quinta-feira, novembro 03, 2005

hoje II

Hoje não me apetece
sequer pensar em correr
Começo a pensar
que não faz sentido
andar de lés a lés

Não é mais feliz
quem anda sempre
a dar corda aos pés
e mesmo as flores
mais belas tem as raízes
fincadas no fundo do chão

Hoje apetece-me
parar o relógio,
todos os relógios
Atirar o telemóvel
contra a parede,
demolir a parede
e simplesmente gritar
e gritar,

Cantar e cantar
uma melodia sem tempo,
que fale de histórias
de amores felizes
que o tempo não esqueceu

Eu hoje só quero
sair à rua despido de mim
sentar-me numa esplanada
em todas as esplanadas

e falar com alguém
que ainda não conheço
só para conhecer...
sem pressões,
nem referências,
nem grilhetas

Porque hoje só quero
beber desse sorriso
partilhar desse olhar
e dar-me, e dar-me...
e dar-me...
...só por dar

Hoje apetece-me
por um chapéu de palha
vestir o fato de banho
e mergulhar num regato,
todos os regatos
mar de sonhos
recriados em brincadeiras
dos meninos que já fomos

Eu hoje só quero
largar o fato e a gravata
Vestir-me de alma
E luz
Jogar futebol descalço
e fintar como o Feher fintava
e voar para as bolas
como o Damas defendeu

Ai quem dera
voltar a ser criança,
brincar como criança
imaginar castelos,
piratas e dragões

Ai quem dera,
poder sonhar com a luz
com o Tarzan,
o Quasímodo ou o Quimera

E dizer num grito
pintado nas paredes
que se ama alguém...
até ao céu

Eu hoje só quero
parar de pensar...
de pensar e pensar
e passar a sentir...
tocar não intuir...

E abraçar, abraçar
....e parar...
atracar-me sossegado
ao corpo doce de alguém

Eu hoje só quero
gritar este grito,
sopro aflito
que invade de sonho a vida


Eu hoje preciso
partilhar esta dor
e deixar de sentir...
intuir, intuir

Saber os rumos
que hão-de vir
recriados nas estrelas
que há no céu

Eu hoje só queria
Dar vida, ser vida....
Sentir que não me vou
Na indiferença

Saber quem sou
...na poesia
neste calor que trago
no peito e não sei guardar

eu hoje só quero...
sonhar....
sonhar....
e amar

amar alguém
até ao fim dos dias
até ao fim da alma
neste ou noutro tempo
em cada restício
alado de calma
que me tolda
o pensamento

E eu hoje só queria
Sonhar-te sem fim
Tornar-te folia de mim
Tornar-me folia de ti
Saltimbancos
De um trapézio louco
Suspenso no céu

E eu hoje só queria
Ser voz e canção
Dar vida a canção
Dos dias que trago
sem pensar
dos medos que sinto
sem viver
desta raiva
que não vai parar
se não escrever

2 comentários:

Anónimo disse...

Pedrão ganda poema, tava a ver k nunca mais acabava... agora se o teu estado de epirito, estiver descrito neste poema, então estamos mal! Este poema fez-me passar um sentimento de alguma frustação,( ñ sei se a minha leitura é correcta ),com a vida, que espero não seja este o teu caso pessoal. Quanto há tua veia poética, é sem dúvida um dom que nasceu contigo, e que deves explorar até à exaustão. Já sabes que tens aki um amigo,com quem podes contar sempre! Abraço

milhafre disse...

bruno

obrigado por esta manifestação de amizade.
Como te disse quando te telefonei este poema não foi escrito agora, tem alguns meses.
em relação ao poema o teu entendimento foi correcto. Ele foi escrito numa altura em que o rumo da minha vida estava a fugir de mim como se fossem grãos de areia na palma da minha mão.
Agora estou a controlar as coisas, é bom saber que posso contar com amigos como tu. Continua a vir cá.

abraço forte

pedro

1:54 AM, November 04, 2005