Porque ando sem inspiração, ou talvez porque ando tão inspirado que não consigo soltar-me no papel...
Resolvi deixar um texto de Al Berto, talvez por saber que adoras este poeta, mas sobretudo porque este poema tem algo do tanto que eu sinto e não sei escrever.
Sabes... está a doer-me muito o fim de verão.
Beijo profundo como o mar, aquele universo hidrico feito das lágrimas que verto por não te ver.
Boa semana .
Gosto muito de ti.
Escrevo-te a sentir
escrevo-te a sentir tudo isto
e num instante de maior lucidez poderia ser o rio
as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos
nos sais de prata da fotografia
poderia erguer-me como o castanheiro
dos contos sussurrados junto ao fogo
e deambular trémulo com as aves
ou acompanhar a sulfúrica borboleta
revelando-se na saliva do lábios
poderia imitar aquele pastor
ou confundir-me com o sonho de cidade
que a pouco e pouco morde a sua imobilidade
habito neste país de água por engano
são-me necessárias imagens radiografias de ossos rostos desfocados
mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos
repara nada mais possuo a não ser este recado
que hoje segue manchado de finos bagos de romã
repara como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar
Al berto in «Trabalhos do Olhar», 1976/82: Filmagens, 1980/81
1 comentário:
Não conhecia este poeta!
Mas gostei...
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