 de setembro.


Em posts anteriores já falei de Alhende e Pablo Neruda,já falei da barbarie que constituiu o golpe de Pinochet (com o apoio dos Estados Unidos) a 11 de setembro de 1973.
Nesses posts homenagei os homens e através deles o povo chileno e a sua luta pela liberdade, no entanto para cumprir esta homenagem faltou homenagear Vitor Jara,o homem, o poeta, o compositor mas sobretudo o home livre.
cumpro pois este designio agora.


O homem:

Víctor Lidio Jara Martínez (Chillán, 28 de setembro de 1932 — 16 de setembro de 1973) foi um músico, compositor, cantor e director de teatro chileno.

Nascido numa familia de camponeses, tornou-se referência internacional da canção revolucionária.
Lecionava "periodismo" na Universidade de Chile, e participava de reuniões com os professores da Universidade (maioria comunista) e com o partido da UP em protestos e espectaculos beneficientes.

Os factos:

A 11 de setembro de 1973, quando o golpe militar comandado pelo ditador Augusto Pinochet derrubou do poder Salvador Allende, o compositor e cantor Victor Jara correu para a universidade da Santiago onde trabalhava para se juntar aos 600 estudantes que ocupavam o prédio.
Dali, mesmo sem muito armamento, tentaram resistir aos militares e aos tanques que cercaram a universidade, sem sucesso. Depois de uma luta desigual, foram subjugados e levados para o Estádio Nacional do Chile, convertido em campo de concentração.
Victor de viola em punho, como já o tinha feito na Universidade, cantava para os seus companheiros para anima-los e procurar dar-lhes esperança, talvez por isso foi rapidamente reconhecido por um oficial, hoje sabe-se que era Edwin Dimter Bianchi, com o cognome "o principe".
Edwin ao reconhecer Vitor terá dito : "Você é aquele maldito cantor, não é?", terá depois insistido em "ocupar-se pessoalmente da sua tortura".
Separado dos demais Victor foi duramente espancado, as suas mãos foram segundo uns amputadas, segundo outros dilacerdas a golpes de culatra de espingarda.
Depois Edwin provocou-o e disse-lhe "agora Canta filho da Puta".
Victor levantou-se e apesar de ferido cantou.
Quando o soltaram ensanguentado, e ao aperceber-se do fim pediu pedaços de papel e um lápis aos companheiros,e escreveu o que viria a ser o seu último poema , preservado até aos nossos dias no manuscrito que entregou às escondidas aos seus companheiros que depois foi entregue Joan Jara,companheira de Victor.
Victor foi depois fuzilado com 44 tiros e o seu corpo abandonado numa rua de Santiago do Chile.


Deixo-vos esse poema para que partilhem para sempre daquele que segundo as palavras de Joan Jara foi o testemunjo de Victor: "... o seu único meio de resistir ainda ao fascismo, de lutar pelos direitos dos seres humanos e pela paz".



"
Somos cinco mil
nesta pequena parte da cidade.
Somos cinco mil.
Quantos seremos no total,
nas cidades e em todo o país?
Somente aqui, dez mil mãos que semeiam
e fazem andar as fábricas.

Quanta humanidade
com fome, frio, pânico, dor,
pressão moral, terror e loucura!

Seis de nós se perderam
no espaço das estrelas.

Um morto, um espancado como jamais imaginei
que se pudesse espancar um ser humano.

Os outros quatro quiseram livrar-se de todos os temores
um saltando no vazio,
outro batendo a cabeça contra o muro,
mas todos com o olhar fixo da morte.

Que espanto causa o rosto do fascismo!

Colocam em prática seus planos com precisão arteira,
sem que nada lhes importe.

O sangue, para eles, são medalhas.

A matança é ato de heroísmo.

É este o mundo que criaste, meu Deus?
Para isto os teus sete dias de assombro e trabalho?

Nestas quatro muralhas só existe um número
que não cresce,
que lentamente quererá mais morte.

Mas prontamente me golpeia a consciência
e vejo esta maré sem pulsar,
mas com o pulsar das máquinas
e os militares mostrando seu rosto de parteira,
cheio de doçura.

E o México, Cuba e o mundo?

Que gritem esta ignomínia!
Somos dez mil mãos a menos
que não produzem.

Quantos somos em toda a pátria?

O sangue do companheiro Presidente
golpeia mais forte que bombas e metralhas.

Assim golpeará nosso punho novamente.

Como me sai mal o canto
quando tenho que cantar o espanto!

Espanto como o que vivo
como o que morro, espanto.

De ver-me entre tantos e tantos
momentos do infinito
em que o silêncio e o grito
são as metas deste canto.

O que vejo nunca vi,
o que tenho sentido e o que sinto
fará brotar o momento..."


(Victor Jara, Estádio de Chile, Setembro 1973).

3 comentários:

Silvia Madureira disse...

Todo aquele que dá a vida em troca de uma causa nobre tem o título de herói. E quantos heróis não conheço?
Às vezes as causas nobres às quais me refiro não são as que dão mais nas vistas mas ...as que estão dentro do coração de cada um que as faz...como perdoar a quem lhe fez mal, por exemplo...quem transcende o que inimaginável é um herói.
Victor foi um herói. Obrigado por o teres apresentado.
Beijo

Anónimo disse...

Arrepiei-me, de nó na garganta e lágrima a bailar...

Um bom fim de semana, em Paz
e um beijo para ti, Pedro

Maria disse...

Te recuerdo, Amanda......

E fico por aqui

Um beijo