Trago a alma apertada
Despida de sentido
Sou como um pássaro sem asas
Um conto perdido no meio ruído.
Sou nota musical fora do tom
Sátira de um poeta que foi bom
Navio sem âncora nem rumo
Caravela abandonada aos temporais
Despojos de papel na neblina
Aves perdidas nos céus
Golfinhos piloto sem norte
Parede construída sem ter fio-de-prumo
E sou de mim mesmo pura má sorte
Pelas vezes em que deixo soltar o coração
Pelas vezes em que a alma se converte na emoção
Pelas vezes em que devia ser só gelo
Mas pago os rumos todos que percorro
Por todos os beijos que não dei e pude dar.
Por todos os lábios que nos meus podiam ficar aprisionados
Por todas as outras vezes em que a palavra amor podia deles ter-se escapado.
E sei que sou do vazio de mim mesmo responsável
Por todas as tantas vezes em que bastava dizer quero e não disse
Por todas as pessoas que amei e não mereceram
Por todas as pessoas que mereciam e não amei
E sei a dor que se sente à noite
Quando um outro corpo nos faz lembrar que partiu do quarto
Quando nas quatro paredes se sente só o eco
Quando nas roupas não há outro perfume
Quando dou por mim no vazio das linhas
A matar os vazios que tenho cá dentro
Como se fosse eu que louco…
Não morresse a cada espaço
1 comentário:
lindo mesmo
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