segunda-feira, junho 14, 2010

epistula finita

e amanha o céu deixará de ser azul...
e o breu será a cor negra do destino que nos percorre a alma..
e amanhã deixarão de haver poetas ...
e negro será o vazio das páginas da vida que ficaram por escrever...

eu nunca quis isto,
ter de escrever a vida como se a vivesse sem o fazer...
ter de escrever a solidão que oculta os sentidos...
esta página qualquer de alma arrancada de mim.

sexta-feira, junho 11, 2010

Escrevo sobre a vida no papel

Ou melhor escrevo sobre a minha visão da vida….

Sobre a visão que tenho do meu mundo, com toda a consciência do quão limitada é a visão das minhas vivencias perante a imensidão dos sentimentos e a grandiosidade desta mãe terra que é a nossa.

Escrevo sobre o que sinto, o que sou, sobre o que tenho e o que não tenho, sobre o que dou e o que recebo, sobre o que recebi e não soube retribuir, sobre o que dei e não cheguei a receber…

Escrevo sobre o que fiz e o que não fiz, sobre o que fiz e não devia ter feito, sobre o que devia ter feito e não consegui, escrevo mesmo sobre aquela meta adiada e adiada que sempre quis alcançar e nunca consigo. …Escrevo talvez porque não consigo

Escrevo sobre as vezes em que amei e disse presente mas também sobre as vezes em que amei e não soube dizer, sobre as vezes em que a palavra amor foi grito aos sete ventos, mas também sobre as vezes em que cada letra ficou remordida e remordida nos lábios de uma forma tão profunda que nem sequer o mais arguto dos murmúrios soube encontrar.

Escrevo sobre tudo, do infinito ao ínfimo, da luz à escuridão, do corpo à essência, das grandes causas ao nada… dos nadas aos grandes sonhos… Escrevo muitas vezes pequenos nadas que são tudo.

Escrevo às vezes para lembrar, às vezes para esquecer, às vezes por querer ficar, às vezes por querer partir, às vezes porque vivo, outras porque não vivo, às vezes porque conto, as vezes porque resto.

Escrevo acima de tudo porque me dou, nos meus poemas, neste blog, nas minhas mensagens de telemóvel, numa folha qualquer escondida dentro de um jornal, deixado ao acaso para que alguém anónimo a encontre.

Escreverei um dia nas paredes num sopro de liberdade…

ESCREVO PORQUE EXISTO….

Mesmo limitado, na minha forma (im)perfeita de ser e de me dar…

Mesmo sabendo que caio tantas vezes no ridículo…

Mesmo sabendo que estou tantas vezes isolado....

Mesmo sabendo que para muitos a escrita não é nem nunca será mais do que uma figura de estilo indiferente aos sonhos…

Mesmo não conseguindo entender como pode ser “belo” erguermos a mão contra o vazio, sabendo que ninguém a alcança.

Escrevo agora na esperança de que me leias …

Porque sei que me vais ler, sobretudo para te pedir desculpa do exagero na forma de te buscar,

Pela minha não forma de saber lidar com o tempo e a distancia…

Por não saber o sabor da ausência

Por não estar presente de outra forma…

Por não conseguir ser apenas poema escrito no papel atirado aos ventos à espera dos sonhos

Por não ser uma melhor maça, metade arrancada de mim para te entregar

Bem hajas

quarta-feira, junho 09, 2010

Anjos de uma asa só

Uma lenda que queria partilhar com voces

. . Há muito tempo atrás depois do mundo ser criado e da vida completá-lo, houve num dia, numa tarde de céu azul e calor ameno, um encontro entre Deus e um de seus incontáveis anjos. Acredita? Deus estava sentado, calado.

. . Sob a sombra de um pé de jabuticaba. Lentamente, Deus erguia suas mãos e colhia uma ou outra fruta. Saboreava sua criação negra e adocicada. Fechava os olhos e pensava. Permitia-se um sorriso piedoso. Mantinha seu olhar complacente.

. . Foi então que, das nuvens, um de seus muitos arcanjos desceu e veio em sua direção. Ele tinha asas lindas, brancas, imaculadas. Ajoelhou-se aos pés de Deus e falou:

. . -“Senhor...visitei sua criação como pediu. Fui a todos os cantos.

. . Estive no sul, no norte. No leste e oeste. Vi e fiz parte de todas as coisas. Observei cada uma de suas crianças humanas. E por ter visto, vim até o Senhor... para tentar entender.

. . Por quê?

. . Por que cada uma das pessoas sobre a terra tem apenas uma asa?

. . Nós, anjos, temos duas... podemos ir até o amor que o Senhor representa sempre que desejarmos. Podemos voar para a liberdade sempre que quisermos. Mas os humanos, com sua única asa, não podem voar.

. . Não podem voar com apenas uma asa” Deus, na brandura dos gestos, respondeu pacientemente ao seu anjo.

. . - “Sim... eu sei disso. Sei que fiz os humanos com apenas uma asa...”

. . Intrigado, com a consciência absoluta de seu Senhor, o anjo queria entender e perguntou:

. . - “Mas por que o Senhor deu aos homens apenas uma asa quando são necessárias duas asas para poder voar... para poder ser livre?”

. . Conhecedor que era de todas as respostas, Deus não teve pressa para falar. Comeu outra jabuticaba, obscura e suave. E então respondeu:

. . - “Eles podem voar sim, meu anjo. Dei aos humanos apenas uma asa para que eles pudessem voar mais e melhor que Eu ou vocês meus arcanjos.

. . Para voar, meu amigo, você precisa de suas duas asas. Embora livre, sempre estará sozinho. Talvez da mesma maneira que Eu. Mas os humanos... os humanos, com sua única asa, precisarão sempre dar as mãos para alguém, a fim de terem suas duas asas.

. . Cada um deles tem, na verdade, um par de asas... uma outra asa em algum lugar do mundo que completa o par. Assim, eles aprenderão a respeitar-se, pois ao quebrar a única asa de outra pessoa, podem estar acabando com as suas próprias chances de voar.

. . Assim, meu anjo, eles aprenderão a amar verdadeiramente outra pessoa, aprenderão que, somente permitindo-se amar, eles poderão voar.

. . Tocando a mão de outra pessoa, em um abraço correto e afetuoso, eles poderão encontrar a asa que lhes falta... e poderão finalmente voar.

. . Somente através do amor irão chegar até onde estou... assim como você, meu anjo. E eles nunca... nunca estarão sozinhos quando forem voar."

. . Deus silenciou em seu sorriso. O anjo compreendeu o que não precisava ser dito...."

. .

(Autor desconhecido).

Espero que todos nós na vida encontremos a asa que nos falta para enfim podermos voar.