Dois anos passados..
Lembro-me deste dia como se fosse hoje, do levantar cedo num fim de semana. Do acordar com garra..
Da certeza de que o desafio seria imenso.
Lembro-me da tristeza espelhada no meu rosto qd percebi ainda mais por dentro da dimensão da tragédia...
Lembro-me de ter perto dois olhos que já sabiam o que ia ver e de ter avançado à medida que eles iam avançando.. Porque se eles avançam não tinha que haver medo..
Lembro-me de ir com esperança de deixar lá algo, uma pequena marca. O meu não conformismo... Qualquer coisa que pudesse mostrar aos nossos filhos, aos nossos sobrinhos que não nos vergamos... Que fizemos algo. Que tentamos fazer algo que fosse nascimento.... Vida... Algo que desse um sinal que superasse a devastação.
Sim eu sabia dos fogos, sim eu já tinha, nos já tínhamos estado numa ação de limpeza anterior, mas está era a primeira vez que eu me aventurava naquela parte do deserto forçado onde antes havia matas frondosas. Onde antes polulava vida e agora havia apenas um chão cinzento.
Depois de reunirmos começamos a plantar... Eu ia abrindo buracos, a outra pessoa que sempre teve gestos mais doces que eu ia segurando com afinco a árvore, como se segurasse a vida. Depois de plantadas e regadas marcamos cada uma das várias árvores por forma a que não fossem pisadas.
Foram cerca de 100 árvores plantadas por todos, aliadas a muitas outras plantadas por outros elementos do grupo nos dias anteriores
.
Lembro-me do lanche partilhado na pausa.... De uns fabulosos pastéis de bacalhau que alguém levou, de ter bebido uma cerveja, o que aqueles tempos era coisa rara para mim... Do sucesso das bolachas de cereais e chocolate que nos levávamos e que ela teve o cuidado de comprar...
Lembro-me de depois de contemplado o feito termos decidido limpar e manter o que tinha sido já feito tendo eu ficado no grupo das coisas pesadas e ela ficado na batalha contra as acácias.
Lembro-me de quase quedas que geraram risos e que ficaram perpetuadas em fotos. Lembro-me do corpo sujo, dos cães vadios que por perto eram matilha e que actuando em matilha fizeram que tivéssemos medo, Lembro-me de termos medo e não termos arredado ...
Nunca esquecerei depois de recolhido o lixo o facto de ter tentado juntar-me ao grupo das acácias.. Depressa percebo a minúcia da tarefa, a importância de distinguir a plantinha. Boa de uma má, a serenidade que era exigida... Tive um orgulho imenso na pessoa, nas pessoas que com afinco estavam a fazer isso embora não o tenha dito, sabe-se lá porquê não o disse, tantas vezes o senti e não o disse.
Terminado o programa recolhemos os lixos e matérias e zarpamos. Lembro-me de olhar pelo retrovisor e achar que tinha feito algo, que a missão tinha começado a ser cumprida.
Pensava eu, pensávamos nos ter sido parte da subtil diferença.
Não sabíamos nos que máquinas iriam pisar árvores não olhando as marcações... Que apesar do esforço de muitos que voltaram lá vez após vez com garrafões... Que a entidade que devia ter cuidado da mata antes dela ter ardido, não cuidaria do que fizemos embora tenha sido tudo sinalizado, embora fosse na área por eles aprovada.
Mas nada ou quase nada foi feito.
Morreram quase todas as árvores que plantei, quase todas as árvores plantadas pelo nosso grupo, quase todas as árvores plantadas por tantos outros grupos.
Dois anos volvidos a mata continua um quase deserto do nosso fracasso coletivo, tal como a minha alma reflete o deserto do meu fracasso pessoal.
Raramente passo lá.
Não gosto de voltar a sítios onde fui feliz..Não sei porque..
Talvez por ver o deserto cinzento onde outrora sonhei verde.
Ou por me ter sonhado verde e perceber que afinal era cinzento...
As vezes qd chove, pergunto-me se lá no meio das acácias que acabaram por vencer.. Se no meio da areia cinzenta que ainda impera, marco da nossa tragédia colectiva, ainda sobreviverá uma das árvores que plantamos, uma sequer bastava para dar sentido e ser raiz dos sonhos.
Porque as vezes basta isso.. Um pequeno sopro de vento para acender esperança.
