segunda-feira, janeiro 24, 2011

Trago

Trago a alma apertada

Despida de sentido

Sou como um pássaro sem asas

Um conto perdido no meio ruído.

Sou nota musical fora do tom

Sátira de um poeta que foi bom

Navio sem âncora nem rumo

Caravela abandonada aos temporais

Despojos de papel na neblina

Aves perdidas nos céus

Golfinhos piloto sem norte

Parede construída sem ter fio-de-prumo

E sou de mim mesmo pura má sorte

Pelas vezes em que deixo soltar o coração

Pelas vezes em que a alma se converte na emoção

Pelas vezes em que devia ser só gelo

Mas pago os rumos todos que percorro

Por todos os beijos que não dei e pude dar.

Por todos os lábios que nos meus podiam ficar aprisionados

Por todas as outras vezes em que a palavra amor podia deles ter-se escapado.

E sei que sou do vazio de mim mesmo responsável

Por todas as tantas vezes em que bastava dizer quero e não disse

Por todas as pessoas que amei e não mereceram

Por todas as pessoas que mereciam e não amei

E sei a dor que se sente à noite

Quando um outro corpo nos faz lembrar que partiu do quarto

Quando nas quatro paredes se sente só o eco

Quando nas roupas não há outro perfume

Quando dou por mim no vazio das linhas

A matar os vazios que tenho cá dentro

Como se fosse eu que louco…

Não morresse a cada espaço

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Poema para um sonho que se foi

No teu poema

Coloco o meu mundo

Destino tão solto

Meu doce fonema

Falo da alma

Que me enche os sonhos

Falo do corpo

Que se fez meu tema

Falo dos lábios

Que não toquei

Carnudos rosados

Que em sonhos beijei

Falo das tuas mãos

Perdidas nas minhas

Num encontro de dedos

Carícias divinas

Falo das lágrimas

Choradas ao vento

Quem me dera ser ombro

Para as ter suportado

Quem me dera ser anjo

Para te velar

Quando à noite o silencio

Te faz assustar

Quem me dera ser corpo

No teu enroscado

Saber-te segura

Noite a dentro ao meu lado

Embalar-te tão terna

Num abraço profundo

Ficar acordado

A ver-te sonhar

Quem me der ser ave

Para poder-te velar

Rumo ao horizonte

Na magia lunar

Porque tu és …

Rebelde maré

Bravo vento,

Mil vagas

Meu cais das tormentas

Destino traçado

Ode louca, poema

Minha perdição

Meu Caminho errado

Na senda da vida

Circe de mil histórias

Flor da paixão

Doce deusa grega

Diva de Fellini

Musa de Almodôvar

Dama de shangay

Meu canto profundo

À deriva do mundo

Princesa rebelde

Ultima salvação

Fogueira acesa, Farol

Sonho querido e guardado

Suspiro de um louco

Neste sopro cantado

Solto fogo preso

Bússola sem norte

Meu rebelde horizonte

Perdido e encontrado

porque tu es tanto, vales tanto

e eu louco sonhei

poder ser tanto...

ao teu lado