terça-feira, setembro 09, 2008

SE EU TE ESQUECER

Se eu te esquecer
As flores deixarão de florir
As estrelas irão desertar dos céus
As andorinhas irão deixar de fazer ninhos
Os rouxinóis irão esquecer-se de cantar

Se eu te esquecer
O norte deixará de ser onde é
Os marinheiros irão perder-se no mar
As baleias não poderão guiar-se
As marés deixarão de beijar a areia

Se eu te esquecer
Deixará de fazer sentido o nascer do dia
Não valerão de nada as cores do pôr-do-sol
A noite será escura e perpétua
Prisioneira amordaçada do suceder das horas

Se eu te esquecer
As crianças deixarão de ter porque sorrir
Desalinhar-se-ão todas as notas musicais
O silencio será devastador
A pele irá enrugar-se por desistir do toque

Se eu te esquecer
Os sítios onde estivemos
Os olhares que trocamos
As conversas que tivemos
Serão escolhos de alma arrancados da imaginação

Se eu te esquecer
Irá findar-se a tua luz que trago em mim
Findar-se-ão os sonhos e a vontade de sonhar
Tornar-me-ei banal vegetativo desistente
Escoria de luz atirada pelos ventos

Se eu te esquecer
O princípio será o fim
E o fim o principio de todas as coisas
O horizonte uma prisão perpétua
O nada tudo e o tudo nada

Se eu te esquecer
Não valerá de nada o que já fui
Não quererei saber o que serei
Os abraços irão cerrar-se cansados de ser porto
Falirá para sempre o coração

Se eu te esquecer
Irei esquecer-me das viagens que não fizemos
Dos planos que não realizamos
Dos projectos adiados e adiados
Dos beijos que não ousei dar-te

Se eu te esquecer
Ficará na minha alma...
A mais rasa das tábuas
O mais desértico dos desertos
A mais inexpugnável das montanhas

Se eu te esquecer
Irei deixar-te ser ave que és para defrontares os céus
Irei deixar de querer voar sem conseguir.
Renunciarei a proteger-te
Irei enfrentar a finitude que as palavras não alcançam

Serei escolho
Vácuo,
Beata,
Resíduo,
Degredo,
...nada

serei o nada
o nada dos campos vazios onde nascem papoilas
o nada dos desertos onde despertam os rios
o nada do vento onde planam as aves
o nada desta folha branca onde escrevo tudo
o nada da alma em que se erguem os sonhos
o nada que pode ser tudo...tudo o que puder ser.

7 comentários:

Anónimo disse...

afinal perder pode ser renascer...
não tinha pensado nisso

Anónimo disse...

Há coisas que nunca se podem ou conseguem esquecer...

Anónimo disse...

Há coisas que nunca se esquecem...como uma amizade pura.
Um beijo

Walter disse...

Eu acredito que se em algum momento é preciso lembrar, então por algum momento esquecemos...que nunca te esqueças!
walter

milhafre disse...

anónimo

sim as vezes é preciso fazer do restolho novas sementeiras...


perla

talvez tenhas razão mas não podemos ficar parados no tempo, que esse algo qualquer que fica seja fonte de novas inspirações
obrigado pela tua visita, és bem vinda a este espaço


carol

que nunca consigamos esquecer as pessoas e os momentos em que fomos felizes, que saibamos viver e sonhar sempre, que consigamos ver sempre esses momentos como uma parte de nós, mesmo que perdida e nunca como uma jaula que nos aprisona a um tempo qualquer que já se foi..
obrigado pela tua visita

Mónica

doce mónica
uam amizade pura como a nossa nunca se esquece, nunca caduca, está tão presente em nós, num cantinho doce da alma.
obrigado


Walter

nunca esquecemos de facto... arrumamos num lugar especial,lima-se o vidro para que não corte com lima e água e guardasse no cantinho da luz.

bem vindo

Ana João disse...

Já não vinha aqui há tanto tempo... há demasiado tempo!
Lembras-te, quando éramos garotos e eu insistentemente dizia: não te substimes! Continuo insistente, e insisto: não páres! As coisas que tu sentes... a maneira como as sentes... Meu querido, esse livro tem que sair! Não prives o mundo dessa tua essência! Já viste se o Klimt tivesse decidido guardar toda a sua obra numa qualquer cave escura, que acabaría por arder acidentalmente, só porque achava que não era grande coisa...? Tería sido uma tragédia, não achas?
Ah! E em relação ao mimo todo com que me comentas... temos que jantar:) Continuo sem concordar!

E não esqueças, que não te quero feito em nada (como se isso fosse possivel, enfim!). Só se for mesmo um mal necessário...

Anónimo disse...

Mas que enorme e bela surpresa! Esta juventude da minha cidade, e que todos dias vejo, tem-me surpreendido pela positiva. Tu Pedro que várias vezes tens estado tão próximo de mim, e eu não te soube ler, como diz a "primogénita" esses sentimentos que tens dentro de ti e transformas em poesia, não podem ficar refens do teu "egoísmo", dá-no-los a conhecer, muitos de nós muito apreciaríam. Já tinha simpatia por ti, por vários motivos, mas especialmente por ter uma enorme admiração e amizade por teu pai, mas ontem depois de ler o comentário que fizeste à "primogénita" e te ter identificado, fiquei curioso em saber mais e hoje estou a descobrir-te um pouco mais. Vai em frente Pedro que este país precisa de Pedros como tu e "primogénitas" como ela.

Um abraço do "tio" S da primogénita.