Lembro-me deste dia como se fosse hoje, do levantar cedo num fim de semana. Do acordar com garra..
Da certeza de que o desafio seria imenso.
Lembro-me da tristeza espelhada no meu rosto qd percebi ainda mais por dentro da dimensão da tragédia...
Lembro-me de ter perto dois olhos que já sabiam o que ia ver e de ter avançado à medida que eles iam avançando.. Porque se eles avançam não tinha que haver medo..
Lembro-me de ir com esperança de deixar lá algo, uma pequena marca. O meu não conformismo... Qualquer coisa que pudesse mostrar aos nossos filhos, aos nossos sobrinhos que não nos vergamos... Que fizemos algo. Que tentamos fazer algo que fosse nascimento.... Vida... Algo que desse um sinal que superasse a devastação.
Sim eu sabia dos fogos, sim eu já tinha, nos já tínhamos estado numa ação de limpeza anterior, mas está era a primeira vez que eu me aventurava naquela parte do deserto forçado onde antes havia matas frondosas. Onde antes polulava vida e agora havia apenas um chão cinzento.
Depois de reunirmos começamos a plantar... Eu ia abrindo buracos, a outra pessoa que sempre teve gestos mais doces que eu ia segurando com afinco a árvore, como se segurasse a vida. Depois de plantadas e regadas marcamos cada uma das várias árvores por forma a que não fossem pisadas.
Foram cerca de 100 árvores plantadas por todos, aliadas a muitas outras plantadas por outros elementos do grupo nos dias anteriores
.
Lembro-me do lanche partilhado na pausa.... De uns fabulosos pastéis de bacalhau que alguém levou, de ter bebido uma cerveja, o que aqueles tempos era coisa rara para mim... Do sucesso das bolachas de cereais e chocolate que nos levávamos e que ela teve o cuidado de comprar...
Lembro-me de depois de contemplado o feito termos decidido limpar e manter o que tinha sido já feito tendo eu ficado no grupo das coisas pesadas e ela ficado na batalha contra as acácias.
Lembro-me de quase quedas que geraram risos e que ficaram perpetuadas em fotos. Lembro-me do corpo sujo, dos cães vadios que por perto eram matilha e que actuando em matilha fizeram que tivéssemos medo, Lembro-me de termos medo e não termos arredado ...
Nunca esquecerei depois de recolhido o lixo o facto de ter tentado juntar-me ao grupo das acácias.. Depressa percebo a minúcia da tarefa, a importância de distinguir a plantinha. Boa de uma má, a serenidade que era exigida... Tive um orgulho imenso na pessoa, nas pessoas que com afinco estavam a fazer isso embora não o tenha dito, sabe-se lá porquê não o disse, tantas vezes o senti e não o disse.
Terminado o programa recolhemos os lixos e matérias e zarpamos. Lembro-me de olhar pelo retrovisor e achar que tinha feito algo, que a missão tinha começado a ser cumprida.
Pensava eu, pensávamos nos ter sido parte da subtil diferença.
Não sabíamos nos que máquinas iriam pisar árvores não olhando as marcações... Que apesar do esforço de muitos que voltaram lá vez após vez com garrafões... Que a entidade que devia ter cuidado da mata antes dela ter ardido, não cuidaria do que fizemos embora tenha sido tudo sinalizado, embora fosse na área por eles aprovada.
Mas nada ou quase nada foi feito.
Morreram quase todas as árvores que plantei, quase todas as árvores plantadas pelo nosso grupo, quase todas as árvores plantadas por tantos outros grupos.
Dois anos volvidos a mata continua um quase deserto do nosso fracasso coletivo, tal como a minha alma reflete o deserto do meu fracasso pessoal.
Raramente passo lá.
Não gosto de voltar a sítios onde fui feliz..Não sei porque..
Talvez por ver o deserto cinzento onde outrora sonhei verde.
Ou por me ter sonhado verde e perceber que afinal era cinzento...
As vezes qd chove, pergunto-me se lá no meio das acácias que acabaram por vencer.. Se no meio da areia cinzenta que ainda impera, marco da nossa tragédia colectiva, ainda sobreviverá uma das árvores que plantamos, uma sequer bastava para dar sentido e ser raiz dos sonhos.
Porque as vezes basta isso.. Um pequeno sopro de vento para acender esperança.
Namastê.