quinta-feira, abril 13, 2006

coisas que pensei hoje....

Há coisas que acontecem assim, ontem deitei-me com uma luz no coração e sem saber porque passei a noite em claro, deixei-me sem motivo de maior, sem qualquer razão especial para tal, observar a noite e o nascer do dia pelas friestas da persiana que me tinha esquecido de fechar,.
Fiquei quedo e deitado a ver as cores que iam surgindo pelos buraquinhos da persiana, os laivos de luz que invadiam o tecto de quando e que se prolongavam depois para dentro da porta entreaberta do armário do meu quarto, como se buscassem refúgio.
Confesso-vos que na cama me deixei viajar pela interrogação de quem seriam as pessoas que passavam na rua aquela hora da noite, confesso-vos que em alguns casos imaginei enredos secretos, mesmo proibidos, vidas misteriosas como só podem ser as vidas de quem anda na estrada as 3 ou 4 da manhã, imaginei para onde iriam, se teriam alguém à espera, se quando regressassem, onde quer que fossem, iriam sentir-se em casa, se poderiam ao contrário de mim sentirem-se num porto de abrigo e abraçarem o legado de orfeu.
Mais tarde fui-me apercebendo do clarear do dia, do toque laranja do sol e da forma como pouco a pouco o céu ia ficando azul e fui libertando os meus ouvidos ao ponto de testemunhar o cantar de um velho galo das redondezas e de sonhar dançar ao som do chilrear dos pássaros.
Depois e porque o trabalho não perdoa as noites mal dormidas levantei-me da cama e sai à rua com uma vontade de pisar suavemente cada pedrinha da estrada, como se as quisesse saudar... e fi-lo como se percorresse aquele espaço pela primeira vez, como se não fosse uma rotina diária, estática, amorfa.
No trabalho, antes da porta abrir dei por mim a pensar em algumas frases que o Miguel do teato diz na peça por um tempo ainda, e atrevi-me a brincar com elas, com a ajuda da transcrição que a Catarina fez para o blog dela, numa brincadeira que originou o texto que se segue... pois a brincar a brincar, aprende-se a dizer tudo...




Porque quer queiramos quer não no dia a dia .... “ Atravessámos paisagens de interesse desigual, aturámos enxames de pessoas e, entre risos e lagrimas e cantos e silêncios, rastejámos por esse tubo de ensaio, o Universo, que um velho louco ou sábio ou distraído, mas seguramente bastante decrépito, empunha, em suas mãos tremulas, descarnadas”.
Talvez porque as vezes achamos os outros autómatos “ porque eles teimam em agarrarem o tempo e não abrem as mãos, deixando a areia correr, livre, livremente, por entre os dedos” mas acabamos por descobrir que somos tão autómatos como eles.
A vida ensinou-me que “é sempre bom desconfiarmos das palavras” e que “para ganhar pode ser preciso perder tudo...Pois não terá ido mais longe aquele que tudo perdeu?” e não será o nada a libertação suprema para podermos abraçar tudo ???
Porque invariavelmente “a história incita-nos a esperar diariamente o impossível agarra-lo pelas orelhas, é o nosso privilégio” .
Descobri que “nos jogos de Amor, ganha aquele que for mais longe” pelo que tenho de começar a deixar os sentimentos vir a luz do dia até porque “ é sempre bom abraçar alguém” mesmo que “seja da natureza dos encontros serem breves” .
Cheguei a conclusão que é tempo de arriscar o tudo, pois mesmo que o dia seja mau e “nas ruas corra um vento agreste. Às vezes faz calor”, e com o calor, há sempre um sopro de esperança, simplesmente porque “ quem sabe .... Pode ser primavera”

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei.