quinta-feira, julho 10, 2008

pára

Para! não faz sentido dar corpo ao sentimento... o corpo tem coisas que não conheces... dores que não se encaixam.... sedes que não se sassiam....
Não eu não tenho medo do toque... não me assusta a pele.... não me abomina o sexo... eu simplesmente não estou para isto.... não nasci para isto....
Meti na cabeça que a essência é mais forte, que a alma tem luz, que o sorriso é vida.....
Que os olhares falam..... que há silêncios cúmplices.... que é importante estar ai.........
Que é importante estar presente....
Não... eu não entendo o queres dizer quando dizes - “tens de deixar que eu sinta a tua falta... tens de me deixar ter sede”
Mas eu quando não estou contigo tenho sempre sede... sinto sempre a tua falta.... tu não???
Quantas horas ou dias são precisos para que isso aconteça.... qual é o segredo do tempo que ainda não sei....
Que sentido faz querer falar contigo e não poder porque tenho que deixar que sintas a minha falta.....
É que eu sempre fui atras ... se gosto gosto, se gosto dou-me ... nunca entendi os meios termos, os joguinhos......
As cores da vida não me ensinaram a sedução do vermelho dos seus tons...... sempre apregoaram a transparência cálida da alma... a pureza do sonho....
É preciso ser recto e verdadeiro... foi o que aprendi com os filmes de cavaleiros andantes e cowboys com que cresci...
Sempre me entreguei todo... qual é a metade que não posso dar-te para que sintas falta dela.... diz-me... como posso esconder-te essa metade...
Eu nunca quis nada disto....porra... mergulhar nos teus olhos sempre foi muito mais que qualquer outra coisa.....
Sempre foi muito mais que .... tudo....
Eu só queria ser ave.... sabes.... nunca fiz parte deste jogo... nunca aprendi as regras..... os códigos... o não mostrar o baralho... o não dar tudo logo.... o não ser assim logo ...
Para mim um sim é um sim e um não é um não... ainda não entendo os sins e os nins... nem essa coisa abstracta que é o “não mas fiquei a pensar”... ou o “sim e depois se vê”
Abomino a incerteza e o “não é definitivo mas sabe bem....saboreia” ... e depois sempre desprezei as curtes ........
Cada gesto é demasiado valioso para ser mandado ao ar....
Quando se beija mesmo que para “experimentar” ficasse preso...dá-se sempre alma e
quando se da a alma ficasse agarrado... deixasse de ser um... não se fica indiferente... quando se dá a alma... abdicasse de ser uno para só se conseguir ser uno com qualquer coisa que nos é dado pela pessoa amada... e a pessoa amada só fica una com qualquer coisa que lhe demos quando abdicamos de ser perfeitos para amar.
Já alguma vez reparas-te que o coração que aprendemos a desenhar desde miúdos não é um coração apenas mas dois corações sobrepostos unidos entre sí... não um elemento único mas duas metades esquerda e direita que se unificam para dar a algo novo.
Como é que se abdica disso.... como é que se fica depois de se dar e se perder????
No amor como na guerra depois da batalha os corpos moribundos jazem pelos campos e os despojos espalhados são entregues ao vencedor......
No amor como na guerra ganha-se e perde-se, erra-se o alvo.....Fintasse a vida.....
O problema é que com o fim dos anos perder a batalha se torna cada vez mais avassalador... as feridas do velho guerreiro saram mais dificilmente, as cicatrizes ficam mais duras...
E se eu não conseguir sarar as feridas depois de tu deixares de me querer???
E se eu não conseguir abdicar da tua metade que me deste e que mora em mim????
E se eu gostar do teu beijo.......??
E se eu quiser que o beijo seja para sempre...???
Se me apetecer parar o tempo....???
Dar-te um beijo seria como ser cego e ser-lhe dado o prazer de ainda que por segundos voltar a ver a luz...
Como ficarei eu depois de ser devolvido à escuridão....
Como ficarei eu depois de ver as cores da vida.... as formas das coisas forçado a abdicar delas...
Como voltarei eu à negritude forçada depois de ter visto o meu mundo todo alterado... depois de me ter sido possível mergulhar em algo muito mais luminoso...
Como poderei eu mover-me se a percepção que tinha das coisas nunca mais será a mesma....
Pára .....
Espera....
Não... não tem a haver contigo...
Não... não perdi o interesse...
Não... não há outra...
Eu só tenho medo de ficar ligado a ti...
De não conseguir depois voltar a ser o que sou...
De não conseguir viver depois de te ires...
De beijar o lado de lá da lua, aquele lado que é reservado aos sonhos e aos elfos..
E depois como terrequeo finito que sou ter de viver sem ve-lo.....
De não conseguir nunca mais... respirar longe dos teus lábios...
De não conseguir voltar a ir-me...

7 comentários:

pikenatonta disse...

Beijinho grande e bom fim de semana!

Maria disse...

As angústias que vamos tendo aqui tão bem descritas...

Um beijo

Silvia Madureira disse...

Olá:

Texto deveras romântico!
Romântico porque brota sensibilidade em cada palavra...
É um romantismo do mais puro que pode haver, tal como vemos nos filmes de época, nos quais existe ali um toque e foge e ficámos todos arrepiados até ao momento do beijo! Aquele momento, sofrido na sua antecedência, que nos leva a ficar atentos e cujos actores conseguem transmitir tão bem aqueles sentimentos ...que ficámos em êxtase e sem palavras perante tal cena...muitas vezes caiem lágrimas...é o meu brando costume.

beijo

Anónimo disse...

Companheiro de viagem,
já te disse todas as palavras, agora penso que apenas falta aquele abraço para que fique tudo dito.
Não deixes de sonhar e principalmente, não deixes de acreditar e lutar pelo sonho:)
Beijinho no teu coração

Anónimo disse...

depois deste texto de todos os sentidos, como se todos mesmo nao existindo fossem possíveis pelo amor só me ocorre dizer o fim de uma éspecie de poema que me surgiu numa tarde em que pensei que todos eles existiam por serem tao possíveis mesmo na guerra que se perde, aqui fica.. "Pára. Não dizer nada é adivinhar te já. É amar te para sempre".
Folhas de papel e o mundo continua a construir se fora de nós.

um beijo *


Menina do Olhar

milhafre disse...

pikenatonta

obrigado pela tua visita... pela tua garra.. pela tua energia... pelo exemplo que es...
pela tua amizade.
sonha.

beijo amigo

Maria

obrigado pela tua visita,mais do que as angustias houve o sonho...
em breve voltara a haver luz.

silvia

obrigado pela tua presença constante.
beijo amigo.

Flor do Luali

obrigado pelo jardim que trouxeste aos dias.
estou a aprender que a há sonhos floridos.

Carol

sra lutadora...
se é verdade que há sonhos e angustias.. há também a certeza de que o chão cheio de restolho é solo favorável a novas sementeiras.

beijo


rabiscos....

bem vinda de volta...
afinal estava com saudades de ti...saudades dessa tua escrita que nos envolve.
adorei a forma como continuas o que escrevo...

beijo

vou ao teu espaço em breve

Anónimo disse...

Obrigada, por mais uma vez ter sido tão bem acolhida, apesar da ausencia das palavras, que por vezes esqueci, mas afinal os sonhos não morrem e o poema pode sugir.

um beijo *